Ficha do Proponente
Proponente
- Rebeca Franco Fonseca de Freitas (UFPel)
Minicurrículo
- Mestranda em Artes pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), na linha de pesquisa Educação em Artes e Processos de Formação Estética. Pesquisadora no PhotoGraphein – Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação. Graduada em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição. Finalista do Prêmio ABC 2023 como melhor direção de fotografia universitária com o curta Madrugada (2022). Também dirigiu e roteirizou o curta Comboio pra Lua (2020), selecionado em festivais como Gramado e Tiradentes.
Ficha do Trabalho
Título
- Por uma estética de cinema sustentável: Renée Nader Messora e o analógico na direção de fotografia
Eixo Temático
- ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL
Resumo
- Este artigo analisa os filmes Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos (2019) e A Flor do Buriti (2023), com o foco no trabalho da direção de fotografia de Renée Nader Messora em ambos os filmes. As obras revelam a fotografia analógica como uma escolha estética e política. Dessa maneira, o trabalho busca compreender como as perspectivas visuais podem suscitar reflexões sobre memória e discursos socioambientais em um contexto contemporâneo predominante digital
Resumo expandido
- Os filmes Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos e A Flor do Buriti são dirigidos por João Salaviza e Renée Nader Messora, que assina sozinha a direção de fotografia. Tais obras foram realizadas com câmeras analógicas e propõem uma construção que perpassa a mistura de registros ficcionais e documentais.
A narrativa do primeiro se passa em Tocantins, na aldeia Pedra Branca. Acompanha a trajetória de Ihjac, um jovem da etnia Krahô; que depois da morte do pai decide decide partir em busca de uma jornada de autoconhecimento. O personagem se vê desafiado a salvar a memória e a ancestralidade dos antepassados.
Já A Flor de Buriti discute temas relativos à ancestralidade e à contemporaneidade do povo Krahô. Entre memórias, passado, presente e futuro, a temporalidade desvela-se de maneira espiralar (Martins, 2021): o passado está no presente, e essas duas esferas se misturam ao futuro.
Nesse sentido, é possível considerar que nas duas obras a narrativa visual apresenta-se de forma estética e inventiva com a escolha da direção de fotografia em trazer o analógico para ser revelador dessas histórias. Emergindo também reflexões acerca da sustentabilidade em um contexto predominante digital e de consumo desenfreado.
Dessa maneira, a direção de fotografia das obras mencionadas entende a imensidão do ecossistema em que está inserida ao optar pelo uso da técnica analógica. A pratica necessita de mais atenção àquilo que passa despercebido pela correria que implica viver sob condições capitalistas de produção acelerada (Han, 2024), frequentemente associada à rapidez da fotografia digital.
A aldeia precisa de uma captação mais atenta, com uma temporalidade contracorrente da aceleração e dispersão que se apresenta no contemporâneo, portanto mais condizente com um registro analógico. Nesse sentido, Krenak (2019) reflete a importância de escutar a natureza para combatermos a depredação dos ecossistemas e incentivar a conexão com o meio ambiente.
Esta pesquisa aporta-se no método de análise fílmica (Vanoye e Goliot-Lété, 2005), pois está a procura de uma reflexão sobre a prática da fotografia analógica no cinema como um movimento contra hegemônico, a fim de uma maior percepção do cotidiano, desnaturalizando os lugares de poder que são colocados como naturais pelo capitalismo.
Embora não haja um momento específico em que a conexão da fotografia com a memória tenha surgido, a interseção entre esses dois temas tem sido discutida ao longo da história da fotografia (Sontag, 2004), refletindo a natureza humana de desejar preservar e compartilhar lembranças visuais. Algo que é cada vez mais difícil pela superabundância de imagens contemporâneas (Calvino, 1990) e por isso se faz crucial o movimento contrário, buscando a reflexão sobre a produção de fotografias analógicas.
A pesquisa justifica-se pela produção de pensamentos e estudos acerca dos enfrentamentos sociais e econômicos de toda uma geração representados no cinema. Morin (2000) defende que se precisa fazer um movimento contrário e inesperado em busca de viver poeticamente. O autor vê no estudo uma ferramenta crucial para superar as limitações do pensamento capitalista e argumenta que uma educação orientada para a complexidade e a interdisciplinaridade pode ajudar a formar cidadãos capazes de compreender e enfrentar os desafios globais, promovendo uma sociedade mais justa e sustentável.
Nesse sentido, a hipótese da pesquisa é que a direção de fotografia nos filmes Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos e A Flor do Buriti estabelece uma perspectiva estética em defesa do meio ambiente e das comunidades indígenas. Portanto, o problema instaurado busca perceber como os elementos fotográficos analógicos se conjugam para representar um cinema em diálogo com a ecologia e contribuem para pensar em uma produção mais consciente. Nesse sentido, o trabalho compreende o analógico como uma prática em favor da emergência socioambiental, constituindo o cinema como um espaço de resistência.
Bibliografia
- BAZIN, André. Ontologia da imagem fotográfica. In: Cinema: ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.
BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação no cinema. Campinas: Papirus, 2008.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
FALCÃO, Filipe. Introdução a direção de fotografia: como transformar o seu roteiro em filme. São Paulo: Gênio editorial, 2024.
HAN, BYUNG-CHUL. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2024.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2ª ed., São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2000.
SONTAG, Susan. Sobre a fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne . Ensaio sobre a análise cinematográfica. 3.ed., Campinas, SP: Papirus, 2005.