Ficha do Proponente
Proponente
- Ana Paula Bragaglia (UFSC)
Minicurrículo
- Professora do Curso de Cinema (Departartamento de Artes) da UFSC, desde fevereiro de 2023. Até 2022, professora da UFF, no Curso de Comunicação Social e no Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano. Líder do grupo de pesquisa ESC – Ética (para além) da Sociedade de Consumo. Coordenadora do projeto de extensão Contraplano: repensando o consumo através do Cinema. Autora e organizadora de livros e outros textos. CV: https://lattes.cnpq.br/2542584687169854. E-mail: ana.paula.bragaglia@ufsc.br.
Ficha do Trabalho
Título
- Políticas públicas do cinema indígena em Florianópolis e região: um cenário em expansão?
Resumo
- Esta pesquisa investiga que políticas públicas do audiovisual tem sido realizadas para que, especificamente, povos indígenas historicamente constituintes do território da Grande Florianópolis (SC) utilizem o Cinema em suas lutas pela preservação de suas existências e culturas. A metodologia principal do estudo será a pesquisa documental em textos legais-normativos de nível nacional, estadual e municipal, e a revisão bibliográfica sobre questões indígenas no país e na região.
Resumo expandido
- A despeito de retrocessos à Cultura, o audiovisual brasileiro ocupa “lugar de distinção e prestígio nas políticas públicas” de incentivo em “relação aos seus congêneres culturais (…) seja na dimensão orçamentária, regulatória e ou de representação institucional” (BAHIA, 2023, p. 29). O cinema catarinense também foi beneficiado por tais regulações nacionais (ANCINE, SAV, Lei Rouanet, Lei do Audiovisual, FSA, Leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo). (BAHIA, 2012; 2023). Ilustra isso o alto número de discentes e egressas/os do Curso de Cinema da UFSC contemplados no Edital Paulo Gustavo em 2023 (mais de 16 filmes). Políticas públicas regionais e locais do audiovisual no estado e em Florianópolis como a Fundação Catarinense de Cultura (FCC) – com o Prêmio Catarinense de Cinema -, e o Fundo Municipal de Cinema (FUNCINE) também contribuíram para que o setor crescesse, em 2021, 429% em 10 anos (LINS et. al, 2022). Tão marcante quanto a expansão do cinema catarinense é a presença histórica de povos indígenas em Santa Catarina e na Grande Florianópolis. São cerca de 21 mil indígenas em Santa Catarina, sendo predominantes as etnias Guarani, Kaingang e Xokleng. Florianópolis e região, segundo dados do IBGE de 2022, contam com 1.855 indígenas, número superado no estado apenas por Ipuaçu e Chapecó (MARQUARDT, 2024) No total, os indígenas equivalem a 0,84% (cerca de 1,7 milhão de pessoas) do total da população brasileira. (VELASCO, 2022) Para quem reconhece que sua ancestralidade é também indígena, além de afrodiaspórica, a necessidade de preservação e enaltecimento destes povos é inquestionável. Tal sentimento se torna imperativo quando confrontado com estatísticas históricas de que há 12 mil anos antes da vinda dos colonizadores portugueses já havia indígenas no país e que, no século XVI, estimava-se em cerca de 2,4 milhões a população indígena brasileira (enquanto já em 1998, este número reduziu para pouco mais de 300 mil). (VELASCO, 2022) Diante destes constantes cenários de ameaça e frente à expansão nacional e catarinense do Cinema, este trabalho busca investigar que políticas públicas do audiovisual tem sido realizadas para que, especificamente, povos indígenas historicamente constituintes do território da Grande Florianópolis (SC) utilizem o Cinema em suas lutas pela preservação de suas existências e culturas. Ações afirmativas mais amplas voltadas ao público indígena já se destacam em Santa Catarina. Exemplo disso é a inclusão dos povos indígenas nas políticas de ação afirmativa na UFSC: das 47,5% vagas em cada curso de graduação para estudantes do ensino médio público, 6% são reservadas também para indígenas, juntamente a pretos e pardos. (UFSC DIVERSIFICA, 2023) Como um dos desdobramentos destas ações, a graduação em Cinema na UFSC conta atualmente com 4 alunos indígenas regulamente matriculados e 1 egresso, Ítalo Mongconãnn, do povo Laklãnõ/Xokleng, que foi o primeiro estudante indígena do curso. Seu documentário “Resistir: Vários povos, uma só luta”, foi criado justamente para contestar comentários preconceituosos à criação do curso de “Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica” na UFSC, tais como: “Esse curso ensina a caçar capivara e fazer cocar” e “Esses índios aí são todos falsos, querem viver às custas do governo”. Outras obras exemplificam a expansão da cena audiovisual de povos indígenas catarinenses: “Só nos últimos dois anos, foram lançados filmes como ‘Maloca Nossa Luta’, ‘Aqui Onde Tudo Acaba’ e ‘Vãnh gõ tõ Laklãnõ’ em Santa Catarina”. (SCHWEITZER, 2024) Estes e outros filmes indígenas e as políticas públicas para o seu incentivo podem levar a mudar o discurso de que justamente quem mais preserva a humanidade é uma “sub-humanidade”. “Caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes”, essa “gente que fica agarrada na terra” (KRENAK, 2019, p. 21), precisa ganhar cada vez mais as telas, ao contrário de porta-vozes do capital e do consumo, que são os principais responsáveis pela devastação da vida em nosso planeta.
Bibliografia
- BAHIA, L. Discursos, políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2012.
BAHIA, L. Políticas públicas para o cinema e audiovisual em três atos. Espirales, Foz do Iguaçu, 2023.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2019.
LINS et. al. Retratos do Audiovisual Catarinense. UFSC, 2022.
MARQUARDT, H. Governo de Santa Catarina busca fortalecer políticas públicas para mais de 21 mil indígenas que residem no estado. SSA/SC. 19/4/24. Disponível em: https://www.sas.sc.gov.br. Acesso em: 3/3/25.
SCHWEITZER, L. Povos indígenas conquistam espaço no audiovisual catarinense. 11/01/24. 2024. Disponível em: https://cotidiano.sites.ufsc.br. Acesso em: 5/3/25.
UFSC DIVERSIFICA. Cotas na UFSC. 13 jan. 2023. Disponível em: https://diversifica.ufsc.br. Acesso em: 5/4/25.
VELASCO, C. et al. G1. Censo do IBGE: Brasil tem 1,7 milhão de indígenas. 7/8/23. Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso