Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Carolina Rodrigues Mendonça Martins (UFRJ)

Minicurrículo

    Bacharela em Artes e Design e em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens (UFJF). Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde desenvolve pesquisa sobre a escrita cômica dos anos 1950 e os diálogos entre a televisão brasileira e outras mídias nesse período.

Ficha do Trabalho

Título

    Ecos do rádio: A chanchada e a adaptação cômica de programas radiofônicos

Resumo

    Este trabalho investiga a relação entre a escrita cômica das chanchadas e dos programas cômicos de rádio na mesma época, explorando-se o conhecimento do público sobre tropos e estrelas comuns aos dois meios e como se dava essa adaptação também de personagens e esquetes, fenômeno que também se repetiria posteriormente na televisão brasileira.

Resumo expandido

    Este trabalho investiga a relação entre a escrita cômica das chanchadas e dos programas cômicos de rádio produzidos no mesmo período. Em um primeiro momento, busco analisar essa relação por meio de algumas obras selecionadas, explorando o conhecimento do público sobre os tropos e as estrelas que permeavam ambos os meios. As chanchadas, com o objetivo de gerar lucro por meio da repetição de fórmulas e da redução de custos de produção, faziam uso recorrente de personagens e esquetes previamente consagrados em outras mídias – no rádio, no teatro e no circo. Nesse contexto, observa-se a formação de um certo “star system”, mais pronunciado na comédia nacional do que nas produções “sérias”. Assim, figuras consagradas do rádio eram frequentemente convocadas para as produções cinematográficas, criando um vínculo entre os dois meios e promovendo um senso de familiaridade junto ao público. O uso dessas figuras já estabelecidas garantiu o sucesso das produções e, ao mesmo tempo, o reconhecimento mútuo dos artistas facilitava a aceitação do público.
    Filmes como Abacaxi Azul (1944), Pif-Paf (1945) e Segura essa mulher (1946) ilustram esse fenômeno, ao utilizarem não apenas performers já conhecidos pela audiência, mas também esquetes e piadas originalmente veiculadas no rádio, criando uma sensação de “déjà-vu” nos espectadores, que reconheciam os ecos dos programas cômicos.
    Esse fenômeno também se estendeu ao início da televisão brasileira, particularmente na década de 1950, onde se observou a continuidade da prática de reaproveitamento de produções anteriores. O filme Balança, mas não cai (1954), por exemplo, contou com protagonistas originários do rádio, vindos de um programa homônimo da Rádio Nacional (1950-1967). A partir desse momento, pode-se traçar uma linha de continuidade até programas como Primo Pobre e Edifício Treme-Treme, ambos transmitidos pela TV Record nos anos 1950. Esse ciclo, em que as mesmas figuras e fórmulas cômicas transitam entre as mídias, evidencia a forte interconexão entre elas, alimentando-se mutuamente e criando uma cultura popular de fácil consumo.
    Além disso, também me interessa refletir sobre as condições de produção às quais essas mídias estavam sujeitas, e como a figura do escritor “pau para toda obra” surge como um efeito colateral das condições de trabalho atípicas em que esses profissionais estavam imersos, como exemplificado por Mário Lago. Assim, esse repertório amplo de alguns autores que neste período produzem obras em diversos meios surge não só de uma afinidade ou de um desejo pessoal, mas da incerteza financeira que fazia esses autores optarem por um regime de “bicos”, especialmente os autores de rádio, por não terem o capital cultural de outras mídias, como o teatro.

Bibliografia

    AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandeiro: A chanchada de Getúlio a JK. São Paulo: Schwarcz, 1989;
    CALABRE, Lia. A era do rádio: Descobrindo o Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2004;
    FREIRE, Rafael de Luna. Descascando o abacaxi carnavalesco da chanchada: A invenção de um gênero cinematográfico nacional. Contracampo, 23 ed., p. 66-85, 2004;
    PEREIRA, Carlos Alberto M; MIRANDA, Ricardo. O nacional e o popular na cultura brasileira: Televisão. São Paulo: Brasiliense, 1983;
    RAMOS, José Mario Ortiz. Televisão, publicidade e cultura de massa. Petrópolis: Vozes, 1995;
    VIEIRA, João Luiz. A chanchada e o cinema carioca (1930-1955). In: RAMOS, Fernando (org). História do cinema brasileiro. São Paulo: Art Editora, 1987, p. 129-188;