Ficha do Proponente
Proponente
- Erika Savernini (UFJF)
Minicurrículo
- Professora Associada III da UFJF, doutora em cinema pela EBA-UFMG, atual diretora da Faculdade de Comunicação Social (desde 2022), coordenadora do projeto de Extensão Cineclube Lumière e cia (desde 2013), autora do livro Índices de um cinema de poesia (Ed. UFMG) e editora do livro póstumo de Eduardo Leone, Reflexões sobre a montagem cinematográfica (Ed. UFMG), líder do grupo de pesquisa “Cinepoiética – grupo de pesquisa em processos criativos cinematográficos”.
Ficha do Trabalho
Título
- A humanidade sob o olhar de Krzysztof Kieslowski
Seminário
- Teoria de Cineastas: dos processos de criação à dimensão política do cinema
Resumo
- A obra do polonês Krzysztof Kieslowski estende-se desde os anos 1960, quando se formou na Escola de Lodz, até 1996. Embora tenha se dedicado principalmente à produção documental no início da sua carreira, dirigiu igualmente filmes ficcionais tanto para a televisão quanto para o cinema. Além de ter uma visão própria (metafórica, literal e formalmente) sobre o mundo, observamos que este modo de observação e de articulação do cineasta atravessa tanto gêneros, quanto tempo e contextos de produção.
Resumo expandido
- A obra do polonês Krzysztof Kieslowski estende-se desde meados dos anos 1960, quando se formou em cinema na prestigiada Escola de Lodz (onde também se formaram Andrzej Wajda e Roman Polanski, dentre outros/as destacados/as cineastas poloneses), até o meio dos anos 1990 (tendo falecido em 1996, deixando inacabado o projeto de adaptação livre de A Divina Comédia em uma nova trilogia). Embora tenha se dedicado principalmente à produção documental no início da sua carreira (inclusive durante sua formação em Lodz), dirigiu igualmente filmes ficcionais tanto para a televisão quanto para o cinema – a partir da série produzida para a televisão polonesa, o “Decálogo”, sua obra volta-se para a ficção com o sucesso de filmes em coprodução com países da Europa Ocidental, “A dupla vida de Veronique” e a “Trilogia das Cores” (A liberdade é Azul, A igualdade é branca e A fraternidade é vermelha). Em 30 anos de carreira, entre filmes para a televisão e para o cinema, entre curtas e longas, documentários e ficções, dirigiu mais de 40 filmes, tendo roteirizado ou co-roteirizado a maioria. Além de ter uma visão própria (metafórica, literal e formalmente) sobre o mundo e, particularmente, sobre as pessoas, observamos que este modo de observação e de articulação do cineasta atravessa tanto gêneros (havendo uma forma comum entre seus filmes documentais e ficcionais), quanto tempo (embora haja um “refinamento” na forma fílmica, mantem a mesma “sensibilidade” durante os 30 anos de sua carreira) e contextos de produção (seja por meio, tv ou cinema, seja pela estrutura de produção – baixo orçamento / coproduções de maior orçamento). Segundo o cineasta (KIESLOWSKI, STOK, 1993), mesmo em seus filmes com cunho mais explicitamente político (sejam documentários, sejam as ficções dos anos 1970), o que o interessa são as pessoas, suas motivações, o que as movem, mas buscando narrativas que levantassem questões e não respostas para as situações pelas quais suas personagens passam. Nas mesmas entrevistas, Kieslowski confessa sua paixão pela observação das pessoas. O que se traduz, em termos do sistema formal fílmico, em narrativas que têm um “filme subterrâneo”, pelo qual a história da personagem é a forma expressa de um pensamento sobre o mundo (PASOLINI, 1981), que têm poucos diálogos expositivos (seja pelo “silêncio” das personagens, seja pelos diálogos que mais insinuam, trazendo à tona o não dito), pelas formas fílmicas relacionadas à direção de fotografia, música, atuação e encenação (sendo aspectos que, em determinados momentos, tornam-se inclusive opacos, indícios do diálogo que se estabelece entre personagem, cineasta e espectador). Tendo um interesse particular também pelo acaso, pelas coincidências, pelas sincronicidades, o sistema formal dos filmes do cineasta, procuram trazer algo de uma vivência presentificada, brutalmente significativa, ainda que uma experiência dificilmente traduzível em uma linguagem verbal. Neste aspecto, trazendo para nossa análise a proposta teórica do Cinema de Poesia de Pasolini (1981), é como se o filme buscasse ser Cinema, a entidade abstrata que se concretiza com o corte, na montagem, se tornando filme (como a morte faz com a vida, fechando os sentidos de cada momento). “O cineasta assume um papel como de um observador da realidade (enquanto rede sígnica), utilizando o instrumento próprio do cinema […] para tentar [criar] a ambiguidade, a incerteza e a imprevisibilidade da vida cotidiana e, principalmente, dos seres humanos (transformados em personagens)” (SAVERNINI, 2004, p.115). A partir da experiência fílmica proposta, concentrada na observação sobre as pessoas, em distintos gêneros, metragens e contextos de produção, buscamos a sensibilidade que perpassa a obra de Krzysztof Kieslowski e sua visão de mundo e da humanidade.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas: Papirus, 2004.
AUMONT, Jacques. Pode um filme ser um ato de teoria? Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 1, n. 33, p. 21-34, jan/jun, 2008.
ECO. Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1988.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
GRAÇA, André Rui; BAGGIO, Eduardo; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema, Revista Científica/FAP, Curitiba, v.12, p. 19-32, jan./jun. 2015.
KIESLOWSKI, Krzysztof; STOK, Danusia. Kieslowski on Kieslowski. London: Faber & Faber, 1993.
PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo hereje. 2 ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 1981.
REVISTA DE ITALIANÍSTICA. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, v.1, n.1, jul/1993.
SAVERNINI, Erika. Índices de um Cinema de Poesia: Pier Paolo Pasolini, Luis Buñuel e Krzysztof Kieslowski. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004.