Ficha do Proponente
Proponente
- Uriel Nascimento Santos Pinho (DU)
Minicurrículo
- Escritor e realizador audiovisual da região amazônica. Mestre em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Estudante de doutorado do Department of Romance Studies da Duke University (EUA) e Graduate Fellow do Center for Latin American and Caribbean Studies da mesma universidade.
Ficha do Trabalho
Título
- Artistas-Pesquisadores e Videodança na Amazônia: diálogos metodológicos com o Coletivo Difusão (AM)
Seminário
- Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas
Resumo
- Este é um ensaio sobre como as perspectivas de artistas-pesquisadores, especialmente da segunda metade do século XX na América Latina e no Caribe, podem inspirar metodologicamente a pesquisa acadêmica sobre audiovisual na Amazônia. Este exercício é conduzido junto ao Coletivo Difusão, de Manaus (AM), e seu trabalho com videodanças entre 2009 e 2011. Focamos em possíveis contribuições em dois pontos: no desenho de pesquisas colaborativas e na análise fílmica de algumas das obras do Difusão.
Resumo expandido
- Este é um ensaio sobre como as perspectivas de artistas-pesquisadores, especialmente da segunda metade do século XX na América Latina e no Caribe, podem inspirar metodologicamente a pesquisa acadêmica sobre audiovisual na Amazônia, seja em seus aspectos textuais/plásticos (ex. uso da primeira pessoa, narrativas, centralidade da escrita), metodológicos/epistemológicos (ex. divisão sujeito/objeto, autoria individual/coletiva) e institucionais (ex. hegemonias das instituições universitárias, museais e arquivísticas e seu legado colonial, papel de pesquisadores junto a organizações como movimentos sociais e artísticos). As obras e processos artísticos são compreendidos como agentes epistemológicos ativos, capazes de informar perspectivas teóricas e resistir a violências epistêmicas e hierarquias materiais e epistemológicas. Assim, inspirados por métodos artísticos -particularmente os de Maya Deren, Critical Art Ensemble, Colectivo Situaciones, Guillermo Gómez-Peña e Coletivo Difusão- reflete-se sobre como abordagens artísticas contribuem para novas formas de questionamento e colaboração acadêmica. Este exercício metodológico é conduzido junto ao Coletivo Difusão, grupo de artistas de Manaus (AM), e seu trabalho com videodança entre 2009 e 2011. Em contexto de recursos limitados na Amazônia brasileira, as obras do Difusão se inserem em importante processo regional de ação coletiva e experimentação digital da época, propondo reflexões sobre identidades e territórios amazônicos. Neste ensaio, focamos em dois pontos: a construção de uma pesquisa colaborativa junto a membros do coletivo e o impacto que o diálogo com eles teve no modo como conduzimos a análise fílmica de algumas de suas obras. Como insight inicial para este trabalho, esteve a obra de Guillermo Gómez-Peña com o coletivo La Pocha Nostra, que nos levou a pensar sobre como o corpo, por meio da performance, pode criar narrativas não-lineares ou peças visuais não narrativas (Gómez-Peña and Rachel Rogers 2005, 97) – nos levando ao interesse pelas videodanças. Originalmente, esta pesquisa pretendia compreender como a presença do corpo nas videodanças poderia oferecer novas perspectivas sobre as relações entre sujeitos e os ambientes urbanos e florestais amazônicos, questionando o potencial político e artístico das videodanças nesse campo. Ao longo da pesquisa, entretanto, esses objetivos mudaram, por inspiração do conceito de “receptividade desinteressada” de Maya Deren (Deren, 1983, 7), voltando-se a uma abordagem mais aberta às perspectivas dos próprios artistas, que destacavam o suporte digital e o trabalho coletivo como centrais para a produção das videodanças. Outra provocação importante vem do Critical Art Ensemble (CAE 2001, 66), que desafia a suposição de que ações culturais coletivas necessariamente implicam estabilidade ou consenso, destacando o papel da solidariedade para essas ações, ao mesmo tempo em que alerta para os riscos de solidariedades baseadas apenas na similaridade. Por fim, analisamos as videodanças “Algoritmo” (2009) e “Meio fio” (2009), dirigidas por Michelle Andrews, destacando questões ligadas à estética digital, corporeidade e fragmentação, em diálogo com as interpretações dos próprios artistas, em entrevistas. A experiência com o Coletivo Difusão revelou também como a flexibilidade metodológica é essencial para lidar com tensões entre agência individual e coletiva. Essa dinâmica ficou evidente na própria colaboração com o membro do Difusão, Allan Gomes, principal interlocutor desta pesquisa, num diálogo que desafiou estruturas rígidas (ex. pesquisador/fonte), mas levantou questões sobre documentação e atribuição de créditos em pesquisas colaborativas. Esperamos que este exercício se desdobre em outras ações de pesquisa junto a acervos e filmes de curta-metragem da Pan-Amazônia, como os do Coletivo Difusão, muitas vezes subestimados pela crítica e academia, conectando-os com outras formulações das Américas, sem ignorar suas especificidades.
Bibliografia
- Algoritmo. Digital, Videodança. Michelle Andrews, 2009.
Andrews, Michelle. Entrevista com Michelle Andrews. Video Digital, 6 de dezembro de 2024.
Colectivo Situaciones. “Sobre el Militante Investigador”. Transversal, 2003.
Critical Art Ensemble. “Observations on Collective Cultural Action”. Em Digital resistance: Explorations in tactical media. Autonomedia, 2001.
DeBouzek, Jeanette. “Maya Deren: A Portrait of the Artist as Ethnographer”. Women & Performance: A Journal of Feminist Theory 5, no 2 (janeiro de 1992): 7–28.
Deren, Maya. Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti. McPherson & Company, 1983.
Gomes, Allan. Entrevista com Allan Gomes. Video Digital, 5 de dezembro de 2024.
Gómez-Peña, Guillermo, e Elaine Peña. Ethno-Techno: Writings on Performance, Activism, and Pedagogy. New York: Routledge, Taylor & Francis Group, 2005.
Meio-fio. Digital, videodança. Michelle Andrews, 2009.
Stoco, Savio. Entrevista com Savio Stoco. Video Digital, 6 de dezembro de 2024.