Ficha do Proponente
Proponente
- Elizabeth Motta Jacob (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutora Teatro UNIRIO; Mestre Comunicação Social UFF; DEA Université de Paris I Pantheon Sorbonne; Coordenadora do PPGAC/ECO/UFRJ, Professora Curso de Comunicação Visual, EBA/UFRJ. Implantou a Pós-graduação em Direção de Arte na UNESA. Professora convidada pela Escuela Internacional de Cine e Tv, Cuba. Trabalhou no The Survivors of the Shoah Archives de Steven Spielberg, documentários disponibilizados no Museu do Holocausto. Trabalhou para diversas emissoras de televisão no Brasil e no exterior.
Ficha do Trabalho
Título
- Chef’s table: visualidade háptica e experiencia vicária ou Porque me apaixonei por ele?
Seminário
- Estética e Teoria da Direção de Arte Audiovisual
Resumo
- Este artigo busca entender o uso da visualidade háptica na série documental Chef’s table como meio de reproduzir a experiência gastronômica em sua transmutação em imagem. Busco entender como a direção de arte, não creditada neste produto, aparece na sistematização dos mecanismos de produção imagem que atravessam os episódios da temporada, da gramatica que organiza a visualidade do filme, da construção de atmosferas e do estabelecimento de sua potencia imagética.
Resumo expandido
- Analisaremos a criação da visualidade háptica na série documental Chef’s table, cujos episódios tratam da trajetória de um chef alçado a condição de artista. A alta gastronomia tornou-se arte e os restaurantes desta categoria se propõem a ser imersivos, oferecer iluminação dramática e uma narrativa através dos menus degustação. Consideramos que no cinema e nestes restaurantes, comensais e espectadores, sofrem provocações sensório motoras e sinestésicas promovidas por imagens, sons, corpos vivos e corpos mortos. Hoje, os filmes são visualizados por meios de diferentes dispositivos, não sendo a sala de cinema seu maior agente difusor. Ao mesmo tempo, restaurantes tratam a permanência e o consumo em seus espaços como experiencia. Se vimos acima que alguns princípios que ordenam a vivencia de ir ao cinema também se impõem nesses restaurantes, a apropriação da noção de experiencia, talvez seja seu maior agenciador. Se convencionou chamar de experiencia cinematográfica o procedimento de assistir um filme no cinema, englobando a obra, o ambiente, as sensações e a vivências associadas a atividade. Considera-se que estes princípios transbordaram para a comensalidade através da alta gastronomia. De outro lado consideramos a generalização da midiatização da ida ao restaurante como propagador da noção de experiencia, atravessada por fotos e postagem nas redes sociais.
Chef’s table se propõe trazer, para um público amplo, a experiencia de desfrutar de um restaurante de alta gastronomia, consagrando tais ambientes enquanto espaços de partilha, quando, na verdade, se tratam de universos exclusivos, de afirmação da cultura da elite. contribuído fortemente na ratificação de valores por esta classe construídos. Me interessa entender os mecanismos empregados pela série para lograr transmitir para o espectador a sensação de experimentar um restaurante através da imagem.
A série apresenta a narrativa de um chef sobre sua trajetória, complementada por entrevistas com especialistas que a ratificam e a glamourizam. Me interessa o episódio sobre Grant Achatz. Logo o espectador vê a fachada neutra do restaurante sem letreiro pois, quem ali vai, sabe para onde se encaminha. Um longo corredor vermelho desfaz-se com a abertura de porta lateral que revela o salão, dá-se assim um movimento imersivo. A comida é apresentada em 4 situações distintas: no seu fazer; na montagem dos pratos; no serviço e degustação pelos clientes; e, em sua apresentação final. Em cada uma destas partes valoriza-se o desejo de emocionar e de proporcionar prazer estético nos comensais. Mas como garantir a permanência destas sensações com a passagem de uma experiencia presencial para a imagem? A resposta está na construção de uma visualidade háptica. Este tipo de imagem induz um espaço e um modo de percepção mais tátil do que visual, clama por uma percepção próxima, funcionando como uma forma de contato. Através de enquadramentos particulares, o olhar foca na superfície, nos detalhes. A câmera se aproxima do prato, dos elementos que o compõem, a câmera lenta estende a ação que incide sobre estes. Na cozinha se dão cenas em proximidade com os ingredientes, com as mãos que trabalham, capazes de gerar visualidade háptica. Os pratos finalizados são apresentados na série sobre fundo preto, iluminação precisa, grande efeito cênico, como é frequente em livros de culinária autoral. A direção de arte neste produto passa pela sistematização da imagem que atravessa todos os episódios da temporada, sua atmosfera, sua gramatica que organiza a visualidade do filme e que estabelece sua potencia imagética. O léxico é preciso e conduz o espectador experimentar sete pecados capitais: a avareza de querer para si a experiencia gastronômica, a Ira de não ser um dos comensais, a inveja daqueles que alí saboreiam; a luxúria de se imaginar entregue às dimensões de prazer, a soberba de esnobar a experiência, a preguiça em satisfazer seus desejos e a gula insaciada pela experiencia promovida ser vicária.
Bibliografia
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