Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz Rodovalho (Sorbonne Nouvelle)
Minicurrículo
- Beatriz Rodovalho é pesquisadora, professora, programadora e responsável pela distribuição na Cinédoc Paris Films Coop. Pesquisadora associada ao Institut de recherche sur le cinéma et l’audiovisuel da Universidade Sorbonne Nouvelle (IRCAV), seu trabalho atual centra-se principalmente no estudo dos cinemas indígenas. Ela coordena também o festival de cinema Brésil en Mouvements (Paris, França).
Ficha do Trabalho
Título
- Devir-fera: circulações estéticas e históricas no cinema Mbyá-Guarani
Seminário
- Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos
Resumo
- Essa comunicação propõe pensar as circulações estéticas e históricas das formas e práticas cinematográficas estruturantes do cinema mbyá-guarani a partir do filme A Transformação de Canuto (Ariel Kuaray Ortega, Ernesto de Carvalho, 2023). Como a metamorfose selvagem de Canuto, considerando que o filme coloca a representação à prova de sua própria possibilidade de inscrição, propõe-se, através de sua narrativa desterritorializante, explorar o devir-fera deste cinema.
Resumo expandido
- Essa comunicação propõe pensar as circulações estéticas e históricas das formas e práticas cinematográficas estruturantes do cinema mbyá-guarani a partir do filme A Transformação de Canuto (Ariel Kuaray Ortega, Ernesto de Carvalho, 2023).
O filme, por meio de uma estrutura movente baseada na intertextualidade assim como na atualização e na (re)criação de histórias compartilhadas, desloca paradigmas representacionais desenvolvidos pelos filmes realizados durante a primeira década da produção do Coletivo Mbyá-Guarani de cinema – este cinema cuja possibilidade advém do próprio paradigma da metamorfose : como diz Ariel Kuaray Ortega, trata-se de transformar a câmera em um ser guarani. Estabelecendo um regime adjacente à ficção e ao documentário, o filme revela possibilidades de retomada – de subversão, torcimento, expansão, destruição e elaboração narrativas por meio do cinema.
Interrogando as histórias do passado recente da comunidade Tamanduá (Misiones, Argentina), assim como seus movimentos de transmissão e de reinvenção permanente, o filme coloca em jogo a narração possível da história de Canuto, homem que sofreu o ojepotá, tendo-se transformado em onça. Em uma narrativa auto-reflexiva e comunitária, que desterritorializa a poética e a política do cinema mbyá-guarani, o filme abre o Arquivo do cinema e da história-memória mbyá-guarani a outras possibilidades de circulação e inscrição.
A essa história-memória da comunidade, articulam-se outras, notadamente a história da morte de Dionísio, o karaí, avô de Ariel, cuja iminência e posterior acontecimento coloca a comunidade diante de uma nova transformação. Outra é a história coletiva da ditadura argentina – a do Estado-nação dos invasores e colonizadores deste tempo. Como elaborá-las no presente? Como sua transmissão participa da resistência e da produção do nhande reko, modo de ser guarani?
Como a metamorfose selvagem de Canuto, o filme coloca a sua representação à prova de sua própria possibilidade de inscrição cinematográfica. Em um percurso analítico certamente atravessado por equívocos (Viveiros de Castro) e afetos, propõe-se assim, através da narrativa desterritorializante do filme, explorar o devir-fera deste cinema.
Bibliografia
- BRASIL, André. “O olhar da onça: sonho e cinema em A transformação de Canuto”. In: Catálogo do forumdoc.bh.2024. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2024. pp. 227-239.
BRASIL, André. “Bicicletas de Nhanderu: lascas do extracampo”. Devires, Belo Horizonte, v. 9, n. 1, Jan/jun 2012. pp. 98-117
DE CARVALHO, Ernesto. Becoming Image: Historical Imagination and Video Making Among the Mbyá-Guarani. Tese de doutoramento em Antropologia, sob a orientação de Faye Ginsburg, New York: New York University, 2019.
DERRIDA, Jacques. Mal d’archive. Paris: Galilée, 1995.
LACERDA, Rodrigo. Por um plano sem plano: Cinema e Patrimónios Mbya-Guarani. Tese de doutoramento em Antropologia, sob a orientação de João Leal e Renato Athias. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2019.