Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Samuel Carvalho Lima Silva (UNESPAR)

Minicurrículo

    Mestrando do Programa de Pós-Graduação Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), campus de Curitiba II/Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Bolsista do Programa de Desenvolvimento Social da CAPES (CAPES-DS). Membro do grupo de pesquisa NAVIS: Núcleo de Artes Visuais (Unespar/CNPq) e do grupo de Pesquisa CINEMA (Unville/CNPq). Bacharel em Jornalismo pelo Centro Universitário INTA -UNINTA.

Ficha do Trabalho

Título

    Uma poética da crueldade: O horror como poesia no cinema experimental da Belair de Júlio Bressane

Seminário

    Estudos do Insólito e do Horror no Audiovisual

Resumo

    A pesquisa analisa o cinema de horror de Júlio Bressane na Belair Filmes, destacando o uso do medo, do abjeto e do imoral como recursos poéticos e experimentais. Para isso, investigaremos como esses elementos estruturam uma linguagem disjuntiva e confrontadora, alinhada ao cinema de poesia e e à subversão do modelo narrativo hegemônico, uma poética da crueldade, a fim de estabelecer uma outra perspectiva, experimental e política, sobre o cinema de gênero no Brasil durante o cinema moderno.

Resumo expandido

    A presente pesquisa tem como objetivo discorrer sobre o cinema de horror e suas características em torno do medo, do abjeto e do imoral como recursos estético-narrativos fundamentais para o estabelecimento da gestualidade poética e potência experimental de Júlio Bressane enquanto diretor na Belair Filmes, produtora que, em sua breve existência de seis meses, realizou seis filmes completos e um não finalizado de forma independente dos meios oficiais de realização cinematográfica, colaborativa entre os artistas envolvidos nos projetos e produção horizontalizada na criação. O caráter de cinema de guerrilha da Belair permitiu que Bressane incorporasse a suas produções, enquanto diretor da produtora, uma estética predominantemente marcada pelo cinema de gênero como pilar de subversão da linguagem narrativa-representativa do cinema hegemônico. Ainda comprometido com a experiência de choque pela qual ficou reconhecido em seus filmes no início de sua carreira, em especial “O Anjo Nasceu” e “Matou a Família e Foi ao Cinema”, Bressane amplifica o experimentalismo antropofágico de seu cinema no microcomunitarismo artístico da Belair Filmes, com temáticas que utilizam a violência, o horror, o abjeto e a avacalhação grotesca como fio condutor lógico da suas obras, sem se prender a uma linearidade narratológica. Através de sua conduta transgressora que buscava provocar um rompimento com a estética normativa ao rejeitar as normas da linguagem narrativa-representativa, Júlio Bressane instituiu em suas produções enquanto diretor uma linguagem poética de confronto e violência a partir da imagem e da forma. Inspirado primordialmente nos filmes de terror brasileiro da época e das chanchadas do cinema clássico que utilizavam o sobrenatural e o cômico como inspiração direta às obras desse período, Bressane realizou três filmes calcados nessa proposição estética e poética: A Família do Barulho, uma comédia de humor sombrio que toma como ponto de partida a implosão dos conceitos clássicos de família tradicional, cuja representação da poética da crueldade parte da experiência do horror como arte performática conceitual; Barão Olavo, o Horrível, filme de terror que tem como inspiração principal os filmes de José Mojica Marins e o Zé do Caixão como referência para desenvolver o seu experimentalismo em torno do folk horror e os filmes populares de terror do cinema brasileiro; e Cuidado Madame, filme trash de serial killers, onde por meio da violência gráfica e do gore, Bressane põe em tensão questões sobre classe social e gênero no Brasil enquanto país subdesenvolvido. O trabalho de Bressane passeia por estilos diferentes de filmes de horror e reflete o caráter experimental em torno do cinema de gênero, filmes voltados para o apelo popular cujas principais manifestações artísticas da época, em especial o cinema novo, julgavam como obras destituídas de valor artístico e apolíticas. Dessa forma, através do seu estilo disjuntivo, narrativa fragmentada e linguagem poética, Bressane retoma a potencialidade radical da imagem violenta e abjeta a fim de estabelecer novas perspectivas em torno do cinema de horror no cenário cinematográfico brasileiro como arte política e confrontadora. Para além de uma questão temática, o diretor apoia-se em estruturas de agressão, conforme estabelecido por Noel Burch, cuja violência se estabelece entre o espectador e a tela, por meio de elementos perturbadores na montagem, mise-en-scène e desnaturalização da cena. Apoiado no que Ismail Xavier denomina como um cinema da crueldade no livro Alegorias do Subdesenvolvimento, procuraremos identificar nesses filmes onde o horror constitui uma poética da crueldade, gestualidade desenvolvida por Bressane em seus filmes, cuja características podem ser compreendidas a partir do experimentalismo e do cinema de poesia, com base nas postulações teóricas de Maya Deren, Jairo Ferreira e Pier Paolo Pasolini.

Bibliografia

    BURCH, Noel. Práxis do cinema. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
    DEREN, Maya, et al. Poetry and the film: A symposium. Film Culture, v. 29, p. 55-63, 1963
    FERREIRA, Jairo. Cinema de invenção. São Paulo: Editora Perspectiva, 1986.
    MONDZAIN, Maria José. A imagem pode matar? Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.
    CÁNEPA, Laura Loguercio. Medo de que? : uma história do horror nos filmes brasileiros. Orientador: Nuno Cesar Pereira de Abreu. 2008. Tese (doutorado em Multimeios) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. Campinas, São Paulo, 2008.
    PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo herege. Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
    XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento: cinema novo, tropicalismo, cinema marginal. São Paulo: Cosac Naify, 1993.
    ______ . “Roteiro de Júlio Bressane apresentação de uma poética. Revista Alceu. v. 6. n. 12. 2006.