Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    denise tavares da silva (UFF/UFSCar)

Minicurrículo

    Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), vinculada ao Departamento de Comunicação Social e ao PPG Mídia e Cotidiano. Doutora em Integração Latino-Americana e desenvolvendo Pós-Doutoramento na Universidade Federal de São Carlos. Autora das obras “Documentário Biográfico: recriar uma vida nas telas” e “O suicídio de jovens na mídia: a dor irreversível nas telas”.

Ficha do Trabalho

Título

    É possível tocar o impalpável: cinema, crise ambiental e protagonismo feminino na América Latina

Seminário

    Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas

Resumo

    No entrelaçamento entre crise ambiental e luta pela igualdade de gênero que emerge no atual cenário político-cultural da AL, o cinema e o audiovisual têm tornado tangíveis focos luminosos de resistência, bem como sombras espessas de permanências. Trata-se de uma versão esquemática da “polarização” política que, entre outros, se vale da apropriação e simplificação da linguagem audiovisual. Um contexto que fratura certezas e esperanças, e aloca urgência em se repensar imaginários e projetos.

Resumo expandido

    O entrelaçamento entre crise ambiental e luta pela igualdade de gênero que emerge no atual cenário político-cultural da América Latina, confirma as disputas narrativas que, grosso modo, são classificadas como produtos da “polarização” política, contexto que se reflete, dialeticamente, na produção audiovisual. Esta, como se sabe, se oferece cada vez mais acessível, viabilizada pelas múltiplas janelas de exibição, com ampla centralidade da Internet, seja pelos acessos a sites e plataformas, seja pelo streaming. Trata-se, portanto, da fabulação de conjuntura que se apresenta em fluxo contínuo, oferecendo obras audiovisuais que, em uma primeira visada, parecem similares ou muito próximas, já que se assentam em bases estéticas e narrativas que o público, de modo geral, convive há tempos. Por exemplo, em outubro de 2023, a Exame Agro, uma das editorias da Revista Exame, divulgou em sua versão on-line (site) o lançamento do que chamou ser um mini-documentário sobre mulheres rurais, intitulado “Campos férteis: a mulher rural e a gestão ESG” (Enviromental, Social and Governance: Ambiental, Social e Governança, sigla criada pela ONU em 2004). Financiada por essa revista com apoio da empresa Bayer, a peça audiovisual, de pouco mais de 10 minutos, tem como protagonistas 4 mulheres – Rayssa, Márcia, Teresa e Laura – e integra uma série de produções similares que a Exame vem realizando sobre mulheres e empresárias do agronegócio, destacando, em especial, a transição de carreira dessas protagonistas. Isto é, sendo advogadas, dentistas, designers e outras profissões similares, essas mulheres, que são de cidades e regiões distintas do Brasil, teriam abandonado suas áreas de formação e local de moradia, para assumirem a vida rural.
    Este vídeo, que é realizado nos moldes de uma grande reportagem, entrelaça as breves histórias individuais a avaliações do que cada uma considera diferenciais femininos de gestão. A estratégia argumentativa se pauta, portanto, por reflexões que destacam como características diferenciadas (e positivas) da mulher, ela ser mais cuidadosa, se preocupar com a beleza dos lugares, ter interesse genuíno sobre a saúde dos funcionários e, finalmente, ser uma profissional mais atenta. Enfim, os depoimentos dessas protagonistas, que os offs reforçam, tanto podem ser enquadrados como discursos de autoestima e empoderamento, como percebidas, em uma visada mais crítica, como reforço da retórica conservadora. Destaco esse vídeo com o objetivo de ressaltar o quanto produções audiovisuais recentes, que se apresentam afinadas à luta pela igualdade de gênero em áreas não-urbanas ou intermediárias do Brasil, têm espelhado as disputas narrativas que envolvem esse tema, sob a perspectiva da crise ambiental. Trata-se de escamotear (ou não), a partir de um produto cultural expressivo e potente como é o audiovisual, chaves basilares da luta pela igualdade de gênero, em fértil articulação com a valorização da vida rural. O que também se propõe a obra “Mulheres Rurais em Movimento” (2016), que tem direção de Héloïse Prévost e do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste. Aqui, como no longa “A ilusão da abundância” (2023), da colombiana Erika González e do belga Matthieu Lietaert, a proposta é apresentar outras vivências, que não se limitam a corroborar a urgência de divulgar e/ou expressar as “lutas” femininas, mas sim articulá-las a processos de reconstrução de caminhos que, de fato, não escamoteiem os conflitos e embates que as atravessam. Pelo contrário: trata-se, conforme Melucci (1999), da transição de um modo de se colocar em foco a partir do universo das identidades. É uma lógica que não se desfaz do plano geral e dos organismos da sociedade para compreendê-la, mas, ao mesmo tempo, recorre às fabulações para não homogeneizar todos os diferentes atores que se encontram no processo. Olhar este embate, a partir dos filmes citados e outros que elencamos, demarcando questões chaves dessas narrativas, é o objetivo desta comunicação

Bibliografia

    BELTRÁN, Elizabeth Peredo. Ecofeminismo. In SÓLON, Pablo (Org). Alternativas sistêmicas: Bem Viver, decrescimento, comuns, ecofeminismo, direitos da Mãe Terra e desglobalização. São Paulo: Elefante, 2019, p. 113-143.
    GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. 4ª reimpressão. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
    HOLLANDA, Heloísa Buarque. Introdução – Agora somos todas decoloniais? In HOLLANDA, Heloísa Buarque (Org). Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020, p 11-34.
    MELUCCI, Alberto. Acción colectiva, vida cotidiana y democracia. México: El Colegio de México, Centro de Estudios Sociológicos, 1999.
    TAKUÁ, Cristine. Uma mulher maxakali em uma aldeia guarani: o feminismo comunitário e o Bem Viver como política. In LOSITO, Lucila (Org). Mulheres de Terra e Água. São Paulo: Elefante, 2022.
    ZIBECHI, Raúl. Territórios em rebeldia. São Paulo: Elefante, 2022.