Ficha do Proponente
Proponente
- Damyler Ferreira Cunha (UFS/UFF)
Minicurrículo
- Produtora audiovisual, possui graduação em Radialismo pela Universidade Federal de Goiás (2004), mestrado (2013) e doutorado (2019) em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, com programa de Doutorado Sanduíche na Universidad Nacional de La Plata, sob supervisão do professor Eduardo Russo (UBA/ LA Plata, 2017). Atualmente é professora efetiva na graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe e no PPGCINE/UFS, em pós-doutoramento no PPGCINE-UFF (2025-2026).
Ficha do Trabalho
Título
- Derivas sonoras e práticas de gravação de campo em Vazios Habitados e Aqui Onde Tudo Acaba
Seminário
- Histórias e tecnologias do som no audiovisual
Resumo
- Essa comunicação propõe uma reflexão sobre as possibilidades de práticas de gravação de campo e modos de criação da trilha sonora nos curtas-metragens Vazios Habitados (vídeo, 2018), realizado pelo Duo Strangloscope, Rodrigo Ramos e Felipe Vernizzi e Aqui Onde a Tudo Acaba (16mm, 2023), com direção de Cláudia Cárdenas e Juce Filho. Os dois curtas-metragens apresentam um processo criativo colaborativo e trazem técnicas de gravação de campo determinadas pelo jogo de derivas sonoras.
Resumo expandido
- Em meu atual projeto de pesquisa, um pós-doutoramento no PPGCINE-UFF, sob supervisão de Fernando Morais da Costa, me proponho a investigar as interações entre imagem, som e música em filmes experimentais contemporâneos. Com foco na discussão sobre as estratégias de composição, do processo criativo colaborativo e das possíveis perturbações de expectativas auditivas existentes no conjunto de filmes experimentais que compõe nossos objetos de análise, me detive na análise de um grupo de filmes experimentais exibidos em três programas do Dobra Festival Internacional de Cinema Experimental, festival assíduo que é realizado desde o ano de 2015 e têm uma curadoria de filmes voltada a exibição e discussão da cinematografia experimental. Com 9 edições já realizadas no Rio de Janeiro, o festival traz uma curadoria com convidados e mostras distintas a cada edição, além de muitas centenas de filmes selecionados por convocatórias. Dentro do grande universo de filmes possíveis de serem objetos de análise deste projeto, focamos em rastrear programas e mostras que tiveram a curadoria de filmes brasileiros contemporâneos que possam provocar reflexões relacionados o sensorial (MURARI, 2023), a materialidade sônica (BIRTWISTLE, 2010) e a invenção de novas linguagens no cinema. Foram escolhidos 7 curtas-metragens, exibidos no Dobra Festival nos anos de 2019 e 2023.
Proponho aqui uma reflexão sobre as práticas de gravação de campo e modos de criação da trilha sonora de dois curtas-metragens do recorte mencionado acima: Vazios Habitados (vídeo, 2018), realizado pelo Duo Strangloscope, Rodrigo Ramos e Felipe Vernizzi e Aqui Onde a Tudo Acaba (16mm, 2023), com direção de Cláudia Cárdenas e Juce Filho. Os dois curtas-metragens que tiveram a direção de som assinada pelo artista sonoro Rodrigo Ramos, apresentam um processo criativo colaborativo e trazem técnicas de gravação de campo, com destaque para a utilização de microfones de contato e hidrophones.
Em Vazios Habitados, vídeo realizado em 2018 durante a participação dos artistas numa residência artística na Chapada Diamantina e, que também se desdobrou em uma exposição realizada no Vale do Itajaí, o som ambiente é criado a partir da proposta de “uma imersão audiovisual na natureza, fazendo gravações e projeções de áudio e vídeo da natureza na própria natureza” (RAMOS, 2024, p. 20). Em sua dissertação de mestrado “À Deriva Sonora” (2024), Rodrigo Ramos descreve seu processo criativo para realização das obras, relatando que essa premissa de gravar e projetar sobre e com a natureza, fez com que imagens e sons, como por exemplo, do Rio Mucugezinho fossem capturadas e depois projetadas dentro da Gruta da Fumacinha, e que muitos desses sons eram regravados nessas situações de natureza sobre a natureza. As regras que foram criadas pelo próprio coletivo artístico para nortear as gravações fez com que propusessem experiências a serem experimentadas inspirados por caminhadas sonoras e outras práticas de derivas estudadas previamente pelo grupo. Na trilha sonora finalizada do curta-metragem temos uma onipresença da sonoridade aquosa dos rios da Chapada que foram captados com uso de hidrophones e de sons ambientes ásperos provenientes da captação por contato dos cactos e folhas secas abundantes na região da Chapada Diamantina durante o período de gravações.
Em Aqui Onde a Tudo Acaba (2023), filme realizado anos depois pelo Duo Strangloscope, com direção de Cláudia Cárdenas e Juce Filho, a direção de som de Rodrigo Ramos também é intermediada por outra premissa, dessa vez determinada pela partilha de saberes com os povos indígenas Laklãno-Xokleng, no Alto do Itajaí. Empregando técnicas e repetindo experiências de gravação de campo já utilizadas por outros artistas sonoros e antropólogos, Rodrigo Ramos compartilha os processos de captação de som com sete indígenas da aldeia na qual gravaram o filme, em formato de oficina e partilha de saberes sonoros do povo Laklâno-Xokleng.
Bibliografia
- DOS SANTOS, Rodrigo Ramos. À Deriva Sonora. Salvador, 2024. Dissertação de Mestrado (PPGAV-UFBA).
FARKAS, Guilherme. Gravação de Campo e Construção do Som Ambiente no Cinema Contemporâneo: Descontextualizações e Transposições Sonoras. Niterói, 2023. Dissertação de Mestrado (PPGCINE-UFF).
MURARI, Lucas. Leviathan e a etnografia sensorial. REBECA – Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual v.12, n.1, p.1-25, jan-jun 2023.
VEDANA, Viviane. Escutar no Som: Gravação e edição de etnografias sonoras a partir de um paradigma ecológico. Revista Ilha, v.20, n.1, p.117-144, junho 2018.
Filmes Duo Strangloscope:
Vazios Habitados (vídeo, 2018)
Aqui onde tudo acaba (16mm, 2023)
Acessado em: https://www.strangloscope.com/film-video-art