Ficha do Proponente
Proponente
- Giovanna MASTENA PALANGA (PPGMPA- USp)
Minicurrículo
- Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA – USP. No programa, continuo a pesquisa desenvolvida durante o bacharelado em Audiovisual. Nela, busco dimensionar a contribuição de Antonin Artaud para o campo da teoria do cinema. Com experiência de curadoria no CINUSP Paulo Emílio, nos anos de 2021-2022. Participou da equipe de visionamento do KINOFORUM – Festival Internacional de Curtas Metragens, nos anos de 2019 e 2020. E em 2025, realizei curadoria e produção
Ficha do Trabalho
Título
- Antonin Artaud e o cinema como poética do pensamento.
Eixo Temático
- ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL
Resumo
- O trabalho discute a relação entre cinema e pensamento elaborada por Antonin Artaud durante sua breve trajetória no cinema (1923-1935). A proposta é retomar os escritos teóricos de Artaud sobre cinema junto a sua produção prática, com destaque ao roteiro de Concha e o Clérigo (1928), a fim de circunscrever o ponto central de sua proposição: o cinema enquanto expressão do pensamento e assim, cotejar sua contribuição para a teoria do cinema.
Resumo expandido
- Ao longo da história da cinematografia, é recorrente a reflexão sobre um dos pontos-limite da natureza da linguagem cinematográfica: como uma linguagem cuja inovação técnica é fundamentada na ideia de captura “objetiva” da realidade externa pode ser utilizada para expressar a subjetividade? Um dos pioneiros na contribuição teórica para essa questão foi Antonin Artaud, precursor do que viria a ser um programa estético-poético surrealista no cinema. Embora seja mais conhecido por suas contribuições ao teatro, Artaud dedicou parte de sua produção ao cinema. Ao longo de aproximadamente dez anos, tratou do cinema em ensaios, cartas, roteiros e em seu trabalho como ator — com destaque para seu roteiro de A Concha e o Clérigo (1928), dirigido por Germaine Dulac, e considerado o primeiro filme surrealista.
Essa produção coincide com um momento de efervescência cultural, marcado pelas teorias de vanguarda e, na França, pela sistematização da teoria do cinema, caracterizada pela relação teórico-prática, em que realizadores de cinema também se ocupavam da construção de uma teoria que norteasse a produção nacional no pós-guerra. Nesse contexto, o cinema era frequentemente visto como uma arte que, graças à ciência e ao avanço técnico, poderia revelar na realidade exterior uma poesia própria, imune à “deformação” da subjetividade. Artaud, alinhado ao surrealismo, seguiu um caminho distinto: exaltou o cinema por sua vocação “psíquica”, voltada à exteriorização dos mecanismos do pensamento. Isso se justificaria, já que ele identificava na linguagem cinematográfica possibilidades de fabulação narrativa, de jogo rítmico e de relações construídas pela montagem, que se contrapõem à lógica da realidade objetiva e a imagem “realista”.
Este projeto de pesquisa tem como objetivo retomar a produção de Artaud no campo do cinema, a fim de identificar o ponto central de sua proposição: o cinema como uma forma de expressão do pensamento.
A literatura sobre o tema é vasta e tem sido abordada sob diversas perspectivas. Na obra Le Surréalisme au Cinéma (1953), de Ado Kyrou, a contribuição de Artaud é incluída dentro do cinema surrealista. A partir desse trabalho, outras figuras como Alain e Odette Virmaux, Linda Williams, Sandy Flitterman-Lewis, Steven Kovács e Naomi Greene têm incorporado Artaud em seus estudos sobre cinema. No entanto, essa discussão ainda é pouco explorada no Brasil, onde seu nome não aparece nos principais estudos sobre a tradição do cinema de vanguarda das décadas de 1920 e 1930.
Portanto, este projeto visa somar esforços às pesquisas já existentes que buscam redimensionar a contribuição de Artaud para o campo do cinema, destacar sua posição de “pensamento como forma” e promover essa reflexão no contexto nacional.
Bibliografia
- ARTAUD, Antonin. Oeuvres complètes. Vol 3: A propos du cinéma. Paris: Gallimard, 1978.
DELEUZE, G. A Imagem-Tempo. São Paulo: Brasiliense, 1990.
FLITTERMAN-LEWIS, Sandy. To desire differently: feminism and the French cinema. New
York: Columbia. University Press, 1996.
_________. “The lmage and the Spark: Dulac and Artaud Reviewed” In: KUENZLI, Rudolf
E., (org.) Dada and surrealist film. Cambridge: The MIT Press, 1996.
_________. “Surrealist Cinema: Politics, History, and the Language of Dreams”. American Imago, 50(4), 441–456.
KYROU, Ado. Le surréalisme au cinema.Paris:Ramsay,2005.
VIRMAUX, Alain e Odette. Les Surréalistes et le cinéma. Paris: Seghers, 1976 _________.
WILLIAMS, Linda. Figures of desire: a theory and analysis of surrealist film.Berkeley:University of California Press, 1992.