Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Luccas Pinheiro Lopes (UERJ)

Minicurrículo

    Mestrando pelo programa de pós-graduação da UERJ. Membro do grupo de pesquisa “POPMID: Reflexões sobre Gêneros e Tendências em Produções Midiáticas” coordenado pelo prof. Yuri Garcia. Graduado no curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá (UNESA), Campus Tom Jobim – Barra. Realiza pesquisas sobre representatividade negra e questões raciais dentro de filmes de horror.

Ficha do Trabalho

Título

    O medo como denúncia: tabus, horror e racialidade no cinema de Jordan Peele e Nia DaCosta

Eixo Temático

    ET 1 – CINEMA, CORPO E SEUS ATRAVESSAMENTOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS

Resumo

    Historicamente, o horror expôs medos e tabus sociais de diferentes contextos de cada época. Este trabalho analisa como Jordan Peele e Nia DaCosta utilizam esses elementos para constituir suas obras do gênero para abordar o racismo e repensar narrativas. Com base em autoras como Kilomba, Clover e Auerbach, a pesquisa reflete sobre como seus filmes revelam traumas da população negra e transformam o horror em uma ferramenta crítica de resistência e memória.

Resumo expandido

    Este trabalho tem como objetivo refletir sobre como os tabus sociais constroem medos e, a partir desses medos, como o horror funciona para confrontá-los ou conservá-los. Em especial, busca-se compreender como a racialidade, enquanto tabu, também se converte em objeto de temor. Nesse sentido, analisa-se como o horror pode mobilizar esses medos, e como cineastas como Jordan Peele e Nia DaCosta, objetos de estudo do meu projeto de mestrado, utilizam a lente da racialidade como elemento central para a produção de medo e desconforto, subvertendo estereótipos e denunciando violências históricas.
    As definições de tabu são diversas, mas convergem em direção à um conceito importante para esta análise. Segundo o dicionário Michaelis, tabu pode ser entendido como “assunto sobre o qual não se pode falar devido aos valores sociais ou culturais”, ou, “pessoa da qual se deve manter distância, por motivos impostos pelos bons costumes”, além de, “restrição a certos comportamentos, vestuário, alimentos, formas de se expressar etc”. Ao conectar esses significados com os conceitos sobre horror e racialidade, é possível entender como os diretores selecionados entendem quais são esses tabus e como eles tentam reverter sua lógica a partir de seus filmes.
    Como explica Kilomba (2019), o racismo não apenas marginaliza os corpos negros, mas também impõe ao branco a necessidade de evitar comportamentos que poderiam associá-lo a essa identidade marginalizada. Assim, “a pessoa negra se torna um depósito para os medos e fantasias brancas sobre agressão e sexualidade” (Kilomba, p. 78, 2019).
    O tabu em sua essência é algo que deve ser evitado, então, a partir do que já foi apresentado sobre o tema é possível pensar no que Gordon (2023) argumenta:
    “A ironia de evitar um assunto é que isso acaba por torná-lo ainda mais presente…O esforço exigido para evitar o que está plenamente à vista requer identificá-lo enquanto se tenta habilmente livrar-se dele. A motivação aqui é o desconforto, talvez o temor, que o tema negado ou evitado estimula. Em alguns casos, o que a pessoa teme é o que pode aprender sobre si mesma, a imagem de si que pode emergir” (Gordon, p. 37, 2023)
    Além disso, Nina Auerbach (1995) pensa como monstros clássicos tal qual Drácula e Carmilla representam os tabus de suas épocas, como a homossexualidade, a libertinagem feminina e o medo do estrangeiro. Nesse sentido, o horror desde seu início na literatura reflete ansiedades culturais, usando a figura do monstro para tornar visível aquilo que a sociedade tenta manter escondido.
    A branquitude ao tentar fugir de pessoas não-brancas, frequentemente ignora que pode estar fugindo de si mesma, recusando-se a perceber suas falhas e contradições. Xenofobia, racismo e outras formas de intolerância revelam mais sobre o opressor do que sobre o oprimido. Como aponta Coleman (2019), quando o branco norte-americano criou bairros segregados racialmente eliminou a possibilidade de culpar o negro por seus medos, e assim criou o medo do seu próprio vizinho.
    O horror negro resgata e ressignifica narrativas antes dominadas pelo olhar branco, transformando monstros em símbolos de memória, trauma e sobrevivência. Segundo Bento (2022), as sociedades escolhem o que querem lembrar e o que querem esquecer, por isso, o óbvio precisa ser relembrado para que as histórias de povos marginalizados não caiam no esquecimento sistemático.
    Peele e DaCosta demonstram que o horror pode ser uma ferramenta potente para expor tabus raciais e reescrever narrativas históricas. Kilomba (2019) afirma que nomear as violências raciais é essencial para combatê-las, os filmes desses diretores fazem exatamente isso ao transformar o horror em uma plataforma de resistência e questionamento. Corra! (2017), Nós (2019), A Lenda de Candyman (2021) e Não! Não Olhe (2022) funcionam como espaços de enfrentamento do tabu racial, deslocando o olhar do medo do “outro” para a estrutura social que o marginaliza.

Bibliografia

    AUERBACH, Nina. Our Vampires, Ourselves. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.
    BENTO, Cida. O Pacto da Branquitude. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
    CLOVER, Carl. Men, Women and Chainsaws. Nova Jersey: Princeton University Press, 2015.
    COLEMAN, Robin R. Means. Horror Noire: a representação negra no cinema de terror. Tradução de Jim Anotsu. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2019.
    GORDON, Lewis R. Medo da Consciência Negra. Tradução de José Geraldo Colto. 1.ed. São Paulo: Todavia, 2022.
    KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano; tradução Jess Oliveira. 1.ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
    MICHAELIS. Dicionário Michaelis Online. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/. Acesso em: [04/02/2025].