Ficha do Proponente
Proponente
- Lívia Maria Gonçalves Cabrera (PPGCine/UFF)
Minicurrículo
- Bacharel em Ciências Sociais pela UFSCar (2010) e em Cinema e Audiovisual pela UFF (2017), mestre pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF (2020) e doutoranda no mesmo programa. Realiza pesquisa sobre Carmen Santos e a Brasil Vita Filmes. É servidora técnica administrativa federal desde 2010, com passagem pela UFSCar e ANCINE. Atualmente é gerente do Cine Arte UFF, sala de cinema com perfil universitário e comercial localizada em Niterói-RJ.
Ficha do Trabalho
Título
- O trabalho e as relações profissionais de Carmen Santos para a consolidação da Brasil Vita Filme
Mesa
- Pioneiros do cinema brasileiro: biografias, trajetórias e redes de sociabilidade
Resumo
- A proposta partirá da análise do material de pesquisa reunido pela pesquisadora Ana Pessoa, que contém entrevistas realizadas nos anos 1980 sobre Carmen Santos, propondo um diálogo com algumas ideias e propostas da própria Carmen sobre o cinema brasileiro divulgadas através da imprensa nos anos 1930 e 40. Buscaremos avançar na investigação do trabalho de produtora de Carmen Santos frente à constituição da Brasil Vita Filme e de que modo ela mediou os conflitos estéticos e econômicos do período.
Resumo expandido
- A comunicação partirá de um recorte do material de pesquisa reunido por Ana Pessoa para seu trabalho sobre Carmen Santos iniciado nos anos 1980, em que ela, junto de outros pesquisadores, entrevistaram familiares da atriz e algumas personalidades importantes do cinema brasileiro que conviveram e trabalharam com Carmen, especialmente no período da Brasil Vita Filme, nos anos 1930 e 1940. A partir de informações sobre o cotidiano laboral em seu estúdio, suas relações, procuraremos dialogar com algumas ideias e propostas da produtora sobre o cinema brasileiro divulgadas através da imprensa.
Sabe-se que Carmen usou da imprensa para divulgar sua imagem e seus projetos, utilizando muito bem jornais e revistas para se legitimar enquanto estrela e empresária, desde muito nova (PESSOA, 2002). Carmen entendeu rapidamente a imprensa como um importante instrumento para a construção de sua carreira e a utilizou massivamente enviando fotografias, fornecendo conteúdo de seus filmes, procurando sempre estar em evidência. Como Carmen morreu precocemente e pouco escreveu sobre suas atividades, a imprensa se tornou uma rica fonte para investigarmos quais eram seus sentimentos e perspectivas em relação ao que se produzia de cinema no país, quais os projetos ela tinha intenção de filmar, os papéis que gostaria de interpretar, suas análises e apostas para o que considerava ser um projeto brasileiro de cinema.
Também é importante destacar que a análise desse material, a maioria realizados quase 50 anos após a atuação de Carmen, nos permitirá compreender melhor os espaços de circulação nas quais Carmen estava imersa. A distância temporal e o trabalho realizado por um conjunto de historiadores que se dedicaram aos primeiros anos da historiografia do cinema brasileiro, permitiram que os entrevistados fossem abordados de uma maneira mais direta sobre as atividades de produtora de Carmen. Nota-se uma diferença em relação aos textos da imprensa da época em que, na grande maioria, ela é abordada como uma estrela, uma animadora da cinematografia nacional, ressaltando sua beleza física e desconsiderando suas atividades mais técnicas.
Tendo iniciado sua carreira ainda muito jovem, após sua primeira atuação em Urutau (1919), Carmen começou a aparecer na imprensa ao divulgar seus primeiros projetos como empresária, em 1924: A Carne e Mademoiselle Cinema. Seu nome encontrou espaço entre aqueles primeiros jornalistas que se dedicavam ao cinema, como Pedro Lima e Adhemar Gonzaga. Através dessa rede de sociabilidade, fortemente entrelaçada pelo contexto de fundação da revista Cinearte (1926 – 1942), Carmen conseguirá cada vez mais espaço para falar de suas ideias e apoio para realizar seus projetos (filme e estúdio), se aproximando de outros realizadores e técnicos como Humberto Mauro, Edgar Brasil, Mário Peixoto, além de muitos jornalistas e escritores que forneciam a ela argumentos e temas para realizações, como Brasil Gerson, Henrique Pongetti e Jorge Amado.
Este intercâmbio, do qual Carmen fez parte ativamente, Arthur Autran (2013) considera como as primeiras ideias que formaram uma “consciência cinematográfica” e marcaram o início de um “pensamento industrial cinematográfico brasileiro”. Claro que essas trocas e aproximações com diferentes nomes da nossa cinematografia acabaram por marcar as escolhas e decisões de Carmen no trabalho na Brasil Vita Filme, empresa fundada em 1934, onde ela procurou colocar em prática o que aprendeu e defendeu nos anos anteriores.
Com as entrevistas do material de pesquisa reunido por Ana Pessoa e as matérias em que Carmen fala sobre seu trabalho, a proposta é procurar desenvolver uma abordagem diferente dessa importante figura histórica do cinema brasileiro, traçando sua trajetória e seu trabalho frente à constituição da Brasil Vita Filme e as parcerias com diversos técnicos e produtores do cinema brasileiro que, ainda que de maneira bastante irregular, permitiram ao seu estúdio constituir uma filmografia no cinema brasileiro.
Bibliografia
- AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
FERREIRA, Suzana C. de Souza. Cinema carioca nos anos 30 e 40. Os filmes musicais nas telas da cidade. São Paulo: Annablume, 2003
LUCAS, Taís Campelo. Cinearte: o cinema brasileiro em revista (1926 – 1942). Dissertação de mestrado em História. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
MELO, Luís Alberto Rocha. Cinema Independente: produção, distribuição e exibição no Rio de Janeiro (1948-1954). Tese (Doutorado em Comunicação). Niterói, Universidade Federal Fluminense, Instituto de Arte e Comunicação Social, 2011.
VIEIRA, João Luiz. “A chanchada e o cinema carioca (1930 – 1955)”. In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila (Org.). Nova História do cinema brasileiro (vol. 1º). São Paulo: Edições SESC, 2018, p. 392 – 431).
PESSOA, Ana. Carmen Santos: o cinema dos anos 20. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.