Ficha do Proponente
Proponente
- Cleide Mara Vilela do Carmo (IFB)
Minicurrículo
- Doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília (2023) e professora de Produção Cultural do Instituto Federal de Brasília (desde 2018). Atualmente, trabalha no Ministério da Cultura. É graduada (2009) em Produção em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia e mestra (2016) em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela UnB. Tem experiência na área de Sociologia da Cultura, com interesse pelo tema da circulação da cultura e do conhecimento.
Ficha do Trabalho
Título
- Festival de Brasília (2000-2024): sentidos da circulação dos cinemas brasileiros
Resumo
- Neste artigo, discuto como os festivais de cinema produzem significados de cinemas brasileiros a partir da circulação de filmes. Utilizo a ideia de processo social de longa duração de Norbert Elias (2006) para pensar como Festival de Brasília do Cinema Brasileiro define os cinemas brasileiros no período de 2000 a 2024 a partir da curadoria e ampliação territorial de sua programação. O acesso à educação e ao aparato técnico de produção audiovisual é cenário para essas reflexões.
Resumo expandido
- Neste artigo, gostaria de discutir como os festivais de cinema são ambientes fundamentais para circulação e pluralidade daquilo que definimos como cinemas brasileiros, principalmente, a partir dos anos 2000. Utilizo a ideia de processo social de longa duração de Norbert Elias (2006) para pensar a circulação, destacando elementos de tecnização (a capacidade de estar em movimento pela exploração de objetos) e de um processo civilizador que gere a capacidade de seres humanos de estar em contato com os diferentes grupos.
Importante sublinhar que compreendo como processos sociais de longa duração as transformações amplas e contínuas de mais de três gerações formadas de seres humanos, tendo em conta que esses processos sociais podem ser reversíveis, não possuindo objetivo nem fim (Ibidem.). Observa-se também que os processos sociais dependem da ação humana, ainda que nenhum ser humano individual seja o início de um processo social, baseia-se, portanto, “no contínuo entrelaçamento de sensações, pensamentos e ações de diversos seres humanos singulares e de grupos humanos, assim como no curso da natureza não-humana”(Elias, 2006 [2002], p. 31).
No ano de 1965, é criado o Festival de Cinema Brasileiro de Brasília, realizado por Jean-Claude Bernardet, Vladimir Carvalho e Paulo Emílio Salles Gomes, então professores da Universidade de Brasília (UnB), e é, hoje, o mais longevo festival realizado no Brasil. Na primeira década dos anos 2000, há duas mudanças tecnológicas que incidem diretamente sobre a dinâmica dos festivais de cinema realizados no país: a ampliação da projeção em formato digital — que passa a ser o formato predominante — e a popularização dos usos da internet através da Web 2.0 (sites e blogs) e do compartilhamento de arquivos peer to peer. Além disso, as políticas públicas de acesso ao ensino superior tiveram como consequência o aumento do número de cursos voltados para o audiovisual e de estudantes universitários, ampliando as possibilidades de produção de filmes e de público. Desse modo, o levantamento realizado por Antônio Leal e Tetê Mattos (2011) indica que o número de festivais realizados no país aumentou de 38 festivais em 1999 para 243 em 2009.
O Festival de Brasília serve de um estudo de caso para ilustrar como os cinemas brasileiros se modificaram no século XXI a partir de uma conjuntura de ampliação de acesso à educação e ao aparato técnico de produção cinematográfica e como esse festival se posicionou em suas definições de cinemas brasileiros desde a curadoria e ampliação de exibição das mostras para outros locais do Distrito Federal. Demonstrando os antagonismos e as complementaridade das diferentes posições de quem faz cinema no país no século XXI.
Bibliografia
- Elias, Norbert. 1994 [1939]. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994a. ______. 2008 [1970]. Introdução à sociologia. Edições 70: Lisboa, Portugal.
Farias, Edson. 2016. O protocolo da pesquisa da circulação na sociologia da cultura, no Brasil. In: Revista Sociedade e Estado Vol. 31 N 3 Set./Dez.
De Valck, Marijke. 2006 [2002]. Escritos e Ensaios: Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
de Valck, M. 2006. Film festivals: history and theory of a European phenomenon that became a global network. Amsterdam: ASCA. Disponível em: https://dare.uva.nl/search?identifier=d7e753a4-4c7e-43f3-9e4e-65ae36f8c582 Acesso 01 mar. 2020.
De Valck, Marijke, Kredell, Brendal e Loist, Skadi. 2016. Film Festivals: History, Theory, Method, Practice. Londres, Nova Iorque: Routledge.
Mattos, Tetê. 2013. Festivais pra quê? Um estudo crítico sobre festivais audiovisuais brasileiros. In: Bamba, Mahomed. A recepção cinematográfica: teoria e estudos de caso. Edufba.