Ficha do Proponente
Proponente
- Diego Silva Souza (UFMG)
Minicurrículo
- Diego Silva Souza é jornalista (UFMG), pesquisador, crítico e curador de cinema. Como crítico, possui colaborações especiais com a Zagaia, Cine Humberto Mauro e Cine Festivais, além de integrar o Coletivo Zanza, onde produziu a Revista Zanza. Participou da curadoria de mostras e festivais como Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, CineCipó, Curtametralha, Cinema de Brinquedo e outros. Também atuou no Talent Press Rio 2021 e Júri Jovem na Mostra de Cinema de Tiradentes.
Ficha do Trabalho
Título
- “NÃO SOU NADA DO QUE VOCÊ PENSOU”: ESTRATÉGIAS DE AUTO INSCRIÇÃO EM JAMES BALDWIN
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- A proposta investiga como James Baldwin atua como protagonista no cinema documental, desafiando diretores ou colaborando com eles para construir sua autoimagem. Para isso, analisa-se três filmes em que o escritor aparece como personagem entre 1970 e 1982, explorando suas estratégias de autorrepresentação e resistência. A partir de teóricos como Rancière e Comolli, destaca como Baldwin reconfigura narrativas e propõe um “cinema de sua mente”, articulando sua própria visão sobre o cinema.
Resumo expandido
- Essa proposta investiga como Baldwin se posiciona como protagonista no cinema documental, ora desafiando as tentativas de controle narrativo por parte de diretores e criando espaços de autorrepresentação, ora se aliando a eles na composição de uma misé-en-scene. O estudo analisa três documentários: Meeting the Man: James Baldwin in Paris (1970), dirigido por Terence Dixon; I Heard It Through the Grapevine (1982), dirigido por Dick Fontaine e Pat Hartley; e James Baldwin: From Another Place (1973), dirigido por Sedat Pakay.
Em Meeting the Man, Baldwin enfrenta a visão reducionista de Dixon, que tenta retratá-lo apenas como escritor, desconectando sua obra de sua vivência como homem negro homossexual. Baldwin se recusa a se submeter às expectativas do diretor, assumindo o controle da narrativa ao redirecionar o foco do filme para espaços simbólicos como o bairro argelino de Paris e a Praça da Bastilha. Sua resistência manifesta-se por meio da auto-mise-en-scène, conceito teórico que descreve como um sujeito filmado articula sua própria representação.
Por outro lado, em I Heard It Through the Grapevine, Baldwin desempenha um papel ativo, revisitando marcos do movimento pelos direitos civis nos EUA e conduzindo diálogos com antigos companheiros de luta. Esse documentário adota uma abordagem colaborativa, permitindo que Baldwin articule suas reflexões sobre racismo, resistência e memória coletiva.
Já em From Another Place, um retrato íntimo de James Baldwin durante sua estadia em Istambul, Pakay estabelece um nível profundo de proximidade entre a câmera e Baldwin, exemplificado logo na cena de abertura, que mostra o escritor seminu em sua cama, em um momento de vulnerabilidade e naturalidade.
A partir de conceitos de Jacques Rancière e Jean-Louis Comolli, se propõe uma análise de como Baldwin subverte as dinâmicas de poder inerentes ao cinema documental, transformando-se de objeto passivo em sujeito ativo, destacando o documentário como espaço de negociação de poder, resistência e reconfiguração de narrativas.
Mas a proposta não busca apenas enquadrar o escritor em conceitos criado por terceiros, também lançando um olhar para a própria relação de Baldwin com o cinema e as formulações que ele lança para essa linguagem: aquilo que ele próprio chamava de ‘cinema de minha mente’, uma espécie de cinefilia crítica em que ele começou a exercitar suas próprias crenças sobre linguagem, mercado e natureza do cinema.
Bibliografia
- BALDWIN, James. Mente Vazia, Oficina do Diabo: Ensaios sobre a política racial do cinema americano. Mµ! Edições. 2022.
COMOLLI, Jean-Louis. Ver e Poder: a inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Editora UFMG, Belo Horizonte, 2008.
FROM Another Place. Sedat Pakay. Turquia, 1973.
I Heard It Through the Grapevine. Dick Fontaine e Pat Hartley. EUA, 1982.
MARQUES, Ângela. O método da cena em Jacques Rancière: dissenso, desierarquização e desarranjo. Galáxia, São Paulo, v. 47, e53828, 2022. Publicação contínua. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1982-2553202253828. Acesso em: 04 de jan. de 2025.
MENEZES, Hélio. James Baldwin e os desafios da (des)classificação. In: BALDWIN, James. O quarto de Giovanni. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. p. 211-222.
MEETING the man: James Baldwin in Paris. Terence Dixon, Reino Unido, França, 1970
WALKER, Natasha N. An Erratic Performance: Constructing Racial Identity and James Baldwin. 2007.