Ficha do Proponente
Proponente
- Guilherme Rezende Landim (Unicamp)
Minicurrículo
- Guilherme Landim é doutorando no PPG Multimeios (Unicamp), articulador do coletivo turvo, realizador em cinema, curador, pesquisador e pensador de imagens. Participa dos grupos: Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM/Unicamp), Laboratório Multiusuário de Comunicação – (TERRAMÃE/Unicamp), Cine Pagu (Unicamp), Lá´grima – Laboratório antropológico de grafia e imagem (IFCH/Unicamp), Fundação Ateliê TRANSmoras (Unicamp) e “Protagonismo dos Saberes e das Coisas Afrodiaspóricas” (NUPECM/UERJ).
Ficha do Trabalho
Título
- Batuque de Nelson Silva: territórios audiovisuais e comunidades-imaginadas
Resumo
- Imagens afetivas do Batuque Afro-brasileiro de Nelson Silva revelam o espírito comunitário do grupo afromineiro que mantém por mais de 60 anos a tradição cultural de Nelson Silva em Juiz de Fora (MG). O filme Batuque:(en)cantos de luta e a equipe em campo tornam-se elementos agregadores e narrativos da experiência onírica de um quilombo cultural urbano grafado no conjunto de imagens-memórias e suas narrativas orais e visuais em luta pela reconfiguração simbólica da tessitura social juizforana.
Resumo expandido
- As encantarias propostas na linguagem audiovisual, bem como no conjunto de imagens do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, podem ser analisadas como um território de sobrevivência e propulsão da experiência cosmopoética de um quilombo cultural urbano para novas temporalidades, novos imaginários e comunidades imaginadas resistentes.
O Batuque, como um movimento cultural, torna-se também um espaço de construção de uma identidade coletiva afro-brasileira. Os sambas, mambos, rumbas, boleros e as canções folclóricas que Nelson Silva resgatava, além de preservarem uma memória musical, continuam sendo instrumentos de luta. Ao criar um espaço comunitário onde os integrantes poderiam expressar suas angústias, suas alegrias e suas resistências, Silva transformou a sonoridade em um ato de afirmação da identidade negra e da sua ancestralidade. No contexto de um Brasil onde as questões raciais eram frequentemente silenciadas, o Batuque tornou-se uma plataforma de visibilidade para o povo negro. Neste contexto, o cinema é considerado uma camada adicional de memórias do espaço-tempo, um território de reinvenção e uma ferramenta estética, política e poética de partilha do sensível (RANCIÈRE, 2009) e de manutenção histórica da memória cultural do grupo, que é patrimônio imaterial de Juiz de Fora (MG).
Entre 2015 e 2024 foram realizadas pesquisas com o Batuque Afrobrasileiro de Nelson Silva envolvendo um conjunto de memórias: um documentário curta-metragem, um média-metragem, uma exposição fotográfica física e uma galeria virtual. Analisamos o papel e o processo criativo das imagens na construção de um imaginário coletivo diante da dinâmica das representações e performances. Nessa análise, refletimos sobre o lugar das imagens, investigando como a experiência sensível do documentário se torna um espaço de negociação de identidades (HALL, 2003), memórias (ASSMAN, 2011; MARTINS, 2021), a partir da teoria do cinema documental (NICHOLS, 2005), antropologia da imagem (PIAULT, 2018), etnografia fílmica (MONTE-MÓR, 2013), das construções identitárias (SOBRINHO; CARVALHO, 2016) e dos estudos culturais como métodos e processos de investigação. Além disso, buscamos compreender as dimensões performáticas e comunitárias do Batuque Afrobrasileiro de Nelson Silva por meio do conjunto de imagens-memórias, na perspectiva de comunidades imaginadas (ANDERSON, 2008) e imaginários comunitários.
Bibliografia
- ASSMAN, Aleida. Formas de memoria colectiva. Madrid: Nueva Visión, 2011.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
MARTINS, José de Souza. Memória e Sociedade: Recordações de Velhos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2021.
MONTE-MÓR, Patrícia. Antropologia visual e etnografia fílmica. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2013.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas, SP: Papirus, 2005.
PIAULT, Marc-Henri. Antropologia e imagem. São Paulo: Paulus, 2018.
RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2009.
SOBRINHO, G.; CARVALHO, N. Identidades e Representações Sociais. Revista de Ciências Humanas, v. 16, n. 25, p. 11-26, 2016.