Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Júlia Hoffmeister Schneiders (UFRGS)

Minicurrículo

    Júlia Hoffmeister Schneiders é graduanda em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É bolsista de Iniciação Científica e participa do Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação (GPESC).

Ficha do Trabalho

Título

    A Visão Caleidoscópica em Era o Hotel Cambridge (2016)

Eixo Temático

    ET 4 – HISTÓRIA E POLÍTICA NO CINEMA E AUDIOVISUAL DAS AMÉRICAS LATINAS E DOS BRASIS

Resumo

    A proposta da pesquisa é, além de aprofundar o sentido da “visão caleidoscópica” em Era o Hotel Cambridge (2016), estabelecer uma rede conceitual observando outros conceitos utilizados pela cineasta Eliane Caffé, como “narrativa dialógica” e “zona de conflito”, e observar como essa rede se movimenta propondo uma possível “quebra do caleidoscópico” na transição para o filme seguinte de Caffé, Para Onde Voam as Feiticeiras (2020).

Resumo expandido

    Esta apresentação visa dar seguimento ao estudo do conceito de “visão caleidoscópica”, expresso em “Era o Hotel Cambridge” (2016) e nos textos das cineastas Eliane Caffé e Carla Caffé relacionados ao filme. A ideia da investigação surgiu de um escrito de Eliane no livro “Era o Hotel Cambridge: Arquitetura, cinema e educação”: ela afirma que se trata de produzir uma “visão caleidoscópica do mundo”, por meio de uma “riqueza dos personagens” e de “pequenos momentos de intensa humanidade” (p. 234). Nesta etapa da pesquisa, o objetivo é, além de aprofundar o sentido da “visão caleidoscópica” no filme, estabelecer uma rede conceitual, observando outros conceitos utilizados pela cineasta, tais como “narrativa dialógica” e “zona de conflito”. Além disso, procura investigar como essa rede se movimenta, promovendo uma possível “quebra da visão caleidoscópica” na continuidade da teoria de Eliane e Carla, especialmente na transição para o filme seguinte, “Para onde voam as feiticeiras” (2020). Metodologicamente, a pesquisa está ancorada na Teoria de Cineastas, que busca formular a teoria do cinema com base em conceitos, filmes e proposições de cineastas. No caso da presente pesquisa, há uma ênfase no aspecto conceitual, articulado com os filmes já referidos.
    O caleidoscópio é um dispositivo óptico cilíndrico formado por um conjunto de espelhos e que contém, em uma de suas extremidades, um recipiente com “objetos de pequeno volume, como pedaços de pano de diferentes cores, conchas, pedras falsas etc.” que, ao se misturarem, “se combinam diante dos olhos de mil maneiras curiosas sempre regulares e nunca semelhantes.” (Didi-Huberman, p.143). Em consonância com o pensamento de Walter Benjamin, para Didi-Huberman o caleidoscópio não deve ser reduzido a um procedimento específico, mas a um “modelo teórico”, que “surge de maneira significativa nos contextos em que a estrutura do tempo é problematizada” (p.160). Além disso, Benjamin enxerga o caleidoscópio como uma caracterização da modernidade e do “curso da história” (p.161).
    Até então, é possível perceber que a visão caleidoscópica se apresenta de duas maneiras principais no filme: como uma metáfora, designando a diversidade narrativa de personagens e contextos, além de uma reunião de imagens de formatos e texturas diversas, e como uma visualidade caleidoscópica, que embora não seja um padrão de todo o filme, é expressa de forma potente em uma cena fundamental e emblemática, denominada de “O coração da ocupação”. Nesta, os personagens que, com o jogo de luz, se tornam sombras e perdem sua identidade narrativa, dançam organizados em uma espécie de círculo e mudam de posição a cada “giro”, marcado por um som e pela mudança de cores, o que pode ser relacionado com o movimento das peças coloridas do caleidoscópio formando imagens múltiplas e diversas. Evidencia-se, então, que assim como o caleidoscópio é um espaço restrito (uma caixa), o prédio é um lugar fechado com uma riqueza de vivências e memórias, ou seja, uma riqueza em termos de tempo.
    Falar de uma visão caleidoscópica em Era o Hotel Cambridge nos leva a pensar no próximo filme de Caffé, “Para Onde Voam as Feiticeiras”. Neste, o objetivo é sair do espaço fechado, como afirmam as cineastas em entrevista com Alex Gonçalves: “Eu quero fazer um filme na rua!” (Caffé, 2021). Com a transição de um filme feito quase inteiramente dentro de um prédio para um filmado em espaço aberto, surgem novas formas de se pensar o espaço e o tempo. Podemos interpretar, assim, que há uma “quebra do caleidoscópio”. Além disso, é importante ressaltarmos a existência de uma rede conceitual em torno da visão caleidoscópica: conceitos como “polifonia”, “narrativa dialógica” e “zona de conflito” são abordados pelas cineastas e também qualificam o que vem a ser uma visão caleidoscópica. Essa rede conceitual é complementada e deslocada por outros conceitos que se referem ao filme seguinte, como “dispositivo” e “ossatura do cinema”.

Bibliografia

    CAFFÉ, Eliane. Construindo o filme Era o hotel Cambridge. In: CAFFÉ, Carla. Era o hotel Cambridge: arquitetura, cinema e educação. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2017. p. 234-245

    CINE RESENHAS (ALEX GONÇALVES). ELIANE CAFFÉ e CARLA CAFFÉ | Entrevista com as diretoras de PARA ONDE VOAM AS FEITICEIRAS. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PIwlMEhDvxI. Acesso em: 1 de abril de 2025.

    DELEUZE, Gilles. O ato de criação. DELEUZE: Gilles. Dois regimes de loucos: textos e entrevistas (1975-1995). São Paulo: Editora 34, 2016. pp.332-343

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: História da Arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2015.

    PENAFRIA, Manuela; LEITES, Bruno; BAGGIO, Eduardo; CARVALHO, Marcelo. Fazer a teoria do cinema a partir de cineastas – entrevista com Manuela Penafria. Entrevista concedida a Bruno Leites, Eduardo Baggio e Marcelo Carvalho. In: Intexto, n. 48, p. 6-21, jan./abr. 2020.