Ficha do Proponente
Proponente
- Ana Carolina Chaga (UAM)
Minicurrículo
- Graduada em Comunicação Social – Cinema e Audiovisual (UAM), Mestre e doutoranda em Comunicação (PPGCOM – UAM). Faz parte do corpo editorial da Insólita – Revista Brasileira de Estudos Interdisciplinares do Insólito, da Fantasia e do Imaginário. Temas de interesse de pesquisa: gêneros cinematográficos; ficção científica; narrativa seriada.
Ficha do Trabalho
Título
- De Capitão 7 a 3% e além: notas sobre a ficção seriada científica brasileira.
Resumo
- A ficção científica no audiovisual brasileiro é mais estudada no cinema que na televisão, sendo que muitas análises se limitam à série “3%” (Netflix, 2016-2020). Este trabalho propõe traçar um panorama histórico do gênero na ficção seriada nacional, desde os anos 1950 até o streaming atual. Além de uma cronologia, busca-se identificar padrões e elementos recorrentes, preenchendo uma lacuna acadêmica e expandindo a compreensão sobre esse tipo de narrativa no contexto televisivo do Brasil.
Resumo expandido
- Este trabalho, fruto da pesquisa de doutorado em andamento da autora, busca traçar um panorama da ficção científica seriada brasileira – um campo de estudos relativamente inexplorado na academia, frequentemente focado na análise da série “3%” da Netflix. O objetivo é mapear historicamente essas produções, desde os anos 1950, com o início da televisão no Brasil, até as atuais plataformas de streaming. Busca-se identificar padrões temáticos, estilísticos e narrativos que revelem tendências do gênero no contexto brasileiro.
A ficção científica brasileira incorpora elementos do realismo mágico e fantástico, refletindo a tradição latino-americana de ficção especulativa, diferentemente do modelo hollywoodiano tecnológico. No entanto, o gênero sempre foi adaptado à nossa realidade desde o início da televisão no país.
A pesquisa destaca algumas produções significativas como os seriados: “Capitão 7” (Record, 1954-1966), “Tarcísio & Glória” (Globo, 1988), “O Sistema” (Globo, 2007) e “A Fórmula” (Globo, 2017). Além da série animada “As Aventuras de Fujiwara Manchester” (Cultura, 2017) e as produções feitas para o streaming “A Todo Vapor!” (Amazon Prime Video, 2020), “Onisciente” (Netflix, 2020) e “Mila no Multiverso” (Disney+, 2023).
A série “3%” (Netflix, 2016-2020), criada por Pedro Aguilera a partir de um piloto independente no Youtube em 2011, representa o auge do reconhecimento internacional da ficção científica seriada brasileira. Amanda FERREIRA (2018), em sua dissertação de mestrado, aponta a série como uma distopia de cultura de massa, com a presença de temas como segregação social, meritocracia e controle de poder. A série é ambientada em um Brasil dividido entre dois territórios: o Continente, um lugar miserável e o Maralto, lugar considerado um paraíso, onde apenas 3% dos jovens conseguem ascender. A série dialoga com outras obras distópicas como “Jogos Vorazes” e seu sucesso reside na forma como navega por referências clássicas do gênero, refletindo sobre temas contemporâneos brasileiros.
Mas vale lembrar que elementos de ficção científica apareceram pontualmente em outros gêneros da ficção seriada, como nas telenovelas “Redenção” (1966), “Os Diabólicos” (1968) e “Os estranhos” (1969) – todas da extinta TV Excelsior. Já “O Clone” (Globo, 2001), com sua temática de clonagem humana, é apontado como o maior sucesso de ficção científica na televisão brasileira.
Para construir essa análise, a definição de ficção científica foi baseada na proposta desenvolvida por Alfredo SUPPIA (2007; 2013), utilizando o conceito de “novum” – que ele apropriou de Darko SUVIN (1980). Já a análise de Jason MITTELL (2015) sobre a poética da televisão complexa é aplicada ao estudo da evolução narrativa dessas séries brasileiras, observando a construção de mundos ficcionais (conceito abordado também por Maria Immacolata Vassallo de LOPES [2019]), o desenvolvimento de personagens e a utilização de elementos seriais ao longo do tempo. Já a perspectiva de Jeremy BUTLER (2010) sobre o estilo televisivo enriquece a análise, investigando o uso de recursos visuais e sonoros específicos do gênero em diferentes épocas da televisão brasileira, e como esses elementos contribuem para a construção do “novum” e para a experiência do espectador. A menção de BUTLER a métodos como a semiótica e a estilometria oferece ferramentas para uma análise mais aprofundada dos elementos estilísticos dessas produções. Observando essas séries de diferentes períodos nota-se um padrão de influência de produções estrangeiras e uma fusão de gêneros; a exploração de temas distópicos; uma reflexão sobre o contexto brasileiro e uma tentativa de criar uma identidade própria.
Em suma, esse trabalho busca preencher uma lacuna nos estudos audiovisuais brasileiros, oferecendo um panorama inicial e fundamental da ficção científica seriada no país, com o potencial de revelar as particularidades e a evolução desse gênero no contexto cultural brasileiro.
Bibliografia
- BUTLER, J. G. Television Style. New York: Routledge, 2010.
LOPES, Maria I. V. de (org.). A Construção de Mundos na Ficção Televisiva Brasileira. Porto Alegre: Sulina, 2019. (Coleção Teledramaturgia; v. 6)
MITTELL, J. Complex TV: The Poetics of Contemporary Television Storytelling. Nova York e Londres: New York University Press, 2015.
SANTOS, A. F. Distopia na cultura de massa: Netflix e a série 3%. [Dissertação de Mestrado]. Guarulhos, SP: Unifesp, 2018.
SUPPIA, A. L. de O. Atmosfera rarefeita: a ficção científica no cinema brasileiro. SP: Devir, 2013.
SUPPIA, A. L. de O. Limite de alerta! Ficção cientifica em atmosfera rarefeita: uma introdução ao estudo da FC no cinema brasileiro e em algumas cinematografias off-Hollywood. [Tese de Doutorado]. Campinas, SP: Unicamp, 2007.