Ficha do Proponente
Proponente
- Helena Albert Bachur (USP)
Minicurrículo
- Diretora, assistente de direção, produtora, atriz e dançarina. Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo, em Produção Cultural pela Universidade Cruzeiro do Sul e formada em atuação pela SP Escola de Teatro. Suas videodanças “Cavalo” (2022) e “Arroz” (2024) estão, desde 2023, circulando em festivais no Brasil e na Europa. Atualmente, trabalha nas áreas de produção e direção audiovisual, além de ser mestranda no PPGAC da ECA – USP.
Ficha do Trabalho
Título
- O mundo como palco: a espacialidade Ma na dança como cinema
Eixo Temático
- ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS
Resumo
- O trabalho se propõe à investigação do uso do espaço extracampo no cinema de dança, buscando compreender a maneira como ocorre a transposição da dança cênica para a dança fílmica, em termos de espacialidade. Visando ao aprofundamento da reflexão sobre um espaço virtual, invisível ao público, o estudo relaciona, ainda, o fora-de-campo à noção japonesa “Ma”, referente ao intervalo vazio, radicalmente disponível, que existe entre dois limites.
Resumo expandido
- Para compreender como se dá a transposição de uma performance de dança cênica para o cinema de dança, em termos de espacialidade, comparamos a composição da “cena” – nas performances de dança presenciais – à composição do “quadro” – nos trabalhos de “coreocinema” (Snyder, 1965) ou “dança como cinema” (Greenfield, 1970).
Como consequência, tendo em vista que a arte cinematográfica libera o dançarino das amarras espaciais e gravitacionais do teatro, podendo lhe oferecer “o mundo como palco” (Deren, 2005, p. 221), percebemos que a desestabilização do espaço da caixa teatral, proveniente da hibridização entre o cinema e a dança, introduz um espaço fora-de-campo à dança cênica.
Desse modo, como nos mostra Caldas (2012), se em uma performance presencial a moldura do palco configura-se como limite do acontecimento, a imagem na tela, por outro lado, insinua um transbordamento, relacionando virtualmente o que se vê ao que não é visto.
Com o intuito de aprofundar a discussão sobre esse espaço virtual, invisível aos olhos do espectador, dialogamos com um elemento cultural japonês, o Ma (間), semanticamente relacionado à noção de intervalo. A princípio, Ma configurava-se como um espaço vazio no qual, em algum instante do eixo temporal, haveria a aparição do divino. Compreendemos, assim, a espera de tal instante de transição, do vazio para a manifestação divina, como a chave da percepção de Ma: um intervalo espaço-temporal radicalmente disponível, prenhe de possibilidades.
Okano (2007), entretanto, ressalta que os japoneses não apenas percebem esse elemento, como o colocam em evidência, de maneira a gerar uma estética singular, inerente a essa perspectiva. À concretização da possibilidade Ma, a autora dá o nome de espacialidade Ma, permitindo que esse fenômeno possa ser estudado e habite diferentes linguagens artísticas. Essa espacialidade implica, por exemplo, na valorização do espaço branco não desenhado no papel, do tempo de inação de uma dança, do silêncio no tempo musical.
Considerando o extracampo como um espaço potencial, intervalar e que pode tudo conter, nos perguntamos, nesta pesquisa: é possível observá-lo como uma espacialidade Ma? De que maneira essa noção japonesa contribui para o nosso entendimento sobre a visualidade invisível do espaço fora-de-campo no cinema?
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. O Olho Interminável. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
BORGES, Cristian. A DANÇA COMO CINEMA: sua sobrevida na tela, entre corpórea e conceitual. In: ANAIS DO 31° ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS, 2022. Campinas: Galoá, 2022.
BURCH, Noel. Nana ou ‘Os dois espaços’, em Práxis do cinema. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 37-52.
CALDAS, Paulo. “Poéticas do movimento: interfaces”, in CALDAS, Paulo; BRUM, Leonel; BONITO, Eduardo; LEVY, Regina (org.). Dança em foco: Ensaios Contemporâneos de Videodança. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2012.
DEREN, Maya. Essential Deren: collected writings on film. Kingston: McPherson and Company, 2005.
GREENFIELD, Amy. Dance As Film. In : Filmmakers’ Newsletter, vol. 4, n. 1, novembro de 1970, p. 26-32.
OKANO, Michiko. Ma: Entre-Espaço da Arte e Comunicação no Japão. São Paulo: Annablume, 2007.
SNYDER, Allegra F. Three kinds of dance film: a welcome clarification. In : Dance Magazine, vol. 39, n. 9, setembro de 1965, p. 34-39.