Ficha do Proponente
Proponente
- SUELEN CRISTINA NINO FERNANDES (UFPA)
Minicurrículo
- Doutoranda em Artes (PPGARTES/UFPA), desenvolvo pesquisa sobre o anti-herói em series originais para a plataforma Globoplay; Bolsista Capes; Mestra em Artes (PPGARTES/UFPA), Bacharel em Cinema e Audiovisual (UFPA), Bacharel em Direito (UNAMA); Assistente de Direção em diversos curtas e longas metragens; Produtora Audiovisual; Membro do Coletivo Inovador Talvez Filmes desde 2015. E-mail: ninonandes@gmail.com.
Ficha do Trabalho
Título
- A Mostra Sesc de Cinema como circuito alternativo de difusão do audiovisual brasileiro
Seminário
- Festivais e Mostras de Cinema e Audiovisual
Resumo
- A comunicação visa demonstrar como a Mostra Sesc de Cinema (MSDC) fortalece a itinerância do audiovisual brasileiro através de sua estrutura que combina ações de curadoria, licenciamento e programação pelas unidades da Instituição, permitindo que filmes de diferentes regiões circulem pelo país. O trabalho analisa como a MSDC contribui para a formação de públicos e para a dinamização dos circuitos alternativos de exibição, promovendo trocas culturais e ampliando o acesso às produções nacionais.
Resumo expandido
- A Mostra Sesc de Cinema (MSDC) chega em 2025 à sua oitava edição e se revela como um exemplo expressivo de circuito alternativo para o audiovisual brasileiro, articulando estratégias que desafiam as dinâmicas tradicionais de distribuição e acesso às obras nacionais. Distante dos modelos convencionais sustentados por festivais competitivos ou pelas lógicas comerciais das salas de exibição, a MSDC opera dentro de uma infraestrutura consolidada — a rede nacional de unidades do Sesc — que se desdobra como plataforma capilarizada de difusão cultural. Este contexto permite pensar a Mostra não apenas como evento pontual, mas como dispositivo contínuo de circulação, ampliando as possibilidades de encontro entre filmes e espectadores em diferentes territórios do país, através das unidades que aderem ao projeto nacional e dos analistas que programam as obras.
No cenário brasileiro contemporâneo, como observam Paulo Luz Corrêa (2023) e Amaranta César (2020), a proliferação de festivais e mostras responde à necessidade de tensionar o gargalo da distribuição, historicamente concentrada e restritiva. No entanto, nem todos esses espaços conseguem sustentar um circuito de circulação posterior às suas programações iniciais, tendo em vistas que são poucos os festivais que conseguem manter uma estrutura longêva. A MSDC, por sua vez, alicerçada na estrutura do Sesc, institui um modelo de itinerância singular: após a seleção das obras no Panorama Brasil e na Mostra Infantojuvenil, os filmes são licenciados por um período de um ano, sendo programados livremente pelas unidades da instituição em suas programações locais. Tal dinâmica tensiona as barreiras da centralização, promovendo uma redistribuição territorial dos bens culturais e criando novas rotas para o audiovisual nacional.
Ao analisar essa experiência, inscreve-se o estudo no campo das discussões sobre redes alternativas de circulação, como propõem Dina Iordanova e Ragan Rhyne (2009), ao defenderem que festivais e mostras operam não apenas como vitrines de lançamento, mas como nós fundamentais na constelação de fluxos audiovisuais globais e locais. A MSDC, nesse sentido, ultrapassa a condição de vitrine ao assumir também o papel de circuito difusor, assegurando que as obras selecionadas permaneçam ativas na esfera pública durante todo o período de licenciamento, alcançando públicos que raramente acessariam tais produções audiovisuais fora das grandes capitais.
Além disso, como discute Marijke de Valck (2007), a importância dos circuitos de festivais e mostras reside não apenas na exibição, mas na capacidade de conformar comunidades de espectadores e práticas de cinefilia locais. A MSDC, ao promover debates, oficinas e sessões comentadas durante sua itinerância, consolida-se como espaço de mediação cultural, ampliando o repertório dos públicos e fortalecendo a cadeia produtiva do audiovisual nas diversas regiões onde se faz presente. A MSDC responde igualmente para a aproximação da rede de analistas, na medida em que o encontro possibilita as trocas de experiências entre estes profissionais. Trata-se, portanto, de um exemplo concreto da potência das políticas institucionais de fomento à circulação cultural, especialmente em tempos de retração das políticas públicas para este campo no Brasil.
Ao se voltar para a Mostra Sesc de Cinema, este trabalho busca contribuir para o mapeamento das estratégias de circulação e difusão alternativas que vêm se desenhando no país. A análise propõe refletir sobre como a capilaridade institucional do Sesc, somada a uma curadoria comprometida com a diversidade estética e de produção, constrói caminhos para uma política de acesso cultural efetiva. Ao considerar a MSDC como modelo replicável e como campo fértil para o fortalecimento da cultura audiovisual brasileira, pretende-se considerar outras possibilidades para a criação de redes de distribuição descentralizadas e duradouras, essenciais para a democratização do cinema no Brasil contemporâneo.
Bibliografia
- CÉSAR, Amaranta et al. (Org.). Desaguar em cinema: documentário, memória e ação com o CachoeiraDoc. Salvador: Edufba, 2020.
CORRÊA, Paulo Luz. Panorama dos Festivais/Mostras Audiovisuais Brasileiros – edição 2023. São Paulo, 2023.
GARRETT, Adriano. “Novas características curatoriais em festivais de cinema brasileiros contemporâneos no século XXI”. Faces da História, v. 9, n. 1, 2022, p. 220-244.
DE VALCK, Marijke. Film Festivals: from European geopolitics to global cinephilia. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2007.
IORDANOVA, Dina; RHYNE, Ragan (Orgs.). Film Festival Yearbook 1: The Festival Circuit. St Andrews Film Studies, 2009.