Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Plaza Pinto (UFPR)

Minicurrículo

    Professor do Departamento de História, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná, colaborador no Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo da UNESPAR. Doutor pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Mestre em Comunicação pela UFF. Foi professor substituto na UFG e no curso de Cinema da FAP-PR. Publicou artigos nos livros “Arte e política no Brasil”, “Cinema, estilo e análise fílmica” e “Cinema e pensamento”. Autor do livro “Paulo Emílio na emergência do Cinema Novo”

Ficha do Trabalho

Título

    A voz de Carlos Vieira em Imagem, Filme e Celulóide: notas da história da crítica cineclubista

Resumo

    O trabalho de agentes do cineclubismo e das cinematecas foi determinante para a circulação em Portugal de pautas e fatos relacionados com a cultura cinematográfica brasileira. De certo modo, mostrou a vitalidade da crítica antes do impacto de filmes na primeira metade dos anos 1960. A presença de Carlos Vieira é utilizada como fio da meada para o estudo das contradições do processo histórico deste prolongamento da crítica brasileira e do cineclubismo para revistas especializadas portuguesas.

Resumo expandido

    Os artigos curtos do cineclubista Carlos Vieira estão entre os materiais que levam notícias e balanços sobre atividades da cultura cinematográfica brasileira para Portugal até meados dos anos 1960. Vieira foi fundador e presidente do Centro de Cineclubes de São Paulo em 1956. Participou da “ocupação” na criação do Cineclube do Centro Dom Vital com Rudá de Andrade, Gustavo Dahl e Jean-Claude Bernardet. Foi articulador entre cineclubes paulistas e professor no Curso para Dirigentes de Cineclubes oferecido sob os auspícios da Cinemateca Brasileira no ano de 1958.
    Conforme Regina Gomes (2015), a década de 1960 é o momento do primeiro incremento no interesse sobre o cinema brasileiro em Portugal, demarcando o início do período desta relevante presença até o final do século XX. O objetivo da pesquisa mais ampla que dá origem ao recorte da presente comunicação foi examinar a contribuição da crítica brasileira, principalmente paulista e relacionada com a Cinemateca Brasileira, ao período inicial do quadro traçado por Regina Gomes. A compreensão sobre os documentos encontrados se orienta pela localização da inserção dos materiais no quadro ideológico das revistas especializadas em Portugal no período, conforme foi possível mapear em estudos históricos recentes.
    Esta atividade jornalística e crítica se dá com a mediação inicial da Cinemateca Brasileira e aponta para a I Convenção Nacional da Crítica Cinematográfica, em novembro de 1960, como primeiro indicador de organização, articulação e debate crítico. Nosso estudo partiu de um olhar sobre o processo cineclubista na São Paulo do nacional-desenvolvimentismo do final da década de 1950 e começo da seguinte, período do Curso de Dirigentes para Cineclubes, das mostras especiais com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e com a Bienal de São Paulo. É o momento das visitas de Henri Langlois, Lotte Eisner, Georges Sadoul, marcado pelo crescimento da atividade do cineclubismo. Em particular, nos detemos sobre este processo ao verificar a publicação do organizador da cultura cineclubística Carlos Vieira nas revistas Imagem, Celulóide e Filme, de Portugal, entre 1960 e 1966. O envio de textos ou notícias sobre cineclubismo e cinema brasileiro – além da organização de segmento do número 47 de Celulóide sobre crítica cinematográfica brasileira, de julho de 1961 – é a principal tarefa que Carlos Vieira desempenha. Há a repercussão do clima de novidade que marcou o ano de 1959 e 1960 na crítica especializada no Brasil. Registra-se, além de Vieira, a presença de textos de Walter Hugo Khouri, de Salles Gomes, de Almeida Salles, de David Neves, Rubens Francisco Lucchetti, entre outros críticos e realizadores.
    Todavia, é o criador de cineclubes Carlos Vieira quem leva os diagnósticos abordados nesta comunicação. Inicialmente, há a publicação de dois artigos na revista Imagem (2a série), nos números 13 e 23, em 1955 e 1958: “A Situação dos Cine-clubes no Brasil”. Em Filme, comparece com a sua “Carta do Brasil” no número 21, de agosto de 1960. Entretanto, o período é claramente demarcado pela presença de Vieira em Celulóide, segundo um desenho histórico abordado: primeiro, ele traça o panorama do cineclubismo no Brasil nos números 13 e 22, de janeiro e outubro de 1959; depois, traça um quadro da crítica com a apresentação do dossiê com brasileiros no número 47 de 1961, após a Convenção de São Paulo; ao final, alguns anos depois, elabora uma “tentativa de análise” do cinema brasileiro já sob o impacto do Cinema Novo, em 1965, no número 65. A presença do cineclubismo ainda persiste no ano seguinte com notícias das jornadas de curtas-metragens brasileiras do período e com artigos breves sobre Gonzaga e Mauro, mas também apresenta o final do processo que, como em muitas outras atividades culturais organizadas, terá suas potencialidades afetadas com a Ditadura de 1964 plenamente instalada. Os tempos já são outros.

Bibliografia

    CUNHA, Paulo. Uma nova história do novo cinema português. Lisboa: Le monde diplomatique; Outro Modo Edições, 2018.
    CUNHA, Paulo e PENAFRIA, Manuela. A Crítica dos cineclubes em Portugal: o caso do boletim do cineclube de Guimarães (1959-60). In.: CUNHA, Paulo e PENAFRIA, Manuela. Crítica de cinema. Reflexões sobre um discurso. Covilhã: LabCom -UBI, 2017.
    GOMES, Regina. O cinema brasileiro em Portugal (1960-1999). Uma análise crítica de filmes brasileiros. Salvador: EDUFBA, 2015.
    GRANJA, P. J. Cineclubes e cinefilia: entre a cultura de massas e a cultura de elites. Estudos Do Século XX, 7, p. 361-384, Coimbra: CEISXX, 2001
    HENRY, Christel. A cidade das flores: Para uma recepção cultural em Portugal do cinema neo-realista italiano como metáfora possível de uma ausência. Coimbra: Fundação Calouste Gulkenkian; FCT, 2006.
    MALUSÁ, Vivian. Católicos e cinema na capital paulista. Dissertação (Mestrado em Multimeios), Instituto de Artes, Universidade de Campinas,