Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Leonardo Mont’Alverne Câmara (Sem vínculo)

Minicurrículo

    Pesquisador e educador audiovisual, é graduado em Publicidade e Propaganda pela UFC e Mestre em Comunicação Social pela UFMG. Integrou a quarta turma do Curso de Realização em Audiovisual da Vila das Artes. Coordena o Laboratório Rural de Formação Audiovisual Cinema no Brejo. É membro do LEEA – Laboratório de Estudos e Experimentação em Artes e Audiovisual (PPGCom-UFC); e da Rede KINO – Rede Latino-americana de Cinema, Educação e Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    Manejar as imagens: um olhar metodológico junto a filmes e processos em contextos comunitários

Resumo

    Este trabalho surge de uma pesquisa sobre a produção audiovisual realizada por jovens em contextos de formação comunitários no interior do Ceará. Interessa-nos pensar como os processos de criação com as imagens se entramam às reivindicações identitárias e coletivas de um território, fazendo da prática audiovisual exercício de aprendizagem, fabulação e agência política. No seminário, analiseremos os filmes Taba dos Anacé (2019) e Reino da Encantaria (2023), realizados por jovens indígenas Anacé.

Resumo expandido

    Este trabalho surge de uma pesquisa sobre a produção audiovisual realizada por jovens em contextos de formação comunitários no interior do Ceará. Interessa-nos pensar como os processos de criação com as imagens se vinculam às reivindicações identitárias e coletivas de um território, tornando a prática audiovisual um exercício de aprendizagem, fabulação e agência política. Ao mesmo tempo, nos perguntamos sobre a participação dessas produções dentro das comunidades, compreendendo as imagens como forças capazes de se engajar nas disputas em curso e de fazer emergir outras maneiras de perceber o mundo.

    Neste seminário temático, pretendemos analisar dois filmes produzidos coletivamente em processos formativos por jovens indígenas do território Anacé, localizado em Caucaia, zona metropolitana de Fortaleza. No primeiro filme, Taba dos Anacé (2019), os jovens refletem sobre seus caminhos, desejos, medos e esperanças um ano após serem realocados para a Taba dos Anacé. Já o segundo filme, Reino da Encantaria (2023), retrata o retorno de um garoto indígena à sua aldeia e a sua reconexão com as forças cosmológicas do lugar. Este trabalho é fruto do Projeto Brotar Cinema com o Povo Anacé, uma escola livre de audiovisual destinada à juventude Anacé que segue realizando processos formativos no território. Apesar de os dois filmes apresentarem propostas estéticas bem distintas, nos interrogamos como, em ambos, tanto o processo de realização quanto a própria materialidade fílmica são marcados por um exercício de elaboração sobre as identidades indígenas no presente. Em Taba, essa identidade é tensionada, posta em discussão e refletida criticamente por um grupo de jovens enquanto se prepara coletivamente a tinta de jenipapo para as pinturas corporais. Já em Reino da Encantaria, a identidade indígena é retomada e reafirmada pelo jovem que retorna da cidade e passa a se vincular aos símbolos e elementos de seu território. Mais do que uma operação de resgate dessas identidades do passado, o que os filmes nos mostram é um processo fortemente marcado por gestos de fabulação e invenção no presente, e que, por isso, tem encontrado terreno fértil nas formas de aprendizagem junto às imagens.

    Iago Barreto, um dos coordenadores do Projeto Brotar Cinema, diz que essa é uma escola que ensina várias coisas. Para além do audiovisual, os jovens experienciam processos não lineares de aprendizagem em que os saberes e fazeres do território constituem uma espécie de, nas palavras dele, pedagogia do brotar. Aprende-se cinema enquanto se aprende com plantas, rios, alimentos e formigas. A partir dessas experiências, somos mobilizados a refletir sobre os modos como o audiovisual incorpora-se “‘lateralmente’ às experiências de um grupo” (BRASIL, 2016, p. 127), constituindo-se como margem, como processo, engendrando imagens “capazes de nos dar a ver não fatos ou objetos, mas relações” (BRASIL, 2016 p. 127). Assim, desejamos experimentar metodologias de análise fílmica capazes de emaranhar a dimensão visível das imagens aos processos de criação e às formas de saber dos territórios, manejando-as junto a um conjunto mais amplo de relações que as excede.

    O gesto do manejo, operador analítico que desenvolvo em minha dissertação de mestrado para investigar filmes e processos de criação audiovisual realizados em contextos rurais, nos parece um caminho profícuo para olhar para essas obras produzidas, como observa Clarisse Alvarenga, ao alcance das mãos (2020). Através desse gesto, tentamos lançar um olhar para as imagens e seus processos, tentando compreender de que maneira os modos de vida comunitários modulam os processos de criação e aprendizagem audiovisual e se inscrevem fortemente nos filmes. Nos interessa, portanto, essa dupla dimensão dos filmes que, de um lado, derivam dessas formas de conhecimento e relação com o território que os antecede e, de outro, são capazes de criar novos agenciamentos políticos e imaginativos nos territórios.

Bibliografia

    ALVARENGA, Clarisse. Práticas do vídeo ao alcance das mãos: Os Arara, TV Viva, e TV Maxambomba. In: Catálogo 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, p.40-45 – 1. Ed. – Belo Horizonte: Universo Produção, 2020.

    BRASIL, André. Ver por meio do invisível: O cinema como tradução xamânica. Novos estud. CEBRAP [online]. 2016, vol.35, n.3, pp. 125-146.

    CÂMARA, Leonardo Mont’Alverne et al. Cinema com o Brejo: experiências de criação com os espaços em processos de formação audiovisual no Maciço de Baturité/CE. Rio de Janeiro: Cinemas e Educações, 2023.

    COMOLLI, J. Ver e poder: A inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: UFMG. Humanitas, 2008.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 58a ed – Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2019.

    GUIMARÃES, César. O que é uma comunidade de cinema? In: Revista Eco-Pós, vol. 18, 2015.

    MIGLIORIN, Cezar, PIPANO, Isaac. Cinema de brincar. Belo Horizonte: Relicário, 2019.