Ficha do Proponente
Proponente
- Nuno Camilo Balduce Lindoso (UFF)
Minicurrículo
- Graduado em Ciências Sociais e mestre em Antropologia Social pela UFA, é realizador e curador audiovisual. No doutorado desenvolve uma pesquisa sobre a produção cinematográfica do diretor russo-soviético Boris Barnet na década de 1940.
Ficha do Trabalho
Título
- Refletindo sobre o processo criativo de Boris Barnet a partir do filme Uma Noite
Resumo
- Essa comunicação visa apresentar o filme Uma noite (1945) em diálogo com a trajetória de Boris Barnet. Filmado em meio a Segunda Guerra Mundial, o filme dirigido por Barnet apresenta uma construção visual em que a alternância entre cenas filmadas em estúdio, onde se privilegia uma estética mais expressionista, e cenas mais realistas filmadas na cidade de Stalingrado, refletem um repertório artístico que perpassa a pintura naturalista russa ao cinema de Kulechov.
Resumo expandido
- União Soviética, 1944. A invasão nazista à URSS se aproxima do seu quarto ano deixando um rastro de destruição e morte sem precedentes na história. Porém, um ano antes, a maré da guerra virou a favor dos Aliados, após a vitória soviética na Batalha de Stalingrado (1942-1943). Os dois grandes estúdios soviéticos, Mosfilm e Lenfilm, obrigados a serem evacuados para o Cazaquistão, em 1942, vão aos poucos retornando para suas sedes de origem, Moscou e Leningrado, respectivamente, junto a todo seu maquinário e pessoal. Porém, nem todos são autorizados a retornarem. Após seu filme, Um bom sujeito (1943), não ter recebido licença de exibição e ser arquivado pelo Comitê de Cinema, Boris Barnet, ao invés de retornar à Moscou, recebe a incumbência das autoridades cinematográficas para ir para Erevã, na República Soviética da Armênia, para filmar um roteiro ambientado em Stalingrado. Não seria sua primeira incursão na região do Cáucaso. Foi na república vizinha do Azerbaijão que filmou, em 1936, um de seus filmes mais celebrados e lembrados no Ocidente: À beira do mar azul, um melodrama envolvendo um triângulo amoroso entre dois marinheiros e uma pescadora, ambientado no mar Cáspio. Porém, o contexto em 1944 é bastante diferente daquele de 1936, quando a repressão stalinista ainda não fazia vítimas fatais na indústria cinematográfica e com Barnet tendo mais possibilidade de barganha com as autoridades devido ao aumento de seu prestígio pelo sucesso no exterior de seu longa Confins (1933), um libelo antibélico ambientado na Primeira Guerra Mundial. Ao contrário, os anos de 1940 são profundamente desfavoráveis a ele, começando pelo veto ao lançamento de sua comédia O velho jóquei (1940) por Andrei Jdanov, a maior autoridade cultural do país e co-autor, junto do escritor Maksim Górki, dos ditames do Realismo Socialista (BELODUBROVSKAYA, 2017). Após a invasão nazista, em 1941, dirige dois curtas patrióticos para a Mosfilm, que não impede seu longa seguinte, Um bom sujeito (1943), de não receber a licença de exibição, sendo arquivado e por anos esquecido nas prateleiras da censura (EISENSCHITZ, 2024). É nesse contexto que Barnet vai à RSS da Armênia dirigir Uma noite. Essa comunicação visa apresentar as imagens do filme de maneira a refletir sobre os processos de criação do diretor, partindo da hipótese de Barnet ser alguém que reinterpreta os ditames do Realismo Socialista a favor de seu processo artístico. Contemporâneo de Eisenstein, Vertov e ex-aluno de Lev Kulechov, Barnet, ao contrário destes, nunca produziu uma teoria sistemática sobre cinema, porém, sobretudo na década de 1940, produziu alguns textos para revistas e jornais que refletem suas preferências estilistas e sua visão sobre os caminhos que devia seguir o cinema soviético, mantendo uma relação estreita com seu processo criativo, tendo o filme “Uma noite” como exemplo de como reinterpretava as prescrições do Realismo Socialista.
Bibliografia
- ALEKSANDROVA, S. Образная система фильмов б. В. Барнета, São Petersburgo: 2019.
BELODUBROVSKAYA, M. Not According to Plan: Filmmaking under Stalin. Ithaca: Cornell University, 2017.
EISENSCHITZ, B. Boris Vassilievitch Barnet. Paris: Les Editions de L’oiel, 2024.