Ficha do Proponente
Proponente
- Giulia Medeiros (UFMT)
Minicurrículo
- Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso (2017), especialização no curso de Cinema e linguagem Audiovisual pela Universidade Cândido Mendes (2020), Mestre no programa de pós graduação em Estudos de Cultura Contemporânea (ECCO) da Universidade Federal de Mato Grosso (2022). Graduada em Produção Cinematográfica pela Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba (EICTV) (2024).
Ficha do Trabalho
Título
- REDES DE CINEMA NA AMÉRICA LATINA: DO BRASIL PROFUNDO PARA O MUNDO
Resumo
- Este trabalho analisa como as redes de cinema na América Latina podem contribuir para a internacionalização das produções audiovisuais de regiões periféricas e distantes dos grandes centros da indústria audiovisual, com foco no cinema de Mato Grosso. A pesquisa revisita políticas públicas, experiências colaborativas e estratégias de coprodução, propondo caminhos para descentralização e novos modelos da industria audiovisual.
Resumo expandido
- Este trabalho investiga de que forma o cinema produzido em regiões periféricas do Brasil, especialmente no estado de Mato Grosso, pode alcançar maior visibilidade e inserção no mercado internacional a partir de redes criativas latino-americanas. Parte-se da constatação de que, apesar do crescimento da produção audiovisual em contextos descentralizados — impulsionado por políticas públicas como as Leis Aldir Blanc (2021) e Paulo Gustavo (2022) —, ainda persistem desafios estruturais para a circulação e coprodução internacional dessas obras.
O objetivo central da pesquisa é analisar o papel das redes criativas na articulação entre realizadores, instituições, políticas públicas e mercados culturais voltados à promoção do cinema latino-americano. A investigação se ancora em três pilares: (1) a revisitação histórica do Nuevo Cine Latinoamericano e seus desdobramentos contemporâneos; (2) a análise das políticas públicas nacionais e regionais para o audiovisual; e (3) o mapeamento de estratégias de internacionalização viabilizadas por redes colaborativas. O estudo focaliza a experiência mato-grossense, marcada por uma efervescência recente no setor, com o surgimento de coletivos, produtoras independentes, festivais e mostras que buscam legitimar suas narrativas e consolidar circuitos alternativos de formação e exibição.
A metodologia adota uma abordagem qualitativa e interdisciplinar, combinando revisão bibliográfica, levantamento de dados sobre filmes produzidos entre 2010 e 2023 em Mato Grosso e análise de três estudos de caso: o laboratório Nuevas Miradas (Cuba), o Mercado Audiovisual do Centro-Oeste – SAPI (GO) e a Mostra Audiovisual Universitária da América Latina – MAUAL (MT). Estas iniciativas são examinadas como experiências exitosas de organização em rede, que articulam desenvolvimento de projetos, formação e circulação internacional de conteúdos audiovisuais produzidos fora dos grandes centros da indústria. Tais espaços funcionam como plataformas de intercâmbio, aprendizado e projeção, ampliando as possibilidades de inserção de novos realizadores nos circuitos globais.
Dados preliminares apontam que, embora a presença de filmes mato-grossenses em festivais e mercados internacionais ainda seja tímida, há um movimento crescente de inserção por meio de parcerias institucionais e iniciativas independentes. Observa-se que o pertencimento a redes colaborativas não apenas potencializa a visibilidade dessas produções, mas também contribui para o fortalecimento de uma identidade cinematográfica plural, ancorada na diversidade cultural, étnica e territorial do chamado “Brasil profundo”. Essa expressão, neste trabalho, designa regiões afastadas dos eixos hegemônicos, como o centro geodésico da América do Sul, onde se encontram importantes biomas (Pantanal, Cerrado e Amazônia) e onde a produção audiovisual tem avançado a despeito das fragilidades estruturais.
A análise dos estudos de caso evidencia que laboratórios e mercados, como Nuevas Miradas e SAPI, funcionam como catalisadores de conexões internacionais, promovendo o desenvolvimento de projetos de realizadores emergentes e conectando-os a agentes da indústria. Já espaços de exibição como a MAUAL cumprem um papel estratégico na construção de públicos e na legitimação estética de obras universitárias e independentes, constituindo uma alternativa relevante ao circuito comercial tradicional.
Conclui-se que a criação e o fortalecimento de redes criativas latino-americanas são estratégias fundamentais para a internacionalização do cinema produzido nas margens da indústria. Essas redes funcionam como ecossistemas sustentáveis de colaboração, que estimulam práticas solidárias, trocas inter-regionais e maior circulação de obras. No entanto, para que essa inserção se efetive de forma consistente, é necessário o redesenho das políticas públicas com foco na regionalização e no incentivo à internacionalização.
Bibliografia
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