Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Victória Ester Tavares da Costa (UFPA)

Minicurrículo

    Doutora (PPGSA) e mestra (PPGA) em Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Especialização em Amazônia, História, Espaço e Cultura pela FIBRA e em Cidades em Disputa – Pesquisa, história e processos sociais pela Escola da Cidade. Bacharel em Comunicação Social- Publicidade e Propaganda, pela Universidade da Amazônia (UNAMA) e em Cinema e Audiovisual pela UFPA. Vinculada ao Grupo Naverrâncias (PPGSA/UFPA) e ao Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV/UFRGS).

Ficha do Trabalho

Título

    Audiovisual nas baixadas de Belém-PA: imaginários, produções e processos coletivos

Seminário

    Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos

Resumo

    O audiovisual realizado em territórios de baixadas, em Belém/PA, constitui-se como ferramenta de luta social, não somente pela abordagem política das temáticas urbanas contemporâneas, mas pelo fazer coletivo sensível de obras que trazem à tona as histórias orais das comunidades, registram atividades e acontecimentos cotidianos e elaboram as paisagens da cidade. São narrativas fora de um “centro” que complexificam imaginários acerca de urbanidades da região amazônica.

Resumo expandido

    Belém, capital do estado do Pará, é uma metrópole localizada em uma península banhada pelo rio Guamá e pela baía do Guajará, ao nível do mar, o que contribui para o surgimento das baixadas da cidade, áreas de várzea, alagadiças. Cidade amazônica. As baixadas, portanto, se constituem em territórios historicamente marginalizados nessa urbe, em que a relação com as águas contribui consideravelmente para a criação de dinâmicas socioculturais próprias nestas localidades.
    As histórias contadas sobre a região amazônica orbitam em torno de uma série de imaginários criados acerca da região desde a época do período colonial, até os dias atuais. Grande parte reverbera ou foi reinventada até a contemporaneidade. Indo de encontro ao movimento de reforço da exotização de cidades amazônicas, há coletivos, produtoras e iniciativas que têm o audiovisual como ferramenta de registro de suas histórias (sejam de si, de sua comunidade, sua família, seu bairro), apostando na ambivalência da linguagem, em que se pode ouvir os mais antigos (ressaltando a relevância da tradição oral na região) e mostrar o cotidiano, seus personagens, atividades e paisagens, evocando o sensível (SANSOT, 2018; SILVEIRA, 2009) e o simbólico (DURAND, 2008).
    O audiovisual, portanto, se constitui como documentação, mesmo diante de resistências que desafiam tais narrativas dominantes, tornando-se uma forma de afirmar a presença dessas comunidades nas margens da cidade e da produção cultural nacional. Iniciativas como o Telas em Movimento, que busca a “democratização do cinema”, possibilitando o acesso “às periferias da Amazônia”, agrega diversos coletivos e produtoras que valorizam o fazer audiovisual a partir de comunidades periferizadas.
    Assim, ao levar oficinas e cursos de formação prática em audiovisual para estas localidades, direcionada para jovens, existe a apresentação de possibilidades de inserção no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que contribuem para a construção de narrativas locais e a valorização das identidades regionais.

    A obra é ruína alegórica que testemunha o sido e o não-sido da história, uma vez que documenta um passado concretizado e aponta, ao mesmo tempo, para o que poderia ter sido e não foi (o sonho). (ABREU, 2012, p 36)

    À medida que nos deparamos com vídeos destes espaços, entendo as ruas como lugares de memória: é na frente das casas que existem os encontros, as trocas entre vizinhos, mas também é onde o coletivo se movimenta para retomar suas histórias e fazer com que sua memória e seu registro, produzam a existência destas narrativas, desde a criação/filmagem até a exibição dessas obras em espaços públicos/abertos, integrando-se às ruas.
    Por esse motivo, esses grupos que nascem das baixadas e têm a convivência com o mercado audiovisual têm como objetivo subverter a dinâmica excludente desse mercado, hoje em dia, criando sua própria maneira de formar pessoas, acolher as condições de iniciantes e incentivar a continuação de carreiras.
    Sobre as oficinas oferecidas pelo Telas em Movimento (entre outras produtoras), a multiartista Joyce Cursino, em entrevista concedida à autora, diz “a gente chama de vivência audiovisual, porque a gente não tem uma formação muito aprofundada no cinema, mas fornecemos as ferramentas necessárias para que eles possam continuar seus processos narrativos com o que têm disponível” (CURSINO, 2021), além de fazer o “cinema do possível”, que não deixa de ser realizado por não ter as estruturas técnicas consideradas “ideais”.
    Deste modo, o audiovisual feito nas baixadas de Belém parte de perspectivas e construções cotidianas, que reconfiguram não somente a cidade, como também o modo de pensar, criar e, principalmente, distribuir/exibir filmes, valorizando a feitura a partir do coletivo e considerando as especificidades de seu território e suas contribuições sociais, políticas e, mesmo, técnico-estéticas para o contexto audiovisual do estado e da região.

Bibliografia

    ABREU, Elane de Oliveira. A ruína e a força histórico-destrutiva dos fragmentos em Walter Benjamin. In: Cadernos Walter Benjamin, v. 9, jul./dez., 2012, p. 28-39.

    DURAND, G. A imaginação simbólica. Lisboa: Edições 70, 1993.

    ECKERT, C.; ROCHA, A. L. C. O tempo e a cidade. Porto Alegre: UFRGS. 2005.

    SANSOT, P. Identité et paysage. In: Les Annales de la recherche urbaine (18). Des paysages. 65-72. 1983. Disponível em: . Acesso em 30 dez. 2018.

    SILVEIRA, F. L. A. 2009. A paisagem como fenômeno complexo, reflexões sobre um tema interdisciplinar. In: Silveira, F.L.A. da; Cancela, C.D.. (Org.). Paisagem e cultura. Dinâmicas do patrimônio e da memória na atualidade. Belém: Editora da Universidade Federal do Pará, p. 71-83.

    SIMMEL, Georg. A ruína. In: SOUZA, Jessé; ÖELZE, Berthold. Simmel e a modernidade. Brasília: UnB, 1998. p. 137-144.