Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Izabel de Fátima Cruz Melo (UNEB)

Minicurrículo

    Doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP, onde também realizou Estágio Pós -Doutoral. Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no Departamento de Ciências Humanas I e no PPGH da mesma universidade.Autora dos livros Cinema é mais que filme”: uma história das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978) e Cinemas, circuitos culturais e espaços formativos: novas sociabilidades e ambiências na Bahia (1968-1978)

Ficha do Trabalho

Título

    O que fabricam as curadorias quando dialogam com a história?

Seminário

    Festivais e Mostras de Cinema e Audiovisual

Resumo

    As incidências entre pesquisa, história, cinema e curadoria têm chamado minha atenção há algum tempo, visto que sou uma destas pessoas que está, junto com muitas outras, nessa zona fronteiriça. Não pretendo reivindicar nenhuma novidade nesta posição, mas gostaria de pensar, ampliando o questionamento de Michel de Certeau (2017[1975]), a respeito da relação entre os historiadores a escrita da história, recolocando-a da seguinte forma: o que fabricam as curadorias quando reivindicam a história?

Resumo expandido

    A pesquisa muitas vezes nos ensina a olhar para o mundo com curiosidade e certa desconfiança daquilo que parece muito estabelecido ou organizado, e a depender dos objetos pelos quais possamos nos interessar, temos que aprender a viver em uma zona liminar, fronteiriça entre dois ou mais campos do saber. Penso que esse é o caso de quem de alguma forma trabalha com cinema, mas de quem trabalha com história também. Imersos nas suas vastidões e singularidades ambos se aproximam, deslocam e transformam imagens, textos, sons em formas narrativas que tanto compõem quanto nos auxiliam a compreender e povoar o mundo e suas temporalidades, constituindo modos de aproximação e interpretação do passado, além do próprio tempo vivido, e às vezes, algum tipo de projeção a respeito do futuro.
    Contudo, estas movimentações internas a cada uma destas áreas propiciam uma série de porosidades e interferências mútuas, que a depender da perspectiva do observador, podem ser mais ou menos perceptíveis, tais como os filmes de temática histórica, e na sua esteira os seus usos nas práticas pedagógicas escolares de vários tipos, seja pelas pesquisas históricas, sobretudo no que tange a história cultural, que se aproximou dos filmes como objeto e das práticas de sociabilidades e trajetórias, compreendendo o cinema além dos filmes estritamente, ou ainda na escrita da história do cinema. Há também a possibilidade da escritura fílmica da história que perturba as concepções historiográficas predominantes, pouco afeitas às imagens.
    Ainda nesta perspectiva, percebemos no cinema não só a história como tema para os filmes, como dito acima, mas também uma apropriação ou transferência de um tipo de narrativa sobre o passado que se estabelece a partir da legitimidade socialmente construída da história como saber científico e ordenado que nos informa sobre o passado. E embora a história tenha sua consolidação como ciência no século XIX – o mesmo período no qual houve o surgimento das tecnologias que propiciam a existência das imagens em movimento que se transformaram no que hoje reconhecemos como cinema – o sentido e a consciência histórica (RUSEN, 2010.P 56-66) não são atributos exclusivos dos historiadores profissionais. Ou seja, há circuitos de aprendizagens socialmente compartilhados que difundem concepções de história na vida cotidiana junto e para além das dimensões formativas escolares e universitárias.
    Entretanto, esta difusão ainda tende a repercutir perspectivas hegemônicas que compreendem a história sob uma visão progressiva, linear e subsumida a compreensão de mundo do que hoje reconhecemos como norte global. Este entendimento está presente em algumas dimensões do cinema, tais como a história do cinema, mas também na crítica e na curadoria, campos de atuação que têm uma íntima, embora nem sempre explicitada relação entre si, sobretudo nas suas formas de escrever, pensar e narrar o cinema, seus sujeitos e práticas.
    Estas incidências entre pesquisa, história, cinema e curadoria têm chamado minha atenção há algum tempo, visto que sou uma destas pessoas que está, junto com muitas outras, na já citada zona liminar. Não pretendo reivindicar nenhuma novidade nesta posição, mas gostaria de pensar, ampliando o questionamento de Michel de Certeau (2017[1975]), a respeito da relação entre os historiadores a escrita da história, recolocando-a da seguinte forma: o que fabricam as curadorias quando reivindicam a história?

Bibliografia

    CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017
    FARGE, Arlette. O sabor do arquivo. 1edição. São Paulo: EDUSP, 2017.
    GRCIC, Ana. Unpaking my archival findings thougths on the chaos of memory and archival resistance to historical legibility. Stretching the archives toward a global women’s films heritage. Lizelle Bisschoff, Ana Grcig e Stefani Van de Peer. Archive books: Berlim/ Dakar, 2024.
    MELO, Izabel de Fátima Cruz. “Cinema é mais do que filme”: uma história das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978). Salvador: EDUNEB, 2016.
    MELO, Izabel de Fátima Cruz. Cinema, circuitos culturais e espaços formativos: novas sociabilidades e ambiência na Bahia (1968-1978). Salvador: EDUNEB, 2022.
    RÜSEN, Jörn. Razão histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Tradução Estevão de Rezende Martins. Brasília, DF: Universidade de Brasília, 2001.