Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Elianne Ivo Barroso (UFF)

Minicurrículo

    Professora de Montagem no curso de Cinema e Audiovisual da UFF. Atua como pesquisadora nos programas de pós-graduação PPGCine/UFF e PPGMC/UFRJ. Suas investigações se concentram na atuação de montadores brasileiros (1910-2010) e também na estética e montagem de cartografias audiovisuais.

Ficha do Trabalho

Título

    Montagem e IA: a análise do estilo de montagem de Maximo Barro

Seminário

    Edição e Montagem audiovisual: reflexões, articulações e experiências entre telas e além das telas

Resumo

    Investigaremos como a IA pode analisar o ‘estilo de montagem’ de um filme. A partir de ferramentas de IA voltadas para o audiovisual, a ideia é alimentar as plataformas e programas de IA com o que chamamos ‘estilo de montagem’ (fragmentação ou invisibilidade do corte, duração de planos, transições, ritmo, continuidade espaço-temporal, som etc.) para, em seguida, submeter trechos de filmes para a análise. Como estudo de caso, escolhemos 3 obras do montador Máximo Barro (1930 – 2020).

Resumo expandido

    Em 2024, finalizamos o levantamento para a pesquisa Montadores Brasileiros junto à base de dados da Cinemateca Brasileira (Filmografia Brasileira), chegando a identificar quase onze mil nomes entre 1917 e 2010. A ideia do projeto agora é fazer uma linha do tempo que conte a história do cinema brasileiro através de 200 montadores. Dentre estes, vamos escolher os 50 nomes mais importantes segundo o volume de produção e pela relevância do trabalho. Para estes 50 montadores, pretendemos aprofundar a pesquisa, entendendo mais a miúde a trajetória profissional de cada um, descrevendo a sua formação, as parcerias estabelecidas ao longo da carreira e os filmes montados. O desafio maior é identificar um ‘estilo de montagem’ que pode se constatar pela recorrência de gestos singulares e observáveis nos filmes montados. Lembramos aqui da montadora francesa Noëlle Boisson, que confirma que há de fato um estilo de montar. É inclusive uma pergunta que todo montador precisa se fazer antes de aceitar um trabalho. “A atração que podemos sentir por um realizador é primordial na nossa escolha. ‘O filme é para mim, ou não? Terei a mesma forma de pensar, o estilo, o gosto?” (2005, p. 12).
    Especificamente para a nossa pesquisa, o ‘estilo de montagem’ é então verificado a partir da análise fílmica, observando tanto a questão estrutural da narrativa, a predominância de uma estética (Amiel, 2017), a questão do ritmo (Pearlman, 2009), a passagem de um plano a outro (Bordwell e Thompson, 2013). Já realizamos cerca de 15 perfis sempre a partir da lógica descrita acima e a partir sempre de 3 longas metragens que refletem a trajetória profissional do personagem estudado. Além do trabalho de observação, consideramos os depoimentos dos próprios montadores ou de colaboradores, mas também outros documentos que comentam o processo de montagem (críticas, artigos acadêmicos, livros de história etc.).
    A título de experimentação para o presente trabalho, queremos apresentar os resultados da análise da obra de um montador baseada em ferramentas de IA como Google Cloud Video, Intelligence Runaway RL, Shotdetect etc. Inicialmente vamos definir os conceitos em torno do que seria o estilo de montagem ( fragmentação ou invisibilidade do corte, duração de planos, transições, ritmos, continuidade espaço-temporal, som etc.) a fim de treinar as plataformas e ferramentas. Em seguida, extrairemos sequências de filmes para serem analisadas segundo os critérios pré-estabelecidos e veremos se há de fato recorrência nos gestos de montagem e se poderemos considerá-los um estilo de montagem.
    Como estudo de caso optamos por analisar três filmes de Máximo de Barro (1930- 2020). Ele é o nome mais citado no nosso levantamento da Filmografia Brasileira. Como montador, colaborou com vários realizadores e se dedicou à memória do cinema brasileiro, reunindo farto material e entrevistas com diretores e técnicos. Foi também professor, tendo lecionado na Faap/SP durante vários anos.
    Selecionamos os seguintes longas-metragens: As histórias de Pedro Malasartes (1960), A ilha (1962) e O vigilante (1992). O primeiro, dirigido por Amácio Mazzaropi, conta a história de um caipira traido pelos irmãos depois da morte do pai. Sem dinheiro e propriedade, vai para a rua só com um ganso e um tacho. Acaba na companhia de crianças de rua e se mete em várias confusões para obter dinheiro. O segundo é realizado por Walter Hugo Khouri e trata de um grupo de milionários que se perdem em uma ilha, brigando entre si por causa da sobrevivência. O último filme é de Ozualdo Candeias com uma história de um violeiro do interior que vem para a cidade em busca de uma vida melhor. Porém só consegue trabalho como vigilante. Revoltado com a violência da comunidade em que mora, o homem resolve fazer justiça com as próprias mãos usando a arma que usa no trabalho.

Bibliografia

    AMIEL, V. A estética da montagem. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.
    BOISSON, N. La sagesse de la monteuse de film. Paris: Éditions J.C. Béhar, 2005.
    BORDWELL, D e THOMPSON, K. A arte do cinema: uma introdução. Campinas: Editora Unicamp, 2013.
    IVO-BARROSO, E.Montadores brasileiros 1910-1940. In: MARQUES, A BARROSO, E. et HAYASHI, S. (dir.) Montagem Audiovisual. Reflexões e Experiências. ST 2021 e 2022. São Paulo: Polytheama , 2023.
    PEARLMAN, K. Cutting Rhythms: Shaping the Film Edit. Focal Press, 2015.
    PUPPO, E. (dir.) A montagem no cinema. Mostra de filmes realizada no CCBB. São Paulo, 2006.
    RANDOLPH, E. (dir.) . Cinema de montagem. Mostra de filmes realizada na Caixa Cultural. Rio de Janeiro e São Paulo , 2015.
    SCHETTINO, P B.C. Diálogos sobre a tecnologia do cinema brasileiro. São Paulo , Ateliê Editorial, 2007.
    STERNHEIM, A. Maximo Barro. Talento e altruísmo. Coleção Aplausos. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009.