Ficha do Proponente
Proponente
- ViqViçVic Junqueira Ayres Lucena (UFF)
Minicurrículo
- Realizador, artista visual e produtor não-binário. Graduado em Jornalismo pela UFPE. Em 2016, fundou o coletivo Ocupe Sapatão, produzindo e fazendo curadoria na maioria das suas edições. Desde 2015, é pesquisador independente dos estudos de gênero e sexualidade, tendo criado em 2021 o curso “Mas como assim você é não-binário?”, já com sete edições, com a proposta de ampliar o debate sobre a não-binariedade. Atualmente é mestrando no PPGCine – UFF, onde estuda o deboche no cinema cuir nordestino.
Ficha do Trabalho
Título
- Estéticas e Corpos Dissidentes no Cinema Pernambucano: os filtros do Funcultura
Seminário
- Tenda Cuir
Resumo
- O Fundo de Incentivo à Cultura Audiovisual tem sido, desde 2009, o principal mecanismo de fomento público ao cinema pernambucano. Há uma década, o edital incorporou cotas raciais e de gênero. No marco das políticas afirmativas, este trabalho busca identificar expectativas estéticas e temáticas dirigidas a cineastas negros, lgbtia+ e mulheres. Nesse contexto, o autor analisa novos desafios enfrentados na aprovação de projetos culturais e qual o espaço que o cinema cuir tem nessa dinâmica.
Resumo expandido
- Criado em 2009 pelo então governador Eduardo Campos, o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura Audiovisual tem sido o principal fomento público à produção audiovisual independente no estado, com cotas de gênero e raça implementadas há apenas uma década. Desde 2015, órgãos da sociedade civil ano após ano vigiam e garantem que as cotas sejam devidamente efetivadas e uma distribuição mais equânime aconteça dentro da cadeia de produção audiovisual do estado. Entretanto, o próprio texto do edital faz delimitações que terminam por restringir estética e tematicamente os projetos selecionados. As produções precisam atender a uma concepção superficial de política. Essa atmosfera no cinema pernambucano deu origem a processos dissidentes, tais como o Surto & Deslumbramento.
Entre meados dos anos 2010, surgiu o coletivo Surto & Deslumbramento, em 2012, formado por André Antônio, Chico Lacerda, Fábio Ramalho e Rodrigo Almeida. Os quatro realizadores e pesquisadores se aproximaram de maneira espontânea pelo desejo de produzir na linguagem do audiovisual obras que destoavam desse cinema que se dizia sério e engajado, como eles próprios afirmam em entrevista dada à Revista Cinética em 2021. Rodrigo Almeida descreve a produção que ganhava destaque nessa época como “tudo muito hétero e sério, num misto de autoimportância e autocomplacência, o sério como sinônimo do bom, do político, do posicionado, do bem feito” (2021).
Neste contexto, o Funcultura tem se modificado, abarcando novos marcadores sociais, porém com distribuições percentuais equivocadas e com incongruências já amplamente apontadas pela sociedade civil, o fato de pessoas transmasculinas e não-binárias terem menos acréscimo de nota do que mulheres cisgêneras, por exemplo. Ao longo deste trabalho, almejo explanar como as políticas afirmativas nos moldes atuais do Funcultura são insuficientes para garantir uma pluralidade estadual no que diz respeito à estética e às temáticas de obras produzidas por grupos minoritários. Como fala explicitamente o cineasta Felipe André Silva, apenas algumas coisas são permitidas a quem opta pelo uso das cotas.
“Desde que comecei a fazer filmes sempre me foi apontado que eu deveria me beneficiar da minha etnia e da minha atual condição de classe, que voltou a ser baixa, para acessar vias de fomento, o que seria apenas o uso de uma ferramenta que já existe. No entanto, ao tentar acessar esses espaços usando a pecha de ‘cineasta preto, favelado, lgbt’, o obstáculo que surgia, e surge, com mais frequência, é o fato dos filmes não dizerem o que se espera deles”. (2022).
De certo que esse crivo não é uma regra absoluta e a rotatividade de pareceristas ano a ano amplia as possibilidades de cineastas terem seus projetos menos normativos aprovados, mas tanto no cenário local quanto nacional, filmes com temáticas e estéticas cuir ainda encontram dificuldades em todos os seus processos de feitura, seleções para obtenção de recursos sendo um deles. Para desenvolver essa investigação, entrevistas com cineastas de Pernambuco e análises dos textos de editais passados serão feitas, para destrinchar tanto os documentos e o que dizem a respeito das estéticas e temáticas desejadas, quanto as vivências das mulheres, pessoas negras e pessoas dissidentes de gênero e sexualidade que fazem uso desse recurso público.
Bibliografia
- – Revista Cinética. “As frívolas arrasam!” – Entrevista com o coletivo Surto & Deslumbramento Acesso em 06/04/2025:
– Indeterminações. “Breve Relato de Inadequação” – Felipe André Silva Acesso em 06/04/2025:
– SILVA, Renato Kleibson da. O som ao redor do baile: retomada e pós-retomada no cinema produzido em Pernambuco. 2015. 115f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.