Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduarda de Oliveira Figueiredo (UFSCar)

Minicurrículo

    Doutoranda em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos. Realizou Mestrado em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal de Mato Grosso (2023). Tem Bacharelado em Audiovisual pelo Centro Universitário Senac São Paulo (2017), onde participou do Programa de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística na linha de Cultura Visual (2015). Integra como estudante o grupo de pesquisa CINEMÍDIA – Estudos sobre História e Teoria das Mídias Audiovisuais.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema da Rozsa Filmes no Brasil: qual melodrama?

Resumo

    A produtora Rosza Filmes, situada no Recôncavo Baiano (BA), realiza cinema e desenvolve projetos de cinema e educação. O seu modo de realização fílmica atravessa o processo colaborativo e coletivo de criação de linguagem em suas obras desde 2011. Neste trabalho pretendemos perceber, por meio da análise fílmica, como a intensidade do modo de produção se revela também em momentos melodramáticos de seus diferentes longas-metragens.

Resumo expandido

    O objetivo é examinar os momentos melodramáticos dos filmes Café com canela (2017), Ilha (2018), Até o Fim (2019), Voltei! (2020), Na Rédea Curta (2022) e Mugunzá (2022), da produtora Rosza Filmes, observando como a intensidade dos seus modos de produção se revelam nas obras. Por meio da análise fílmica considerando-os também como o resultado de um conjunto de relações e circunstâncias dos quais decorrem suas realizações, questionamos como elas trazem diferentes contextos e compreendem o projeto de cinema dessa produtora, cujo modo de realização fílmica atravessa o processo colaborativo e coletivo de criação de linguagem, “popular e pedagógica” (Rocha, 2023, p. 64), em suas obras desde 2011 – numa junção da forma de fazer o filme e da forma filme (Reis, 2023).
    Segundo a Revista Cinética (2021) o “[…] aparecimento no cenário público da Rosza Filmes […] é um dos eventos históricos mais importantes da última década do cinema brasileiro. Seu método de trabalho — que associa uma intensa coletividade no processo, uma relação forte com iniciativas de educação, uma ancoragem em um território singular [Recôncavo Baiano], uma abertura à errância e à experimentação dos modos de fazer filmes e um diálogo denso com as tradições do cinema brasileiro — é indissociável da multiplicidade formal e do aspecto aventuresco materializado nas obras”. Por que aspecto aventuresco e multiplicidade formal nos remete ao que estamos aprendendo como melodrama a partir de Williams (2018)?
    Partimos da percepção de que este é um cinema do campo, da distorção da lente, do que está dentro da tela e do imperativo da palavra e do som – da oralidade –, questionando e comparando se é aí que está o melodrama. Esse melodrama que opera em um conjunto de sensações, que está nesses filmes, em momentos, seja nas táticas de antecipação, seja na adesão às personagens através do sentimento, das emoções, seja pelas suas subjetividades, seja na provocação e comunicação com a pessoa espectadora a sentir o sentimento. Há em campo, na tela, uma interação entre a intensidade do trabalho de atuação do elenco e a exploração do espaço onde a encenação e a expressão da direção do filme se constroem, sendo o trabalho da direção de arte estrategicamente articulado buscando reforçar o que vemos em cena.
    Aqui sugerimos, conforme aponta Christine Gledhill (2018), não para o que é o melodrama – uma questão taxonômica –, mas o que ele fez e faz – questão estética e cultural. Linda Williams analisando os estudos sobre melodrama de Thomas Elsaesser e Peter Brooks, lançados na década de 1970, afirma que o termo melodrama não foi capaz de se desvincular da noção de excesso e marginalidade estilística. Em comparação a esses autores ela considera o salto que o historiador do drama Matthew Buckley (2012) fez ao compreender à quase ubiquidade do melodrama na cultura popular e o fato deste autor validá-lo com a própria ideia de Williams de que o melodrama é o que Henry James (1941), sobre A Cabana do Pai Tomás, chamou de “(…) peixe saltador” (“leaping fish”) – um modo cujo dinamismo adaptativo, variação transformacional e movimento intermediário parece ser capaz de saltar para quase qualquer lugar, mesmo que também “continuamente fuja de nosso alcance” (James, 1941, p. 156-60, apud Williams, 2018, p. 206, tradução nossa). Seu desejo nesse trabalho é convencer o campo do cinema e da mídia sobre a modernidade, a pertinência e a difusão das formas de melodrama como um modo que reflete sobre a modernidade, “salta” de uma mídia para outra e se traduz de uma cultura para outra. Ela propõe a antitese do elefante do melodrama às teses da classicalidade do cinema e traz a metáfora de que o melodrama é como um homem cego e um elefante: tudo depende de qual parte do animal se toca primeiro. Essa ideia do elefante na sala – algo de tamanho enorme e todo variável – para chamar o melodrama nos interessa para lidar com produções da Rosza Filme e começar a pensar nele como algo maior e com vida mais longa.

Bibliografia

    GLEDHILL, Christine. Prologue: The Reach of Melodrama. In: GLEDHILL & WILLIAMS (eds.) Melodrama Unbound, Columbia University Press, New York, 2018, p. IX-XXV.
    NICÁCIO, Glenda; ROSA, Ary. Aqui não se anda só. [Entrevista concedida a] Juliano Gomes, Ingá, Mariana de Lima, Calac Nogueira e Victor Guimarães. Revista Cinética, 2021. Disponível em: http://revistacinetica.com.br/nova/tag/5xroszafilmes/. Acesso em: 20 jan. 2025.
    NICÁCIO, Glenda; ROSA, Ary. “Nós gostamos de fazer filmes e gostamos de fazê-los juntos”: uma conversa com Glenda Nicácio e Ary Rosa. [Entrevista concedida a] Lorenna Rocha. 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Universo Produção, 2023, p. 64-76.
    REIS, Francis. Os filmes da Rosza Filmes. In: 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Universo Produção, 2023, p. 26-27.
    ROCHA, Lorenna. “Nós gostamos de fazer filmes e gostamos de fazê-los juntos”: uma conversa com Glenda Nicácio e Ary Rosa. 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Universo Produção, 2023, p. 64-76.