Ficha do Proponente
Proponente
- Nadia Cristina Biondo da Costa (UFMA)
Minicurrículo
- Compõe o quadro de servidores técnico-administrativos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) como Coordenadora do Núcleo de Produção da TV UFMA, atuando na supervisão de bolsistas, criação, direção e edição de programas da emissora. É Mestre em Imagem e Som pelo Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som (PPGIS) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Graduada em Comunicação Social/Rádio e TV pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Ficha do Trabalho
Título
- NACIONAL, ALTERNATIVO E ESTRATÉGICO: FESTIVAL DO RIO E OS ELEMENTOS DE VALIDAÇÃO EM REDE
Resumo
- Aos festivais de cinema são designados diversos papéis de atuação. Pode-se citar o de vitrine de um cinema local, regional ou nacional, bem como o de espaço alternativo e/ou estratégico de circulação. Nesta comunicação, à luz dos autores Marijk Valck (2006), Julian Stringer (2001), Mark Perason (2009) e Nestor Garcia Canclini (1997), trago aproximações e distanciamentos do Festival do Rio aos mecanismos que constituem a rede de festivais e funções atribuídas aos evento elaborados pelos autores.
Resumo expandido
- Aos festivais de cinema são imbuídas inúmeras tarefas, desde vitrine de um cinema local, regional ou nacional até e um espaço alternativo e/ou estratégico em relação os comerciais. Mas como se estabeleceram essas funções elencadas? Marijk Valck (2006), ao investigar a rede contemporâneo e internacional de festivais como um sistema de sucesso, parte da hipótese que “festivais de cinema são pontos nodais em uma rede bem-sucedida de cinema que se originou na Europa” (VALCK, 2006, p.16, tradução minha). Em seu trabalho, ela sistematiza três fases que auxiliam na compreensão do estabelecimento das funções dos festivais. As três fases vão dar conta de um recorte temporal desde os anos 30 até os anos 70, uma década quando também vão surgir eventos similares no Brasil. É importante ressaltar que essas três fases são elaboradas sem desconsiderar a relação com a hegemonia norte-americana da indústria cinematográfica, principalmente Hollywood, iniciada no entre guerras e estabelecida no pós-segunda guerra mundial. A partir dessa escolha da autora, é possível afirmar que as tarefas imbuídas aos festivais também dialogam com a dinâmica dos estúdios hollywoodianos. Stringer (2001), Valck (2006) e Perason (2002) dissertam, principalmente, sobre os festivais e sua contribuição à etapa de distribuição, funcionando como um elo entre a produção e a etapa de exibição. Ao falar sobre o processo de proliferação de festivais locais, por exemplo, Stringer destaca como “tais eventos abrem novas e contra esferas públicas dentro de um circuito de distribuição de mídia globalizado, atravessando conceitos de nacional de maneira complexa, mas instrutiva” (STRINGER, 2001, p. 142-143, tradução minha). Tendo isso em mente, é possível dizer que a oposição feita dos festivais como um espaço voltado para filmes realmente de arte em comparação às salas comerciais que seriam voltadas para filmes meramente com fins lucrativos, mascara a relação que Valck (2006) vai demonstrar sendo também constitutiva da rede de festivais. O que pareceria uma disputa ou rixa entre dois espaços distintos ou adversários que compõem a distribuição do setor audiovisual, pode-se dizer que é um processo inerente ao crescimento e à complexificação do setor em um contexto que vai se tornando global. A rede europeia de festivais vai se estabelecer se diferenciando de Hollywood, assim como utilizando os valores produzidos por ela, algo que Canclini(1997), ao abordar a questão da identidade como um espetáculo multimídia em um contexto de globalização, vai chamar a atenção, “nesta perspectiva, as nações se convertem em cenários multideterminados, onde diversos sistemas culturais se interpenetram e se cruzam.” (CANCLINI, 1997, p. 142). Valck (2006), da mesma forma, aponta como a definição das características do cinema de Hollywood também interfere nas características dos festivais europeus, por meio da migração e do encontro entre pessoas e entidades de diferentes partes do globo envolvidos com a formação da rede de festivais. Este processo está aliado também ao que Canclini (2008) vai chamar atenção sobre a necessidade de “ressituar a teorização e os debates sobre identidade, heterogeneidade e hibridização na disputa pelo espaço audiovisual que se vem desenvolvendo entre Estados Unidos, a Europa e a América Latina” (CANCLINI, 2008, p. 18). O Festival do Rio, assim como os festivais europeus analisados por Valck (2006), dentro do contexto latino-americano, parece emular trocas e diferenciações com setores ditos mais comerciais como o cinema de Hollywood e a televisão brasileira, mais especificamente as estrelas e o canal de televisão Globo. Podendo ele ser reconhecido ou não pelas pessoas envolvidas com o evento como um espaço de legitimação comercial ou artística. O que pode também interferir nas conexões existentes com outros eventos da rede internacional de festivais.
Bibliografia
- CANCLINI, Néstor Garcia. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. 3ª Edição – Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.
PEIRANO, M. P. Film mobilities and circulation practices in the construction of recent Chilean cinema. In. A. Kjaerulff; S. Kesserling; P. Peters; K. Hannam (Eds.). Envisioning Networked Urban Mobilities: Art, Performances, Impacts. Routledge: New York, 2018, p. 35-47.
PERASON, Mark. First You Get the Power, Then You Get the Money: two models of film festivals. In. R. Porton (Ed.). Dekalog 3: on film festivals. London: Wallflower, 2009, p. 23-37.
STRINGER, Julian. Global Cities and International Film Festivals Economy. In. S. Mark; F. Tony (Eds.). Cinema and the City: film and urban societies in a global context. Oxford:
Backwell, 2001, p. 134-144.
VALCK, Marijke de. Film Festivals: history and theory of European phenomenon that became a global network. Amsterdam: ASCA, 2006.