Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Ianca Santos de Oliveira (UFRB)

Minicurrículo

    Mestranda em Comunicação, Mídia e Formatos narrativos – UFRB com bolsa CAPES é Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia pela UFRB. Participa do grupo de Pesquisa e Extensão em Arte, Imagem e Visualidades da Cena (VISU) da UFRB. Foi membro do Programa de Educação Tutorial PET – Cinema entre 2018 a 2021. CEO Aterrar Produções, onde desenvolveu o projeto 1 FILME POR MÊS durante a pandemia do COVID- 19.

Ficha do Trabalho

Título

    VINTE E DOIS: O AUTORRETRATO DA TRANSMASCULINIDADE NEGRA

Seminário

    Tenda Cuir

Resumo

    Esta pesquisa tem como objetivo é compreender como as imagens do corpo transmasculino operam fissuras na normatividade impostas pelo homem branco cisgênero. Analisando o filme 22 de Taylon Protásio tendo como aparato metodológico: a análise fílmica investigando de como as performances sociais são construídas e desconstruídas na trama e de como a narrativa conduz a local de reconhecimento de si mesmo no espelho cinematográfico a partir da forma que é enquadrada cada cena.

Resumo expandido

    Estabeleço no centro desta análise o filme 22 de Taylon Protásio realizado no ano de 2022, o curta-metragem retrata a história de um garoto negro que não se reconhecia com o seu gênero de nascença, porém se reconheceu com características lidas como masculinas. Das poucas imagens que sobraram da sua infância, os atos performáticos que são expostas sobre a mesa replica reencenações heteronormativas. O diretor/personagem reconstrói no seu presente outras formas de se ver recriando a sua própria imagem e representação diante da sua família. Quando o passado, presente e futuro se encruza outras dimensões performativas são colocadas em disputas em uma fronteira tradicionalmente frequentada por homens e mulheres cisgêneros que regulamentam as arbitrariedades dos desejos e das vontades de todos aqueles que extrapolam as normas.

    Como estratégia metodológica utilizarei o método de análise fílmica para analisar as encenações sociais de um corpo que desestabiliza as categorias hegemônicas intervindo sobre sua representação na tela. Como o corpo de Taylon é construído e desconstruído na cena entendendo de que maneira os marcadores sociais de raça e gênero influenciam na construção identitária e do discurso daqueles que decidiram romper com valores normativos.

    Quando analisamos a linguagem cinematográfica empregada no filme através dos enquadramentos e da narrativa nos deparamos com plano que resume a intervenção do corpo é reflexo de um modo de gravar a cena, ou seja, Taylon se torna criador de si mesmo. A visão de Deus, conhecido como o plano que enquadra o objeto/sujeito de cima para baixo, eleva o filme ao plano de transcendência com intuito de enquadrar as imagens de arquivos com o divino criado pelo diretor, ou seja, o olhar do personagem sobre ele mesmo. Ao pôr a câmera desta forma, ele possibilita que o espectador veja o seu mundo de um ponto de vista que conduz a história a local que jamais poderia ser acessado se não fosse gravado com essa intenção estilística.

    Ao analisar a narrativa, a decisão da primeira imagem de um filme é algo importante para qualquer história que nos propomos a retratar nas telas. Quando Taylon fala “acho que deveria começar a partir daqui”. A expressão daqui exposta faz referência a imagem dele em uma festividade escolar. Ele continua narrando com a mesma imagem e diz “Talvez por falta de memória, ou por falta de arquivo começo com essa imagem”. Faço uma descrição da primeira imagem do filme que foi capturada na posição vertical: Taylon, está vestido de coelhinho com orelhas e com duas flores feitas de materiais encontrados em papelaria cobre os brotos mamários. A voz de Taylon e toda trilha sonora pensada para a obra fortalece seu discurso identitário de modo a não deixar que só as imagens discursem por si e nem que o apagamento delas reverbere no seu presente de modo a apagar tudo que foi conquistado para se tornar Taylon Protásio.

    Outro método de análise aplicado a esta escrita é da montagem umbigada. De acordo com Bogado et al (2022, p. 9). “Na montagem umbigada, a linguagem gestual aparece com força. Os corpos encenam, se movimentam, por vezes dançam e fazem dançar atraindo outros para o centro da roda. Um balé, tal qual o samba de roda, que imprime em sua coreografia a importância da experiência comunitária para a constituição dos corpos-coletivos e afetivos”. Em fabulação com Bogado et al. Nestes cruzos imagéticos que imprime uma coreografia das imagens estáticas movimentadas e convocadas através de um corpo que dança com as mãos e atrai outros corpos-afetivos para o centro da tela.

    Esta análise faz parte da pesquisa de mestrado intitulada Corpas Negras Dissidentes no Cinema Universitário da UFRB e tem como referencial teórico os respectivos autores bell hooks no tópico que ela fala da reconstrução da masculinidade negra, trago ainda Leda Maria Martins quando ela fala do corpo-tela em diálogo com o conceito de performance de André Brasil e as performances de gênero com Judith Butler.

Bibliografia

    BOGADO, A;. SOUZA, S;. Montagem Umbigada: um método decolonial de leitura, fabulação e circulação de imagens. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2025.

    BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade – 26ª ed.- Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2024.

    LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho. 3. ed – Belo Horizonte: Autêntica, 2024.

    HOOKS, bell. Olhares Negros: Raça e Representação. Tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2019.

    MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.

    MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. ed. – Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

    PENAFRIA, Manuela. Análise de filmes – conceitos e metodologia(s). In: VI Congresso SOPCOM, Lisboa, 2009. Anais eletrônicos… Lisboa, SOPCOM, 2009.