Ficha do Proponente
Proponente
- Heloísa Maria Ferreira Torres (UFPA)
Minicurrículo
- Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará (2024 – ). Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Pará (2023). Atuou como assistente de fotografia e assistente de direção em curtas-metragens. Desde 2019 também atua em atividades de pesquisa, integrando desde 2021 o Lab Neocine – Laboratório de Análise Neoformalista do Audiovisual da UFPA.
Ficha do Trabalho
Título
- Ciência e magia no cinema da Marvel: a figura do caleidoscópio em Doutor Estranho (2016)
Eixo Temático
- ET 3 – FABULAÇÕES, REALISMOS E EXPERIMENTAÇÕES ESTÉTICAS E NARRATIVAS NO CINEMA MUNDIAL
Resumo
- Esta proposta tem como objetivo analisar Doutor Estranho (2016), filme do Universo Cinematográfico Marvel que introduz as narrativas relacionadas ao campo da magia na franquia. A partir da abordagem neoformalista (Thompson, 1988), analisaremos a figura do caleidoscópio, brinquedo óptico do século XIX, que é empregada em alguns efeitos visuais do filme, procurando entender, com o auxílio de Crary (2012), a possível ligação que esta escolha teria com a narrativa, que relaciona magia e ciência.
Resumo expandido
- “Doutor Estranho” (2016) é um filme dos Estúdios Marvel dirigido por Scott Derrickson que conta a história de um médico-cirurgião, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), que, ao sofrer um acidente de carro, perde a precisão da coordenação motora fina das duas mãos, provocando uma profunda crise para o personagem, que conservava um grande orgulho em seu sucesso profissional. Em busca de cura, ele encontra o Kamar-Taj, um templo espiritual em Katmandu, no Nepal, onde conhece uma ordem de praticantes de artes místicas, que tem como mestre a Anciã (Tilda Switon). Primeiramente resistente aos novos conhecimentos apresentados a ele, os quais estão fora das categorias do pensamento científico, Strange interessa-se paulatinamente pelas artes místicas e envolve-se em uma trama de conflitos entre forças mágicas de outros universos: acontece que um grupo dissidente dos Mestres das Artes Místicas, chamado de Zealots, liderado por Kaecilius (Mads Mikkelsen) rouba do Kamar-Taj, as escrituras do Livro de Cagliostro em que consta um ritual para conexão com Dormammu, a ser que governa a Dimensão Negra (Dark Dimension), dimensão fora do tempo.
Dentro da grande franquia do Universo Cinematográfico Marvel, este filme se destaca por introduzir um personagem cujas narrativas se inscrevem no campo da magia, enquanto o estúdio vinha apresentando histórias de ficção científica fantasiosa, a exemplo da franquia Homem de Ferro, cujo protagonista é Tony Stark (Robert Downey Jr.), um engenheiro da computação. Esta questão é inclusive abordada em entrevistas com a equipe criativa de “Doutor Estranho” (2016) em “Pela Fechadura: a Ciência do UCM”, conteúdo de making of que acompanha o filme, no qual Adam Frank, astrofísico, consultor de física e filosofia da produção, cita a preocupação em como introduzir o personagem cujos poderes possuem uma base mística sem prejudicar a base científica na qual a franquia vinha sendo construída (Pela, [2016?]). “Doutor Estranho” (2016), assim, representaria o encontro entre os campos da ciência e o da magia, duas grandes temáticas abordadas nos filmes.
Um padrão visual ao longo do filme é o do caleidoscópio, que surge na narrativa para materializar a um ritual específico conjurado por dois personagens ao longo do filme, a Anciã e Kaecilius, o qual utiliza a energia da Dimensão Negra para manipular espaço e tempo, provocando distorções na estrutura física de ruas e edificações manipulada pelos personagens. Estas distorções possuem a construção visual semelhante à das imagens geradas por um caleidoscópio, o qual é brinquedo óptico que teria sido patenteado em 1817, pelo escocês David Brewster (Huhtamo, 2014). Este instrumento é formado por um tubo que possui dois espelhos posicionados em uma angulação específica, um compartimento que contém fragmentos de vidro coloridos em uma das extremidades e um visor na outra a fim de que o observador veja as imagens geradas internamente a partir do reflexo do vidro colorido nos espelhos. A imagem gerada é caracterizada pela simetria e pela transformação e multiplicação proporcionada pelo movimento de rotação realizado por quem manipula o manipula (Huhtamo, parágrafo 9, 2014).
Assim, este trabalho se propõe a analisar a figura do caleidoscópio no filme Doutor Estranho (2016) procurando compreender por que ela foi escolhida para dar forma ao ritual realizado pelos personagens. Para tanto, acionaremos a abordagem neoformalista (Thompson, 1988) que parte da análise das funções, motivações e efeitos dos dispositivos formais – elementos estruturantes da forma fílmica. A fim de compreendermos a relação entre ciência e entretenimento imbuída ao caleidoscópio, traremos Jonathan Crary (2012), que apresenta o caleidoscópio como um dos instrumentos ópticos desenvolvidos no século XIX em um contexto de investigações científicas sobre a visão.
Bibliografia
- THOMPSON, Kristin. Breaking the glass armor: neoformalist film analysis. Princeton: Princeton University Press, 1988. 376 p.
CRARY, Jonathan. Técnicas do observador: visão e modernidade no século xix. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. (ArteFíssil). Tradução de: Verrah Chamma.
HUHTAMO, Erkki. «All the World’s a Kaleidoscope». A Media Archaeological Perspective to the Incubation Era of Media Culture. Rivista di Estetica, [S.L.], n. 55, p. 139-153, 1 mar. 2014. OpenEdition. http://dx.doi.org/10.4000/estetica.982. Disponível em: https://journals.openedition.org/estetica/982. Acesso em: 6 abr. 2025.
DOUTOR Estranho. Direção de Scott Derrickson. Roteiro: Jon Spaihts, Scott Derrickson, C. Robert Cargill. [S.L]: Marvel Studios, 2016. (115 min.), son., color. Legendado.
PELA Fechadura: a Ciência do UCM. [S.L]: Marvel Studios, [2016?]. (10 min.), son., color. Legendado. Disponível pelo serviço de streaming Disney Plus como conteúdo extra do filme Doutor Estranho (2016).