Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Queen Ifeyinwaeze Nwabasili (PPGMPA ECA-USP)

Minicurrículo

    Doutoranda e mestra em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, onde se graduou e Jornalismo. Mestra em Curadoria Cinematográfica pela Elías Querejeta Zine Eskola, instituição vinculada à Universidade do País Vasco e à Tabakalera – Centro Internacional de Cultura Contemporânea, na Espanha. Curadora de curtas-metragens da Mostra de Cinema de Tiradentes 2023, 2024 e 2025. Pesquisa cinema nacional, com ênfase em raça, gênero, classe e (de)colonialidade.

Ficha do Trabalho

Título

    Vozes de e junto a Beatriz Nascimento: críticas de filmes nacionais feitas por negros (1970-1980)

Seminário

    Arquivo e contra-arquivo: práticas, métodos e análises de imagens

Resumo

    A comunicação propõe analisar e relacionar fontes históricas escritas e audiovisuais que atestam a participação de pessoas negras na crítica de filmes brasileiros nas décadas de 1970 e 1980, levando ao adensamento, em termos raciais, do debate da época sobre legitimidade de representação do povo e do nacional-popular em filmes de cinemanovistas. São destacadas manifestações críticas significativas dos intelectuais e militantes negros Beatriz Nascimento, Muniz Sodré, Lélia Gonzalez e Edna Roland.

Resumo expandido

    Considerando históricas e desafiadoras barreiras sociais para a expressividade de pessoas negras em ambientes letrados e intelectualizados (Peres, 2020), a comunicação propõe analisar e relacionar fontes históricas escritas e audiovisuais que atestam a participação de pessoas negras no debate crítico de filmes brasileiros nas décadas de 1970 e 1980. São destacadas manifestações críticas significativas dos intelectuais e militantes negros Maria Beatriz Nascimento (1942 – 1995), Muniz Sodré, Lélia Gonzalez (1935 – 1994) e Edna Roland a respeito de filmes nacionais que, no período, abordaram personagens negras e/ou a história e cultura dos negros no Brasil. As falas gravadas em arquivo audiovisual são entendidas e analisadas à luz da importância da oralidade para as culturas africanas e afrobrasileira e para as ambiências de militância política negra em propulsão no período estudado. Considerando tal propulsão, são detalhados aspectos do contexto social, político e cultural que fizeram com que militantes negros se atentassem às artes e aos meios de mídia como ferramentas estratégicas para sua luta política e para a construção de identidades negras positivas e/ou complexas (Pereira, 2008; Ratts, 2022; Xavier, 1982). A originalidade da abordagem está no fato de serem raros os levantamentos a respeito da participação de pessoas negras no debate público e crítico sobre cinema nacional no período, e também no fato de ser atestado o diferencial que essas pessoas fizeram no debate crítico sobre o povo e o nacional-popular presentes em filmes de cinemanovistas. As referidas críticas e comentários críticos são analisados considerando perspectivas de diferentes pesquisadores (Carvalho, 2022; 2022; Silva, 2013; Nascimento, 2020) que têm explicitado o fato de o povo e o popular presentes de forma programática e constante no cinema brasileiro desde a década de 1950 até o a década de 1970 ser, na grande maioria dos filmes, negro. Sendo assim, ao debaterem essa presença em termos explicitamente raciais nos filmes desse período, intelectuais negros acabaram por adensar os debates críticos sobre o povo e o nacional-popular tão centrais em nosso cinema moderno, como evidenciam as reconhecidas perspectivas críticas de Jean-Claude Bernardet (Bernardet, 1985; 2009; 2007; Gerber, 1991). Dentre os destaques, com base em nossa atual pesquisa de doutorado, focamos a assiduidade de comentários críticos sobre cinema brasileiro feitos pela historiadora, poetiza e acadêmica-militante negra Maria Beatriz Nascimento nas décadas de 1970 e 1980. Destacamos sobretudo sua crítica negativa ao filme “Xica da Silva” (Cacá Diegues, 1976), intitulada a “A senzala vista da casa-grande” publicada em 1976 no jornal alternativo Opinião. O texto e suas nuances críticas são comparados e contrastados com argumentos críticos ao filme seguinte de Cacá Diegues, “Quilombo” (1984) – que teve entre seus pesquisadores de roteiro a própria Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez (Diegues, 2014; Ratts, 2022) –, presentes no texto crítico “Visto por uma mulher negra” escrito pela militante e psicóloga Edna Roland e publicado no jornal feminista alternativo Mulherio. Tanto em “A senzala vista da casa-grande” quanto no texto de Roland há o reconhecimento da necessidade de liberdade artística para a criação de ficções cinematográficas e do fato de que isso não isentaria cineastas como Cacá Diegues de críticas negativas com relação às suas escolhas para ficcionalizar no cinema a história do negro no Brasil.

Bibliografia

    BERNARDET, JC.Brasil em tempo de cinema:ensaio sobre o cinema brasileiro. SP: Cia das Letras, 2007.
    _______.Cinema brasileiro:propostas para uma história. SP: Cia. de Bolso, 2009.
    _______.Cineastas e imagens do povo. SP: Brasileira, 1985
    CARVALHO, N. S. (Org.). Cinema Negro Brasileiro. SP: Papirus , 2022
    DIEGUES, C.Vida de cinema: antes, durante e depois do Cinema Novo. RJ: Objetiva, 2014
    GERBER, R.Glauber Rocha e a experiência inacabada do Cinema Novo. In GOMES, Paulo Emílio Sales et. al. Glauber Rocha. RJ: Paz e Terra, 1991
    PEREIRA, A.Trajetória e perspectivas do Movimento Negro Brasileiro. BH: Nandyala, 2008
    PERES, E.A aprendizagem da leitura e da escrita entre negras e negros escravizados. Cad. Hist. Educ, Uberlândia, 2020
    RATTS, A.O corpo espelho negro. In NASCIMENTO, Maria Beatriz. O negro visto por ele mesmo.SP: Ubu, 2022
    SILVA, C. M.O negro no cinema brasileiro: uma análise fílmica de Rio, zona norte.Tese FFLCH USP, 2013
    XAVIER, I.Cinema e Descolonização. Filme e Cultura, 1982.