Ficha do Proponente
Proponente
- Carlos Eduardo Queiroz (UFF)
Minicurrículo
- Mestrando em Cinema e Audiovisual pelo PPGCine-UFF. Dentro da linha de pesquisa de Narrativas e Estéticas, pesquisa as convergências visuais e linguísticas das histórias em quadrinhos brasileiras com o cinema brasileiro. Em seu primeiro ano de mestrado, apresentou comunicações no XXVII Encontro Socine, nas 8as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos da USP e no 5th International Congress on Ambiances, em Lisboa.
Ficha do Trabalho
Título
- O espaço recomposto: o urbano entre o cinema e as histórias em quadrinhos em “Tungstênio” (2018)
Eixo Temático
- ET 2 – INTERMIDIALIDADES, TECNOLOGIAS E MATERIALIDADES FÍLMICAS E EPISTÊMICAS DO AUDIOVISUAL
Resumo
- O trabalho propõe uma análise de “Tungstênio”, romance gráfico de Marcello Quintanilha (2014) e à película adaptado por Heitor Dhalia em obra homônima (2018). Investigaremos as aproximações estéticas da adaptação em uma análise do espaço cinematográfico. A partir de um exercício metodológico comparativo entre quadros do filme e artes da história em quadrinhos, a pesquisa objetiva compreender o protagonismo do espaço percebido como fenômeno cinematográfico dentro da adaptação.
Resumo expandido
- A comunicação aqui proposta tem como objetivo apresentar uma pesquisa de Mestrado em andamento no PPGCine-UFF. O intuito é compartilhar com a comunidade acadêmica a evolução do trabalho, apresentado em seu primeiro estágio de desenvolvimento sob o título “A intervenção visual estilística no cinema adaptado da arte sequencial” no XXVII Encontro Socine, agora com um corpus mais restrito e total enfoque na produção brasileira.
A relação de adaptação entre as histórias em quadrinhos e o cinema dentro do contexto da produção brasileira tem seu pontapé, segundo Fábio Vellozo, em 1973. Em seu artigo “A mágicka do cinema: o resgate do trailer de O Judoka (Marcelo Ramos Motta, 1973), primeiro longa-metragem brasileiro baseado em histórias em quadrinhos” (2024), o autor disseca o processo de produção e recepção da película citada. O desenrolar da publicação de Vellozo não se exime de contemplar dois aspectos plástico-linguísticos da adaptação cinematográfica que serão basilares ao desenvolvimento da pesquisa: a ideia de uma “transposição” das histórias em quadrinhos ao cinema e o questionamento de uma possível “fidelidade” (estética, pictórica) que legitime tal transposição.
O presente trabalho, por um prisma contemporâneo, propõe se debruçar sobre “Tungstênio”, história em quadrinhos escrita e desenhada por Marcello Quintanilha (2014) e na mesma década adaptada à película por Heitor Dhalia em obra homônima (2018). Investigaremos as aproximações e distanciamentos estéticos da adaptação em questão em uma análise do espaço cinematográfico. Para tal, será necessário compreender tanto o “espaço cinematográfico” de Gardies (1993), sua relatividade, e seu conceito-resposta, a “imagem-espaço” de Gaudin (2011), em busca de uma percepção fenomenológica da tela. A partir dos postulados de Robert Stam (2008), questionaremos a legitimidade da “fidelidade” quando aplicada ao espaço cinematográfico.
Analisaremos comparativamente, em seguida, quatro quadros extraídos da película e suas respectivas artes “originárias” dentro do romance gráfico de Quintanilha. Considerando as especificidades espectatoriais de “Tungstênio” (2018) como obra fílmica, a abordagem fenomenológica por Gaudin defendida será insumo essencial para compreender o protagonismo do espaço percebido como fenômeno cinematográfico.
O filme de Dhalia é notório por seus esforços de recriação e transposição das composições visuais dos painéis para o quadro fílmico, emulando composições estáticas da arte sequencial original e trazendo para a imagem em movimento as relações entre-quadros por Quintanilha estabelecidas. A cidade de Salvador, em roupagem filmada, encarna a maleabilidade do espaço. Reconfigurada a cada plano, a cada deslocamento dos personagens e da câmera, leva ao primeiro plano o espaço como um agente narrativo expressivo. A cidade se mostra não um pano de fundo, mas um labirinto sensorial que condiciona as ações e emoções dos personagens. O conceito de espacialidade abordado por Gaudin ressoa na maneira como “Tungstênio” se organiza visualmente. A passagem do romance gráfico para o cinema não se dá apenas na esfera da representação visual, mas também na maneira como o espaço é experimentado e vivido. Nesse sentido, a adaptação de Dhalia se apresenta não somente como um tributo à estética de Quintanilha, mas uma reinterpretação da espacialidade e geografia de sua obra.
O exercício metodológico comparativo busca evidenciar a maneira como o filme recria, amplia e por vezes subverte os enquadramentos originais do quadrinho, utilizando-se do movimento para gerar novas camadas de significado. Ao examinar planos específicos, será possível perceber como a Salvador de Quintanilha, construída a partir da estilização gráfica, encontra um novo corpo no cinema. Ao fazê-lo, enfatiza a relação dinâmica entre espaço e percepção espectatorial, consolidando a cidade não como um mero cenário transposto, mas como um organismo vivo e mutável que caminha muito além de uma idealizada “fidelidade”.
Bibliografia
- CHINITA, F. O metacinema norte-americano e o storytelling: de Orson Welles a David Lynch. In Avanca Cinema 2012, 745-754. Avanca, Portugal: Cineclube de Avanca, 2011.
GARDIES, A. L’espace au cinéma Paris: Méridiens Klincksieck, 1993.
GAUDIN, Antoine. L’image-espace Pour une géopoétique du cinéma. Orientador: Philippe Dubois. 2011. Tese (Doutorado) Universidade de Paris 3, 2011.
NIEDZIELUK, L. C. Arquitetônica bakhtiniana na leitura de retratos: um possível modus faciendi. In: Anais do X Seminário Leitura de Imagens para a Educação: Múltiplas Mídias. Florianópolis, 2017.
QUINTANILHA, Marcello. Tungstênio. Editora Veneta, 2014.
STAM, R. P. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.
TUNGSTÊNIO. 2017. Direção de Heitor Dhalia. Brasil. 79 min.
XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2005.