Ficha do Proponente
Proponente
- Ribamar José de Oliveira Junior (UFRJ)
Minicurrículo
- Professor substituto e pós-doutorando FAPERJ Nota 10 na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ com período sanduíche na York University (YorkU), Canadá. Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Especialista em Jornalismo Cultural pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Graduado em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade Federal do Cariri (UFCA).
Ficha do Trabalho
Título
- Fetiche e BDSM no cinema queer nordestino contemporâneo
Seminário
- Tenda Cuir
Resumo
- Neste artigo, busco traçar uma constelação fílmica do fetiche e do BDSM no cinema queer nordestino contemporâneo. Assim, trago os filmes Como era gostoso meu cafuçu (2015) de Rodrigo Almeida, Aos seus pés (2017) de Felipe Saraiva, Baunilha (2017) de Leo Tabosa, Boyzin (2021) de RB Lima, Vênus de Nyke (2021) de André Antônio, Macho Carne (2021) de George Pedrosa e O banheiro dos campões (2024) de Felipe Santelli para pensar o sensorial na tensão entre o espectador e a narrativa do desejo.
Resumo expandido
- Neste artigo, busco traçar uma constelação fílmica reunindo trabalhos da última década produzidos por realizadores audiovisuais dos estados do Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Pernambuco e da Paraíba, no sentido de pensar como o cinema queer nordestino contemporâneo coloca em cena relações de fetiche e BDSM. Para isso, penso por imagens que me motivaram a escrever sobre essa temática e trago sete filmes para emergir questões, a citar Como era gostoso meu cafuçu (2015) de Rodrigo Almeida, Aos seus pés (2017) de Felipe Saraiva, Baunilha (2017) de Leo Tabosa, Boyzin (2021) de RB Lima, Vênus de Nyke (2021) de André Antônio, Macho Carne (2021) de George Pedrosa e O banheiro dos campões (2024) de Felipe Santelli. Não tenho a intenção de reduzir essa cena de fetiche e BDSM ao trabalho desses diretores ou me reduzir à análise fílmica interpretativa do desejo nesses filmes, pelo contrário, busco tomá-los pela sua capacidade de ampliação dessa leitura por meio do que ambos podem significar entre sensações e afetos. A partir de uma estética baseada na existência (Foucault, 1984), reflito sobre a construção do desejo nesses filmes como a própria obra em fluxo, onde a máxima visibilidade do corpo (Williams, 1989) se desloca como ato desejante. Talvez como um tipo de “utopia sexual”, como define Califia (1994), considero que os filmes produzem imagens utópicas onde desejos e práticas marginalizadas oriundas da cultura BDSM se fazem por relações eróticas criativas. Afinal, o que deseja um cinema queer nordestino?
Ao se pensar em uma temática nacional para o cinema, Albuquerque Junior (1999) diz que o Nordeste surge como tema privilegiado, sendo o lugar onde se podia articular um estilo de representação nacional, o que fez cristalizar um imaginário regional e um tipo de sensibilidade para o nordestino. Assim, tenho como ponto de partida a visão de Lopes (2016) em pensar o filme como criador de encontros, pois se as obras criam sensações acredito que essa constelação permite pensar em relações singulares que colocam no centro um desejo de comunidade e pertencimento e reposicionam as práticas sexuais não-normativas na criação de novas formas de prazer. Dessa forma, considero a necessidade de explorar o sensorial (Vieira Junior, 2020) que pode ser uma forma de alcançar a imersão do espectador na fugacidade desses desejos, tendo em vista o próprio “modo de excesso” que Baltar (2012) mobiliza como reações sensoriais enquanto oriundas de “gêneros do corpo”, talvez como um tipo de reiteração das instâncias dos fetiches ou do BDSM nas narrativas, onde cada elemento da encenação entre texto, música, atuação toma o corpo pelo espetacular no imperativo do “mostrar” por um regime de expressividade que se estrutura pela matriz do excesso e por meio das atrações.
Assim, reflito que há uma autoria desejante que aciona o debate sobre manifestações não normativas do desejo, práticas sexuais dissidentes e a políticas das imagens nesses filmes. À vista disso, a leitura de Marconi (2021) sobre a autoria queer em sua dimensão performática me ajuda a pensar a existência da materialidade desses corpos e mobilização dessas práticas para pensar em uma política das imagens de couro no cinema. Nesses gestos performáticos, entendo que o que há de comum nesses filmes me parece ser o que Baltar (2023) denomina por “regime expressivo das atrações” que mobiliza engajamentos afetivos. Minha aposta é que esses filmes possuem uma lógica de atração de engajamento afetivo entre o corpo do filme e corpo do espectador, não só por uma “força disruptiva” no tecido narrativo, mas por um trabalho ficcional dissensual que produz rasuras nos modos de enunciar o desejo através de uma reafirmação de uma sexualidade própria capaz de criar a si mesma, nem que seja pelo cheiro, pelo toque ou pela pele estendida na tela.
Bibliografia
- ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: Massangana. 1999.
BALTAR, Mariana. Corpo e afeto: atualizações do regime de atrações no cinema brasileiro contemporâneo. Aniki, v. 10, n. 2, p. 4-28, 2023.
BALTAR, Mariana. Tessituras do excesso: notas iniciais sobre o conceito e suas implicações tomando por base um Procedimento operacional padrão. Significação, v. 39, n. 38, p. 124-146, 2012.
CALIFIA, Pat. Public sex: the culture of radical sex. Pittsburgh: Cleis Press, 1994.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2: O uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
LOPES, Denilson. Afetos, relações e encontros com filmes brasileiros contemporâneos. São Paulo: Hucitec, 2016.
MARCONI, Dieison. Ensaios sobre autoria queer no cinema brasileiro contemporâneo. Belo Horizonte: PPGCOM/UFMG, 2021.
VIEIRA JUNIOR, Erly. Realismo sensório no cinema contemporâneo. Vitória: EdUFES, 2020.
WILLIAMS, Linda. Hard core. Berkeley: UCP, 1989.