Ficha do Proponente
Proponente
- Danielle de Souza Menezes (UFF)
Minicurrículo
- Danielle Menezes é doutoranda nos Programas de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (UFF) e em Artes, Cultura e Linguagens da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É mestra em Artes, Cultura e Linguagens pela UFJF, na linha de pesquisa em Cinema e Audiovisual, onde investigou a composição do espaço no filme Hotel Monterey, de Chantal Akerman, a partir de uma abordagem comparativa com os conceitos desenvolvidos por Gertrude Stein em suas peças-paisagens.
Ficha do Trabalho
Título
- Jeune femme à sa fenêtre lisant une lettre, de Rousseau, e as naturezas-mortas de Cézanne
Resumo
- Este trabalho investiga o espaço fílmico em Jeune femme à sa fenêtre lisant une lettre (1983), de Jean-Claude Rousseau, em diálogo com as naturezas-mortas de Paul Cézanne. Embora o título remeta a Vermeer, o filme revela maior afinidade com Cézanne, sobretudo na fragmentação geométrica do espaço. A luz natural, os espelhos e os rolos de filme marcam o tempo e compõem a cena, enquanto a presença de um livro sobre Cézanne sugere a influência de sua pintura na construção visual do filme.
Resumo expandido
- Neste trabalho, investigo o espaço fílmico na obra Jeune femme à sa fenêtre lisant une lettre (1983), do cineasta experimental Jean-Claude Rousseau, e procuro estabelecer uma relação com os métodos e as pinturas de Paul Cézanne, especialmente suas naturezas-mortas. Rousseau dedica-se ao estudo de um espaço interior: uma sala onde a variação da luz vinda de uma janela, as possibilidades de poses diante do espelho e os rolos de filmes numerados definem o tempo e a pesquisa cênica. O título do filme remete à pintura de Johannes Vermeer, Moça lendo uma carta à janela (1659), configurando-se, de fato, como um estudo sobre a obra do pintor holandês.
Entretanto, em uma cena do filme, o diretor seleciona um livro sobre Cézanne para ser mostrado em um longo plano. No espaço da sala filmada, há alguns objetos, entre os quais se destaca o livro. A aparição do livro sobre Cézanne pode parecer deslocada em um filme que parte de um estudo minucioso sobre a pintura de Vermeer. No entanto, observa-se que a fragmentação das janelas e paredes da sala, bem como a reconfiguração dos objetos e do corpo ali presente, aproxima-se mais da esquematização geométrica das composições de Cézanne do que da espacialidade vista nos interiores domésticos recorrentes nas pinturas de Vermeer.
Assim, o objetivo deste trabalho é compreender como o livro de Cézanne, exibido em apenas uma cena do filme de Rousseau, pode revelar análises implícitas em Jeune femme à sa fenêtre lisant une lettre, considerando que o filme é frequentemente discutido em relação à pintura de Vermeer. Minha hipótese é que, por meio desse detalhe – o livro –, o filme destaca a influência de Cézanne em sua forma de composição.
Para Rousseau o acúmulo de planos nos rolos de filmes em 16mm é o que possibilita a composição do filme, que está sempre em processo de criação. Ele rejeita o termo “montagem”, pois não é o pensamento de montagem que determina a obra, mas sim as combinações que se formam no próprio ato de fazer. Nesse sentido, os intervalos e as mudanças no espaço proporcionam o sentido do plano, ou seja, impõem um ponto de vista em que as linhas e a ilusão de profundidade evocam uma aproximação com a pintura de Vermeer.
Porém, percebemos uma serialidade no filme de Rousseau, até mesmo em relação às pinturas de Vermeer. Ele combina três obras do pintor: no título, Moça lendo uma carta à janela; na composição, Mulher de azul lendo uma carta; e, em uma das cenas, exibe a pintura Mulher jovem com um colar de pérola. Dessa forma, a simplificação dos objetos, considerando as relações entre eles; a simultaneidade dos pontos de vista, obtida por meio de espelhos e diferentes posicionamentos dentro de um plano extenso; as texturas e o tempo da película nos rolos de filme; bem como a atenção aos espaços e à luz, são observados e abordados no filme e relacionados às obras de Cézanne, que, por meio da pintura, se caracteriza por apresentar elementos semelhantes.
Bibliografia
- ARASSE, Daniel. Le détail: pour une histoire rapprochée de la peinture. Paris: Flammarion,
1992.
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