Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Júlio Cesar Cruz Alves (UAM)

Minicurrículo

    Pesquisador em comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi. Estágio doscente pela Universidade Anhembi Morumbi. Arqueólogo membro de equipe de pesquisa em cinco pesquisas pela Zanettini Arqueologia (2022-2023), uma pesquisa pela Arqueologika (2023) e quatro pesquisas pela A Lasca Arqueologia (2024-2025).

Ficha do Trabalho

Título

    O audiovisual como ferramenta de revisão da história e memória: Um caso Brasil Paralelo

Eixo Temático

    ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS

Resumo

    Este trabalho observa como o filme “1964: O Brasil Entre Armas e Livros” (2019) da empresa Brasil Paralelo, vendido como documento histórico, utiliza o estilo clássico do documentário, socialmente prestigiado como representação da verdade, para legitimar sua obra e propor um novo entendimento da história e da memória da Ditadura Civil Militar Brasileira (1964-1985) visando influenciar a política brasileira para um rumo mais conservador e liberal.

Resumo expandido

    Na primeira metade da década passada, a partir da insatisfação de muitos brasileiros com a administração pública, se teve inicio uma série de eventos que foram responsáveis pela ascensão de uma política conservadora e liberal. Em 2013 houve as jornadas de junho, uma série de manifestações que tinham como sua principal reivindicação o aumento da passagem (Mariana Schreiber, 2023). Em 2015 ocorreram manifestações contra o governo de Dilma Rousseff que se perpetuaram até 2016 (Liz Batista, 2016), no qual teve como conclusão o seu impeachment em agosto de 2016 (Agência Senado, 2016). Nesse mesmo mês, foi fundada a empresa Brasil Paralelo.
    A Brasil Paralelo, fundada em Porto Alegre (2016), durante a crescente popularidade conservadora e liberal, é uma empresa privada autodenominada de jornalismo, entretenimento e educação. Produzem filmes, vídeos, podcasts, cursos, palestras e gerenciam uma plataforma de streaming. Possuem mais de 4 milhões de inscritos no Youtube e mais de 400 mil assinantes na sua plataforma. Possuem como missão resgatar os bons valores, ideias e sentimentos no coração de todos os brasileiros, ideia associada a uma economia liberal e costumes conservadores. Além disso, possuem como valor a verdade. A verdade é entendida como algo claro e certo, sem interpretações ou particularidades, é uma ideia concreta e que está sob conhecimento dos membros da empresa.
    Assim, em 2019, é publicado o que viria a se tornar o filme mais famoso da empresa, “1964: O Brasil Entre Armas e Livros”. A obra apresenta uma nova perspectiva sobre os acontecimentos da Ditadura Civil Militar Brasileira (1964-1985). Assumindo que existe um controle dos fatos e uma manipulação do que é ensinado nas escolas, a obra apresenta o lado dos militares, justificando suas ações. Para a legitimação da construção da narrativa do filme, é justificado a participação de uma série de especialistas que são de agrado da equipe, além de pesquisas particulares. Isso se deve à falta de credibilidade que a empresa atribui as instituições públicas de ensino, a qual deslegitimam ao acusar de serem doutrinadoras de uma visão de extrema esquerda e de esconderem a verdade.
    O filme apresenta uma montagem de documentário clássico (Bill Nichols, 2001), no qual uma série de imagens de arquivo são apresentadas durante asserções, além de entrevistas com especialistas. Para a construção da narrativa, são utilizados 4 meios. O primeiro sendo a construção do vilão. Assim, para justificar as ações dos militares, é justificado que existia a ameaça do comunismo e dos comunistas, entendidos como a oposição aos militares e que possuíam o objetivo do mal pelo mal. O segundo meio é a linguagem, acolhedora ao falar dos militares, e agressiva aos falar da oposição. O terceiro é o controle da história e dos fatos, assim, a história apresentada é feita a partir de uma ótica que favoreça a narrativa favorável aos militares. A quarta é a montagem. A escolha da música, da imagem e dos efeitos aplicados são feitos para fortalecer e justificar as asserções.
    A apresentação tem o interesse em observar como a Brasil Paralelo utiliza de produções audiovisuais, a partir do filme “1964: O Brasil Entre Armas e Livros”, para enfraquecer os prestigio das instituições de ensino e órgãos públicos, desenvolver o medo de um inimigo imaginário na população para que possam apresentar sua verdade, visando influenciar os rumos da política brasileira para uma visão mais conservadora e liberal enquanto lucra com ela.

Bibliografia

    BATISTA, Liz. Cronologia: protestos de 2015 a 2016. Estadão, 11 de março de 2016. Disponível em: https://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,cronologia-protestos-2015-a-2016,12157,0.htm. Acesso em: 30/03/2025.
    FICO, Carlos. Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas [1]. Revista Tempo e Argumento, v. 9, n. 20, p. 5-74, 2017.
    FINGER, Vinícius. História, Mídia Digital e Anti-ciência: A quimera narrativa do canal Brasil Paralelo. Historiæ, v. 12, n. 2, p. 83-104, 2021.

    LINDEPERG, Sylvie. El camino de las imágenes. Prometeo Libros, 2019.
    NICHOLS, Bill et al. Introduction to documentary. Indiana University Press, 2024.
    SCHREIBER, Mariana. Dez anos de junho de 2013: os efeitos dos protestos que abalaram o Brasil. BBC News, 7 de junho de 2023. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cv281p5znrjo. Acesso em: 30/03/2025.