Ficha do Proponente
Proponente
- Beatriz de Oliveira Fonseca (UFPA)
Minicurrículo
- Mestranda em artes pelo PPGARTES e bacharel em Cinema e Audiovisual pela UFPA, trabalha com direção de arte, produção audiovisual, formação e pesquisa. Atuando no departamento de arte realizou trabalhos em séries, curtas e longas como “Motel Destino” de Karim Ainouz. Recebeu os prêmios de Melhor Direção de Arte na 45ª edição do Guarnicê – Festival de Cinema e no 1º Festival Satyricine Bijou pela direção de arte do longa “Os Fãs mais Rebeldes que a Banda”.
Ficha do Trabalho
Título
- A expressão da direção de arte na criação do espaço fílmico em filmes amazônicos
Seminário
- Estética e Teoria da Direção de Arte Audiovisual
Resumo
- O presente trabalho busca promover algumas reflexões partindo do olhar da direção de arte de curtas-metragens contemporâneos realizados no território paraense: Ribeirinhos do Asfalto (Jorane Castro, 2011) e Cabana (Adriana de Faria, 2023). A partir de como a direção de arte interfere nos cenários, objetos, figurinos, observo sobre como o espaço fílmico é moldado e apresenta contrastes latentes nas obras, articulando com autores que dialogam com conceitos de visualidade amazônica.
Resumo expandido
- A presente pesquisa destaca um recorte da minha dissertação de mestrado, que está em desenvolvimento, na qual lanço um olhar sobre o trabalho poético da direção de arte, a partir da realização de um curta–metragem paraense. Ao flexionar apontamentos sobre o fenômeno de possíveis recorrências no uso dos espaços pelas obras filmadas no contexto amazônico, elejo alguns filmes a fim de traçar comentários sobre a forma como a direção de arte se apresenta dentro dessas obras.
Em minhas investigações sobre o uso do espaço fílmico apropriado pela direção de arte em curtas realizados na região metropolitana de Belém, percebo a recorrência do espaço como forma de apontamento de contrastes e disputas de narrativas vivenciadas pelos personagens. Esse trabalho com a ambientação e recorte dos espaços é atravessado pelo olhar da arte que destaca diferenças latentes entre os espaços que passam pelo uso de cores, texturas e dimensões aplicados aos cenários, figurinos e objetos alocados nas cenas. Além disso, Benedito Ferreira comenta sobre a influência direta da direção de arte na criação de atmosfera fílmica permitindo que as sensações e as qualidades do tempo, espaço e dos corpos possam ser elaboradas.
Em “Ribeirinho do Asfalto” (2011), dirigido por Jorane Castro e arte de Rui Santa Helena, a direção de arte se apresenta de forma a evidenciar os possíveis contrastes entre os cenários de uma metrópole amazônica: a cidade e o rio que intermediam as relações humanas da comunidade que a margeia. Observa-se no início do filme como os personagens transitam de uma vivência que reside próxima ao rio, de maior conexão com o mesmo, representado pela forma como a arte dimensiona a casa dos personagens e suas interações com o espaço, para vivenciar novas relações com a cidade, o asfalto, o caos de transitar pelas ruas.
Em “Cabana” (2023), dirigido por Adriana de Faria e arte de Beatriz Morbach, a representação espacial e temporal é evidenciada pelos contrastes criados pela direção de arte. As temporalidades que se cruzam só são possíveis de serem representadas a partir da forma como os figurinos são elaborados, destacando uma temporalidade que remete ao passado, ao mesmo tempo que contrastam entre si: duas mulheres de uma mesma realidade que possuem funções distintas dentro de uma mesma luta. A partir disso, o futuro, representado pela contemporaneidade, se revela nos espaços modernizados que se diferem e antagonizam com a figura da personagem vestida por trajes de outra época, do século XIX.
As reflexões provocadas a partir das obras analisadas também são atravessadas por questionamentos referentes a representações, observando como uma certa visualidade amazônica é construída a partir do cinema contemporâneo que é feito e realizado neste território. Para essa reflexão, irei dialogar com o pensamento de autores que pensam o cinema e a criação de identidade e imaginário amazônico como Gustavo Soranz.
A Amazônia já foi retratada diversas vezes no audiovisual de forma com que a Floresta Amazônica se sobressaia e se apresente como um território inóspito, hostil, pouco habitado, o “inferno verde”, que guarda consigo alguns mistérios, fruto de uma visão colonialista da procura por um “Novo Mundo” durante as grandes navegações, como aborda Gustavo Soranz (2009). Nos filmes destacados, observa-se que as abordagens podem ser múltiplas no que se diz respeito da representação do que se propõe como cinema amazônico, isto é, como o que é regional se manifesta na tela.
Por fim, nos dois curtas analisados, a direção de arte se apresenta como potência criativa essencial no processo de reunir símbolos a fim de organizar um enunciado, uma ideia, dentro da breve duração das obras. Os filmes apoiam-se no trabalho da arte para evidenciar os debates suscitados que perpassam pelos contrastes existentes dentro de um espaço múltiplo e diverso que é o território amazônico, flexionando, de certa forma, o que seria consolidado como visualidade amazônica pelo olhar estrangeiro.
Bibliografia
- CASTRO, Jorane Ramos de. Processo criativo e experiências amazônicas na narrativa cinematográfica contemporânea. Tese de doutorado – Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. 2023
CAUQUELIN, Anne. A Invenção da Paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007
FERREIRA DOS SANTOS NETO, Benedito. Três Reflexões Sobre A Direção De Arte No Cinema Brasileiro. Tese de Doutorado – Universidade Federal de Goiás. 2019.
GONÇALVES, Gustavo Soranz. Território Imaginado: Imagens da Amazônia no cinema. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Amazonas. 2009.
VARGAS, Gilka. Direção de arte: do cinematógrafo ao cinema digital. In: Revista Do CAU – Cursos De Cinema E Audiovisual E Cinema De Animação – Universidade Federal De Pelotas. Pelotas, RS: Orson. v.4, p.186-201, jul. 2013. Disponível em . Acesso em: 02 jan. 2024.