Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Nakazato Jacobina (UFMS)

Minicurrículo

    Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação – PPGCOM pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS e graduado em Audiovisual pela mesma universidade. Atualmente estuda a obra do diretor Sergio Muniz a partir do método da análise fílmica.

Ficha do Trabalho

Título

    Resistir era preciso: apontamentos na sobrevivência do filme Você Também Pode Dar Um Presunto Legal

Eixo Temático

    ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS

Resumo

    Este trabalho propõe analisar o filme “Você também pode dar um presunto legal” (1970/2006) do diretor Sergio Muniz (1935-2023) para investigar a sua relação de produção clandestina e da preservação através da construção das imagens e dos sons propostos pela obra. Sendo o objetivo principal compreender como o filme articula a censura e a violência durante o período ditatorial no Brasil no início da década de 1970.

Resumo expandido

    Em 1970, o diretor Sergio Muniz começa a produzir o filme “Você também pode dar um presunto legal”. Porém, com a impossibilidade de terminar a obra nas circunstâncias da perseguição política e tortura, promulgada pelo Ato Institucional – AI-5, Muniz parte para o autoexílio na França e Itália iniciando uma rota clandestina de produção e preservação cinematográfica (Simis, 2006).
    Na época foi recomendado ao diretor que não exibisse seu filme por tratar de temas como o financiamento de grandes empresas para as práticas de tortura e ainda propor reflexões sobre a ineficiência do Estado diante das ações arbitrárias do Esquadrão da Morte. Ciente dos perigos que envolvia a produção, e diante do cenário de perseguição e violência ditatorial, Muniz escondeu seu filme em película em Cuba, processo que contou com a ajuda do cineasta Chris Marker e do diretor da cinemateca cubana Alfredo Guevara, e guardou consigo uma cópia em VHS até a primeira exibição pública, que se deu em uma mostra universitária organizada mais de 30 anos depois, pela professora e pesquisadora Anita Simis em 2003 na Unesp – Campus de Araraquara, e posteriormente passa por uma reedição que só foi finalizada em 2006 na edição pela qual conhecemos atualmente. Assim sendo, somente décadas depois do golpe civil-militar, é que o filme pôde expor fatos históricos sobre o regime ditatorial brasileiro, quando finalmente a produção veio a público (Leandro, 2019).
    Este percurso, sinaliza uma possibilidade, a de que o filme é um expoente do cinema brasileiro na relação da rede de solidariedade, a mesma que foi construída entre cineastas chilenos e europeus após o golpe de estado de 1973 (Aguiar, 2011), um cenário político comum pertencente aos países da América Latina, que sofreram com a chegada das ditaduras militares na segunda metade do século XX.
    Por meio da análise fílmica é possível identificar na obra, trechos jornalísticos da época, imagens clandestinas que mostram cenas da perpetração, encenações teatrais, atores encenando personagens reais que se incorporam como registros sobreviventes ao tempo fazendo com que “Você também pode dar um presunto legal” assuma a perspectiva de documento histórico, algo semelhante a outros filmes de arquivo produzidos na mesma época que hoje contribuem para a elaboração da memória coletiva sobre a ditadura civil-militar no Brasil (Machado, 2024).
    A obra de Muniz nos mostra um passado pouco conhecido da filmografia brasileira, uma luta de resistência através dos registros visuais. Naquele período, cineastas ameaçados pela censura arriscaram as próprias vidas em prol da sobrevivência de seus filmes, uma vez que poderiam ameaçar a integridade governamental, é como Georges Didi-Huberman nos lembra em seu livro “Images malgré tout” – “uma imagem surge amiúde no momento em que a palavra parece falhar”.

Bibliografia

    AGUIAR, Carolina Amaral de. Cinema e História: documentário de arquivo como lugar de memória. Revista Brasileira de História, v. 31, p. 235-250, 2011.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens Apesar de Tudo. São Paulo: Editora 34, 2003
    FREIRE, Marcius; SCANSANI, C. Andréa [Orgs.]. Por um cinema de cordel: um livro de Sergio Muniz. São Paulo: Alameda Casa Editorial, 2024.
    LEANDRO, Anita. Você também pode dar um presunto legal: um filme clandestino sobre os esquadrões da morte. Revista La Roca, v. 7, p. 308-329, 2020.
    LINDEPERG, Sylvie. La voie des images: quatre histoires de tournage au printemps-été 1944. Paris; Éditions Verdier, 2013
    MACHADO, Patrícia. Cinema de Arquivo: imagens e memória da ditadura militar. Rio de Janeiro: Sagarana Editora, 2024.
    SIMIS, Anita. Sergio Muniz, uma trajetória. Rev. Eptic (online) v. 1, p.11, 2006.
    XAVIER, Ismail. Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Editora 34 Ltda, 2019.