Ficha do Proponente
Proponente
- Letícia Gomes de Assis (UFSCar)
Minicurrículo
- Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na linha de História e Políticas do Audiovisual. É graduada (2018) e mestra (2023) em Imagem e Som pela mesma universidade. Integra o grupo de pesquisa Audiovisual na América Latina: Economia e Estética e atua como extensionista no Núcleo de Pesquisa e Extensão Rural da UFSCar. É produtora e realizadora de cinema e audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- O curso de Cinema da UnB e a constituição das bases para o ensino superior de Cinema no Brasil
Seminário
- Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil
Resumo
- A implantação do curso de Cinema na UnB em 1965 marcou a primeira oferta de um curso superior para a carreira em uma universidade pública no país. Destacando-se pela preocupação em formar quadros para o cinema brasileiro, a experiência, contudo, foi interrompida devido à crise política instaurada na UnB com o golpe civil-militar. Propomos reconstituir as atividades do curso ao longo de 1965, refletindo sobre suas contribuições para a constituição das bases do ensino superior de cinema no Brasil.
Resumo expandido
- A implantação do curso de Cinema na Universidade de Brasília (UnB) em 1965 marcou a primeira articulação de um curso para a carreira de Cinema promovido em uma universidade pública no Brasil. A entrada do Cinema na UnB colocou em diálogo a atuação direta de personalidades como Paulo Emílio Salles Gomes, Jean-Claude Beranrdet, Lucilla Ribeiro Bernardet e Nelson Pereira dos Santos, fortemente vinculadas à cultura cinematográfica da época, a um projeto de universidade que pretendia servir de vanguarda para o processo de reforma e modernização destas instituições no país (Motta, 2014, p. 32).
As primeiras versões de currículo para o curso de Cinema da UnB foram elaboradas por Paulo Emílio Salles Gomes ao longo de 1964 e propunham uma divisão geral em três ciclos (Gomes, 1964/1965, PE/PI 0146). O primeiro deles seria o preparatório, com duração de um semestre, destinado a introdução dos estudantes no universo da atividade cinematográfica. No ciclo seguinte, denominado básico, teria início a formação técnica e artística. Por fim, o ciclo profissional consistiria no oferecimento de disciplinas de especialização, como direção, roteiro e economia cinematográfica.
Em 1965, a primeira turma ingressa no curso e, seguindo o que foi possível viabilizar do esquema elaborado em 1964, as disciplinas obrigatórias oferecidas foram “Análise de Filme”, “Introdução ao Cinema Brasileiro”, e “Técnica Cinematográfica”. As duas primeiras consistiram em cursos teóricos, ministrados por Paulo Emílio, já “Técnica Cinematográfica”, oferecida por Nelson Pereira dos Santos, previa a realização de atividades práticas e teóricas e envolveu a produção do curta-metragem documental Fala Brasília (Nelson Pereira dos Santos, 1966), filmado como trabalho final da disciplina.
O segundo semestre letivo contou com as disciplinas de “Técnica Cinematográfica” e “Prática Cinematográfica”, ambas tendo como professor Nelson Pereira dos Santos, e os cursos de “Cinema Brasileiro”, e “História do Cinema”, ministrados por Paulo Emílio Salles Gomes, tendo como instrutores Lucilla Ribeiro Bernardet, para o primeiro, e Jean-Claude Bernardet, para o segundo. Em “Cinema Brasileiro”, o programa previa o desenvolvimento das discussões a partir da obra do cineasta Humberto Mauro, “História do Cinema”, por sua vez, se dedicaria ao debate do cinema documental.
Contudo, esta experiência pioneira de curso de Cinema teve fim ainda em 1965 e sua rápida dissolução está entrelaçada à crise instaurada na instituição após o golpe civil-militar de 1964, o que incluiu a prisão e expulsão de professores e estudantes, culminando no pedido de demissão coletiva do corpo docente da instituição no segundo semestre de 1965, ocasião na qual todos os docentes do curso de Cinema se demitiram (Souza, 2002, p. 429-430).
Apesar de sua brevidade, esta etapa inicial do curso de Cinema da UnB destacou-se pela preocupação em “formar quadros artísticos, técnicos e intelectuais para o cinema brasileiro” (Autran, 2013, p.289), questão que povoava as discussões em torno da implantação de cursos superiores de Cinema desde os primeiros Congressos Brasileiros de Cinema, realizados no início da década de 1950, onde a proposta de criação de uma Escola Nacional de Cinematografia era compreendida como parte do impulso necessário para o desenvolvimento do cinema nacional (Silva, 2004, p.41; Souza, 2005, p.64).
Além disso, a implantação do Curso de Cinema da UnB concretizou em seu curriculo reflexões a respeito do ensino de cinema em suas dimensões práticas e teóricas, dialogando com experiências da década anterior, como o curso para Dirigentes de Cineclubes, de 1958 (Zanatto, 2022), e outras articuladas depois, como a criação dos cursos de Cinema na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Federal Fluminense (UFF) (Silva, 2004, p.60), fundamentando a consolidação da área enquanto disciplina acadêmica e carreira profissional de nível superior no Brasil.
Bibliografia
- AUTRAN, A. O cinema no campo da comunicação. In: LIMA, J. C. G. R; MARQUES DE MELO, J. (Org.). Panorama da comunicação e das telecomunicações no Brasil 2012/2013 – Memória. 1ed. Brasília: IPEA, 2013, v.4, p. 275-291.
GOMES, P.E.S. Justificativa do curso de técnica e história do cinema. Cinemateca brasileira; Coleção PESG, 1964/1965, PE/PI 0146.
MOTTA, R. P. S. As universidades e o regime militar: cultura política brasileira e modernização autoritária. 1ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.
SILVA, L. R. A formação em Cinema em Instituições de Ensino Superior Brasileiras. Dissertação de mestrado, ECA/USP, São Paulo, 2004.
SOUZA, J. I. M. Paulo Emílio no Paraíso. 1ed. Rio de Janeiro: Record, 2002
______. Congressos, patriotas e ilusões e outros ensaios de cinema. São Paulo: Linear B, 2005.
ZANATTO, R. M. O Curso para dirigentes de cineclubes (1958): Momento decisivo para a formação dos cursos universitários de cinema no Brasil (UnB e ECA-USP). CIBERLEGENDA (UFF. ONLINE), v.1, p. 71-90, 2022.