Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Marco Túlio de Sousa Ulhôa (PUC Minas)

Minicurrículo

    Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, na linha de pesquisa de Estudos de Cinema e Audiovisual. Coordenador do Grupo de Estudos de Cinema e Audiovisual Latino-Americanos (CNPq)

Ficha do Trabalho

Título

    O que é a fase neobarroca do Nuevo Cine Latinoamericano?

Resumo

    Ao questionar a existência de uma fase neobarroca do Nuevo Cine Latinoamericano, o estudo indaga não só se o movimento teria de fato uma história dividida em etapas, mas se o resgate das formas do barroco, encontradas no mesmo contexto nos campos da literatura e das artes, também se manifesta no cinema latino-americano. É compreendendo as especificidades do conceito de neobarroco que a pesquisa lança uma série de interrogações sobre os filmes realizados na América Latina, a partir dos anos 1970.

Resumo expandido

    O Nuevo Cine Latinoamericano é um movimento subcontinental que articula diferentes cineastas e filmes produzidos na América Latina, entre os anos de 1967 e 1985. Definição que tem como consenso entre a crítica, o seu marco inicial no V Festival de Cine de Viña del Mar, realizado no Chile, em março de 1967, bem como seu marco final com a criação da Fundación del Nuevo Cine Latinoamericano, em 1985. No entanto, por mais que o entendimento em torno dos marcos inicial e final do movimento permita delimitá-lo temporalmente, as possibilidades de ampliar o entendimento dos processos históricos e das transformações estéticas ocorridas no desenvolvimento deste período, apontam para as distintas chaves de interpretação, através das quais a história do Nuevo Cine Latinoamericano se organizou em diferentes etapas.
    Umas das interpretações mais comuns é a que distingue a primeira fase do movimento, entre 1967 e 1973, como um período de “consolidação e expansão” do projeto cinematográfico firmado em Viña del Mar, quando foi redigida a sua primeira declaração. Em contraponto, é a afirmação dos regimes ditatoriais em grande parte da América Latina, com o golpe de Estado no Chile, em 1973, o ponto de virada para uma segunda fase definida por alguns críticos, como uma etapa de “institucionalização e dispersão” que vai de 1973 a 1985. Por sua vez, no artigo Teoría del Nuevo Cine Latinoamericano: de la militancia ao neobarroco, o pesquisador porto-riquenho, Paul A. Schroeder Rodríguez, se ampara nas considerações de Irlemar Chiampi para sustentar que os ciclos de ruptura identificados pela pesquisadora no contexto da modernidade literária latino-americana, como processos baseados no resgate da arte barroca, também servem como instrumentos para o estudo do cinema no continente, permitindo entender as mudanças que acarretaram na passagem de uma “fase militante” à uma “fase neobarroca” no Nuevo Cine Latinoamericano, ocorrida entre o fim da década de 1960 e o início de 1970.
    Em outro artigo, La fase neobarroca del Nuevo Cine Latinoamericano, o pesquisador elabora sua divisão do movimento em duas fases, sendo a primeira marcada pela perspectiva militante em que predomina a influência do documentário e da estética realista, em representações baseadas nos projetos de libertação política, social e cultural almejados nos diferentes países latino-americanos, durante a década de 1960. Em decorrência, a segunda fase situada entre os anos 1970 e 1980, seria marcada por uma poética neobarroca, a partir da qual muitos dos cineastas que foram militantes, reconceitualizaram seus trabalhos para responderem a um projeto mais complexo: o de desenvolver o equivalente cinematográfico de um discurso político pluralista oposto ao autoritarismo e ao monologismo dos regimes expressivos que se impuseram na região no final dos anos 1960.
    Dois elementos entram, portanto, em composição no que o pesquisador define como a segunda fase do Nuevo Cine Latinoamericano: o realismo e o projeto político da fase militante; e a poética neobarroca expressa através de narrativas alegóricas e metaficcionais. A seu ver, a fase neobarroca radicaliza a práxis da fase militante, uma vez que redefine sua epistemologia empírica em prol, não de um idealismo empírico, mas de uma realidade mediada pelas estruturas barrocas do pensamento. O que resultaria em um cinema visualmente complexo e intelectualmente desafiante, capaz de relativizar as verdades absolutas dos regimes ditatoriais instalados na América Latina, a partir dos anos 1960. Logo, cabe ao presente estudo questionar se os filmes associados à segunda fase do NCL revelam, de fato, algo em comum que permita identificar não só uma nova etapa do movimento, mas as suas relações com o que foi definido pela teoria literária como neobarroco. É diante deste desafio que a guinada estética observada nestas produções é tomada como objeto para entender o que seria tanto a sua fase neobarroca quanto o próprio Nuevo Cine Latinoamericano.

Bibliografia

    DÁVILA, Ignacio del Valle. Cámaras en trance: El Nuevo Cine Latinoamericano, un proyecto cinematográfico subcontinental. Santiago: Editorial Cuarto Propio, 2014.
    FRÍAS, Isaac León. El nuevo cine latinoamericano de los años sesenta: Entre el mito político y la modernidad fílmica. Lima: Universidad de Lima, Fondo Editorial, 2014.
    NÚÑEZ, Fabián Rodrigo Magioli. O que é Nuevo Cine Latinoamericano? O Cinema Moderno na América Latina segundo as revistas cinematográficas especializadas latino-americanas. 2009. 657 f. Tese (Doutorado em Comunicação) – Departamento de Comunicação, Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009.
    RODRÍGUEZ, Paul A. Schroeder. La Fase Neobarroca Del Nuevo Cine Latinoamericano. Revista de Crítica Literaria Latinoamericana, Lima, ano 37, n. 73, p. 15–35, jul. 2011.
    _______________. Teoría del Nuevo Cine Latinoamericano: de la militancia al neobarroco. Valenciana, Guanajuato, ano 6, n. 12, p. 129-154, dez. 2013.