Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Arthur Fernandes Andrade Lins (UFPB)

Minicurrículo

    Professor de Montagem no curso de Cinema e Audiovisual da UFPB. Doutor em cinema pelo PPGCINE/UFF, com pesquisa voltada ao cinema brasileiro contemporâneo em seu diálogo com o gênero de ficção científica. Possui experiência no campo do audiovisual desenvolvendo atividades práticas como diretor, roteirista e montador. Entre seus filmes se destacam os longa-metragens Desvio (2019) e Pele Fina (2022).

Ficha do Trabalho

Título

    Lógicas de ruptura: Estranhamento como efeito estético ou como botar onde não se cabe?

Seminário

    Edição e Montagem audiovisual: reflexões, articulações e experiências entre telas e além das telas

Resumo

    Em meio à lógica da transparência dos meios que impera na contemporaneidade, um desafio crítico imposto ao cinema narrativo seria restituir o potencial de estranhamento como um fator determinante para a experiência fílmica. Neste sentido, proponho analisar operações de enxerto, colagens e ruptura, em busca de refletir sobre seus usos potenciais. Partirei de um trecho do filme ‘Pele Fina’ (2022), onde utilizo material de arquivo pessoal dentro da estrutura narrativa proposta pela ficção.

Resumo expandido

    Um problema recorrente nos estudos teóricos acerca da montagem narrativa diz respeito às operações de corte e seus diversos efeitos de sentido. Seja através de binômios como transparência e opacidade (XAVIER) ou ruptura e continuidade (AMIEL), o que se percebe como fator determinante para a lógica da narrativa é sempre uma relação provisória e imprevisível entre ligações de montagem que ou asseguram a unidade de uma estrutura articulada ou ressalta a sua fragmentação através de segmentos autônomos e inter-independentes. De uma forma ou de outra, é na questão das múltiplas operações de corte, que o debate acerca da contemporaneidade da narrativa adquire contornos conceituais e significados narrativos.
    Assim, a questão da narratividade em suas relações de continuidade e ruptura nos parece um problema renovado no cinema contemporâneo de caráter ficcional, que está sendo levantada por diversas linhas de força teórica, como a permanência de um regime de imagens que esteja ligada ao cinema de atrações e concepções mais amplas sobre o cinema de fluxo.
    Ao recusar a organização das imagens/sons dentro de um sistema narrativo mais convencional, alguns filmes suspendem o regime de representação e sugere formas de acesso a uma poética da fabulação em estado de criação permanente, extraindo força das lacunas do sentido e ampliando as estratégias de estranhamento estético que configura uma vasta discussão no campo das artes, especialmente em seu regime de historicidade moderna.
    O que alguns filmes parecem buscar em suas tramas elípticas e na (des) articulação do material filmado são estratégias de estranhamento, seja a partir de enxertos e usos diversos de imagens de arquivo; jogos de variações temporais que interrompem qualquer continuidade fluida e orgânica; sobreposição de tempos em uma mesma camada narrativa.
    Porém como diferenciar os potenciais usos do corte e da fragmentação que busca um sentido de estranhamento formal que esteja de acordo com a ampliação da experiência estética e sua reverberação no campo do imaginário e do simbólico, de um uso mais pautado na ordem da publicidade e da aceleração dos tempos que interrompem a fruição dos planos e dos sentidos em busca de capturar a atenção à qualquer custo?
    Neste ensaio proposto, partimos dessa inquietação para refletir acerca da lógica de ruptura e da fragmentação que não está de acordo com a massificação dos jump-cuts e do hiper estímulo dos cortes, mas que apontem para um deslocamento de sentido que possa abrir a narrativa de um filme para outros planos de significado. Algo que salta das relações internas do enredo narrativo para dar sobrevida a algum fragmento que busca ainda alcançar algum potencial perdido. Restos e sobras de uma experiência filmada que se vale da lógica da ruptura para causar algum tipo de assombro/estranhamento não previsto em suas relações internas.
    Na condução e na base do ensaio, faço um relato pessoal do processo de criação de montagem do filme “Pele Fina”, longa-metragem escrito e dirigido por mim em 2022, onde utilizei um trecho de material de arquivo pessoal no intuito de criar uma envergadura na estrutura narrativa proposta no filme e criar um efeito de estranhamento na relação dos espectadores com o filme em questão.
    No fundo da reflexão, caberia pensar junto com o repentista paraibano Pinto do Monteiro, para o qual o “Poeta é aquele que tira de onde não tem e bota onde não cabe”.

Bibliografia

    AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto&Grafia, 2010.
    COMOLLI, Jean-Louis. “Algumas notas em torno da montagem”. In: Revista Devires – cinema e humanidades, v.4, n.2, Belo Horizonte, UFMG, jul/dez 2007.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tomam posição: o olho da história. Belo Horizonte/MG: Ed. Humanitas, 2017

    MURCH, W. Num piscar de olhos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

    XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. São Paulo: Paz e Terra., 2005