Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    PEDRO AUGUSTO SOUZA BEZERRA DE MELO (UFRJ)

Minicurrículo

    Pedro Bezerra de Melo é doutorando em Tecnologias da Comunicação e Estéticas pela UFRJ, onde desenvolve pesquisa sobre imagéticas relacionadas ao extrativismo e à violência ambiental. É mestre em Comunicação e bacharel em Cinema, ambos pela UFPE. Seus interesses incluem as relações entre arte, cultura visual e humanidades ambientais.

Ficha do Trabalho

Título

    Contra-arquivo, estética e política em Los Ingrávidos

Resumo

    A comunicação investiga como o coletivo Los Ingrávidos mobiliza imagens como contra-arquivo, tensionando estruturas institucionais de memória e visibilidade. A partir de autores como Derrida, Mbembe, Azoulay, Campt e Hartman, discute-se o cinema experimental como tecnologia de reinvenção da memória, especialmente em relação a narrativas apagadas pelo colonialismo.

Resumo expandido

    Esta comunicação propõe investigar como as imagens produzidas e manipuladas pelo coletivo mexicano Los Ingravidos operam como contra-arquivo: uma forma de resistência visual que questiona as estruturas institucionais de memória e historicidade, inserida no campo do cinema experimental contemporâneo. O pensamento de Jacques Derrida (1995), Michel Foucault e Achille Mbembe (2002) é aqui mobilizado para pensar o arquivo como lugar de controle e exclusão, mas também como campo potencial de reinvenção, como sinalizado por Ariella Azoulay (2019). Nesse sentido, as contribuições de Tina Campt (2017), com sua proposta de escuta profunda das imagens, e de Saidiya Hartman, com sua crítica fabular — que mistura pesquisa histórica com especulação — oferecem chaves importantes para pensar o cinema como uma tecnologia de reinvenção da memória, especialmente no que diz respeito às narrativas suprimidas pelo colonialismo e pela violência epistêmica.

    Essa comunicação é inspirada num apontamento de Almudena Escobar López sobre o filme do coletivo Los Ingrávidos, Pirámide erosionada (2019): “ao conectar o forense e o empírico com o espiritual, o xamânico e o poético, o coletivo propõe um novo conceito de arquivo fora da epistemologia ocidental” (ESCOBAR LÓPEZ, 2020). Nesse filme, lidando com o desafio de documentar uma montanha que desapareceu, o grupo aproxima, por meio do cinema, paisagem e arquivo.

    A analogia da paisagem como arquivo constitui aqui uma ferramenta conceitual que estabelece paralelos significativos. Assim como um arquivo organiza, armazena e revela informações ao longo do tempo, a paisagem desempenha função semelhante no contexto das intervenções humanas, dos processos naturais e das memórias acumuladas. Tal como um arquivo estrutura documentos de períodos históricos, a paisagem conserva vestígios materiais — fósseis, edificações, marcas de erosão e outros elementos — que podem ser interpretados como registros passíveis de decifração, documentos genuínos de outras épocas.

    Outras estratégias visuais e políticas são mobilizadas para abordar problemáticas do arquivo e as consequências do extrativismo. Em Numbers (2020), as pinturas de retratos aristocráticos da coleção do Museo del Prado revelam “o rosto do extrativismo, da pilhagem da Mesoamérica, bem como do ecocídio realizado através da mineração e do trabalho escravo, que destruíram ecossistemas e o modo de vida dos povos” (ESCOBAR LÓPEZ, 2020). Essa crítica é intensificada pela repetição sonora do ano de 1492, marco da chegada de Colombo à América. Conversión (2021), por sua vez, combina um vídeo institucional do Museo de América, em Madrid, com um testemunho cristão em língua espanhola, tensionando o conceito de conversão ao explorar suas dimensões de violência espiritual, cultural e epistemológica.

    Considerando o arquivo enquanto campo de disputa política, epistemológica e histórica — cujos regimes de visibilidade são atravessados por forças coloniais, institucionais e estatais —, propõe-se analisar como as operações formais e sensoriais mobilizadas pelo coletivo reconfiguram os modos de tratar e reativar imagens. Essa perspectiva mostra-se especialmente relevante para a reconstrução de histórias apagadas e a recuperação de narrativas suprimidas pelo colonialismo.

Bibliografia

    AZOULAY, Ariella Aïsha. Potential History: Unlearning Imperialism. London: Verso, 2019.
    CAMPT, Tina. Listening to Images. Durham: Duke University Press, 2017.
    DERRIDA, Jacques. Mal de Arquivo. Salvador: EDUFBA, 2001.
    ESCOBAR LÓPEZ, Almudena. Shamanic materialism: Autonomous forms of remembrance. Colectivo Los Ingrávidos in conversation with Almudena Escobar López. 2020. Disponível em: https://www.vsw.org/wp/wp-content/uploads/2020/10/Colectivo-Los-Ingr%C3%A1vidos-in-Conversation-with-Almudena-Escobar-L%C3%B3pez-English-1.pdf. Acesso em: 2 abr. 2025.
    ESCOBAR LÓPEZ, Almudena; SCHULTE STRATHAUS, Stefanie; HEDIGER, Vinzenz (orgs.). Accidental Archivism: Shaping Cinema’s Futures with Remnants of the Past. Lüneburg: meson press, 2023. Disponível em: https://meson.press/wp-content/uploads/2023/05/978-3-95796-054-2_Accidental_Archivism.pdf. Acesso em: 21 dez. 2024.
    FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
    HARTMAN, Saidiya. Wayward Lives, Beautiful