Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    ALEXANDRE MUNIZ (UFRJ)

Minicurrículo

    Mestre em Mídias Criativas UFRJ/2022 com especialização em Economia da Regulação Audiovisual na UFRJ/ 2009. Graduações em Relações Públicas, UERJ/1993 e Cinema, UFF/2001. Experiência na área de Comunicação e Artes, com ênfase em mercado e processos de produção audiovisual brasileiro, análise e avaliação de projetos audiovisuais,, fotografia, edição e montagem, direção de projetos de documentários e assuntos ligados à realidade expandidas, política pública e regulação audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Montagem Expandida no Cinema de Realidade Virtual: Formas e Tendências Emergentes

Seminário

    Edição e Montagem audiovisual: reflexões, articulações e experiências entre telas e além das telas

Resumo

    Este estudo investiga os desdobramentos da montagem audiovisual no Cinema de Realidade Virtual (CRV), analisando como a linguagem tradicional se transforma diante da imersão, interatividade e espacialidade. A partir das ideias de Eisenstein e Tricart, observa-se que a montagem no CRV migra da lógica temporal para a espacial, valorizando a imagem parada, a agência do espectador e formas narrativas híbridas, o que amplia as possibilidades expressivas e sensoriais da experiência cinematográfica.

Resumo expandido

    Este trabalho investiga os desdobramentos da montagem audiovisual no contexto do Cinema de Realidade Virtual (CRV), refletindo sobre como a linguagem cinematográfica tradicional se adapta diante das especificidades da imersão, interatividade e espacialidade. A partir da análise de obras produzidas entre 2017 e 2022, exibidas nos festivais internacionais We Are One e Sundance – New Frontier, observa-se o surgimento de práticas narrativas que deslocam o eixo da montagem linear para uma lógica sensorial e espacial, frequentemente chamada de “montagem vertical” — caracterizada por fusões, sobreposições e transições ambientais que operam simultaneamente em diferentes camadas do ambiente 360º, redefinindo a continuidade audiovisual.
    A pesquisa articula conceitos clássicos de montagem, com ênfase nas formulações de Sergei Eisenstein, especialmente sua proposta de montagem polifônica — entendida como a justaposição de planos capazes de gerar significados múltiplos e simultâneos — conforme exposta em sua obra A Forma do Filme (1949). Essas reflexões dialogam com abordagens contemporâneas como as de Celine Tricart, que investiga as possibilidades técnicas e narrativas da realidade virtual no livro Virtual Reality Filmmaking: Techniques & Best Practices for VR Filmmakers (2018). A metodologia combina revisão bibliográfica, análise comparativa com outras formas artísticas (como teatro imersivo, dança contemporânea, jogos eletrônicos e escape rooms) e estudo de obras em realidade virtual e realidades estendidas (XR) a partir da participação nos dois festivais mencionados.
    No CRV, a montagem desloca-se do domínio do tempo para o do espaço, exigindo novas estratégias de condução do olhar e da atenção do espectador, como o uso de “pontos de interesse” e pistas sonoras diegéticas. A experiência audiovisual torna-se ativa: o espectador deixa de ocupar uma posição passiva para construir sua própria trajetória dentro do universo narrativo. Essa transformação demanda uma reconfiguração de elementos como enquadramento e decupagem, pois o campo visual passa a ser definido pelo corpo em movimento do espectador e não apenas pela câmera, instaurando uma nova relação entre narrativa e fruição.
    O estudo também evidencia o potencial expressivo do CRV na criação de atmosferas sensoriais e no envolvimento emocional, ao explorar corporeidade, presença e agência como aspectos centrais da experiência imersiva. As obras analisadas revelam tendências como a convergência com jogos digitais, a incorporação de mecânicas interativas e a experimentação com linguagens híbridas, reforçando o caráter experimental e transdisciplinar do CRV.
    Uma tendência significativa é a valorização crescente da imagem parada como recurso expressivo, sem cortes abruptos. Criadores de CRV exploram estratégias visuais para enriquecer momentos estáticos e suavizar transições, utilizando sobreposição de elementos gráficos, inserção de imagens planas em esferas 360º e montagem espacial. Essa abordagem promove uma fluidez narrativa distinta, na qual a expressividade da imagem em 360 graus é potencializada sem recorrer à montagem clássica baseada em sucessão de planos.
    Conclui-se que a montagem no CRV se reinventa ao abandonar a lógica sequencial tradicional e assumir funções sensoriais, espaciais e relacionais. A linguagem cinematográfica, historicamente ancorada na sucessão temporal de planos, encontra no CRV uma nova articulação — pautada por conexões simultâneas e pela presença ativa do espectador. Assim, o CRV não apenas transforma a montagem como prática técnica, mas desafia os fundamentos da linguagem audiovisual moderna, abrindo um campo fértil para investigações sobre novas formas de narratividade, sensibilidade e engajamento. Essa transição sugere que, no cenário contemporâneo, o cinema imersivo amplia o papel da montagem como mediadora entre percepção, espaço e afetos.

Bibliografia

    EISENSTEIN, S. A Forma do Filme. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2002.
    ELSAESSER, Thomas. Cinema como Arqueologia das Mídias. Edições Sesc, 2018.
    JERALD, J. The VR Book: Human-Centered Design for Virtual Reality. Illinois : ACM Books, 2016.
    OLIVEIRA, Claudia. CINEMA VR: Entre Fronteiras. UNESP, 2022. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/217284. Acesso em: 28 out. 2024.
    POTENGY, Andre and VELHO, Luiz. A Linguagem Cinematográfica Frente aos Desafios da Realidade Virtual. Technical Report TR-10-2017, VISGRAF Laboratory – IMPA, 2017.
    SILVA, A. R. da, & Filho, A. C. (2020). A experiência imersiva no cinema 360º: uma análise dos filmes interativos. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação, 5(2), 1-15.
    TRICARD, C. Virtual Reality Filmmaking: techniques & best practices for VR Filmakers. New York : Routledge, 2018.
    TORI, Romero; et. al. Fundamentos e Tecnologia da Realidade Virtual e Aumentada. Editora: SBC, 2006.