Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Paula Nogueira Ramos (UNIFESP)

Minicurrículo

    Pesquisadora dedicada às práticas artísticas e acadêmicas. Professora no curso de Rádio e TV da FMU e pós-doutoranda em História da Arte na UNIFESP desde 2025. É doutora em Arquitetura pela FAUUSP, mestre em História da Arte Contemporânea pela UCM (Madri) e graduada em Midialogia pela UNICAMP. É diretora de fotografia e colabora com artistas da dança e da performance produzindo trabalhos em vídeo e fotografia.

Ficha do Trabalho

Título

    Contra-confinamentos: fabulação e performatividade nas obras de Grace Passô, Ana Pi e Jota Mombaça

Resumo

    A comunicação analisará obras audiovisuais e performativas de Grace Passô, Jota Mombaça e Ana Pi realizadas nos primeiros meses da pandemia de covid-19, sob a perspectiva do contra-confinamento. A hipótese é que, ao vivenciarem a quarentena imposta pela crise sanitária, as artistas complexificam a noção de confinamento a partir de fugas fabuladas. Por meio da radicalidade de seus processos criativos, as obras extrapolam a experiência da pandemia, desafiando estruturas sociopolíticas brasileiras.

Resumo expandido

    Analisaremos trabalhos audiovisuais de três artistas brasileiras, Grace Passô, Jota Mombaça e Ana Pi, comissionados pelo Programa Convida do Instituto Moreira Salles nos primeiros meses da pandemia de covid-19. Em 2020, o Brasil enfrentava uma situação política complexa sob o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Esse cenário sociopolítico se manifesta, ainda que de forma indireta, e compõe uma camada significativa na construção dessas obras. As tentativas de escape da situação-limite são exploradas por meio de fabulações, “tensionando a impossibilidade de acreditar neste lugar em que estávamos situados” (PASSÔ, 2021). Como ponto de partida, questiono: de que maneira as dinâmicas restritivas da quarentena estabelecem um paralelo com questões sociopolíticas que estruturam a sociedade brasileira?

    Os três filmes apresentam séries de camadas que expõem, pela radicalidade formal, outras maneiras de lidar com as questões que permeavam o momento, criando gramáticas de fuga dentro e fora dos filmes. Em República (2020), de Grace Passô, os atos são encenados e desvelados de forma que realidade e ficção se confundem. O sonho indígena, central para a narrativa, sugere a inexistência do território Brasil tal como acreditamos que foi concebido, insinuando o fim da República como possibilidade de reinvenção do país. Jota Mombaça (2021), por sua vez, discute a Era do Lockdown como um período que se arrasta desde 2017, marcado por um contexto de perseguição. Em O que não tem espaço está em todo lugar (2020), a artista sobrepõe imagens de viagens na tela, em contraste com as fotografias captadas em seu quarto em Berlin. Áudios de trocas de mensagens são ouvidos em off, em inglês e corró, abordando aspectos íntimos das diversas tentativas de sobrevivência. Já Ana Pi traça um jogo entre a experiência vivida e inquietações especulativas, em que a mobilidade é fundamental para a compreensão da própria existência. Em Instituição_Intuição (2020), Pi expõe na tela do vídeo um tabuleiro composto por nove quadrados em que aparece em diferentes situações, enquanto em off, ouvimos o que parece ser uma conversa por videochamada.

    O objetivo da comunicação é analisar como as performances das artistas fabulam modos de resistência ao confinamento por meio da forma fílmica. A hipótese é que, ao vivenciarem a quarentena imposta pela crise sanitária mundial, as artistas tensionam a noção de confinamento por meio de radicalidades estéticas, extrapolando a experiência da pandemia e desafiando estruturas sociopolíticas. Os trabalhos colapsam as tentativas de captura das imagens pelos espectadores, exploram a fuga e refundam possibilidades de existência em territórios demarcados por constrangimentos e violências.

Bibliografia

    FREITAS, Kênia; BARROS, Laan. Experiência estética, alteridade e fabulação no cinema negro. Revista Eco-Pós, Rio de Janeiro, v. 21, n.3, 2018, pp. 97-121.

    HARTMAN, Saidiya. Vidas rebeldes, belos experimentos: histórias íntimas de meninas desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radicais. Tradução de Floresta. São Paulo: Fósforo, 2022.

    HARTMAN, Saidiya. Vênus em dois atos. Tradução de Fernanda Silve e Sousa e Marcelo R. S. Ribeiro. Revista Eco-Pós, Rio de Janeiro, v. 23, n.3, 2020, pp. 12-33.

    MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

    MOMBAÇA, Jota. “Você consegue soar como 2000?” Tradução de Jess Oliveira e Bruna Barros. In: OSE, Elvira Dyangani (ed.). Faz escuro mas eu canto: Catálogo 34ª Bienal de São Paulo. Fundação Bienal de São Paulo: São Paulo, 2021, pp. 114-118.

    PASSÔ, Grace. IMS Convida para conversar: live com Grace Passô, Érica Malunguinho e Malu Avelar. YouTube, 23 de agosto de 2021.