Ficha do Proponente
Proponente
- Érico Oliveira de Araújo Lima (UFMG)
Minicurrículo
- Érico Oliveira é professor do Departamento de Comunicação Social da UFMG, onde integra os grupos: Poéticas da Experiência e Corisco. Doutor (UFF) e mestre (UFC) em Comunicação Social. Foi professor de Audiovisual no Centro Cultural Bom Jardim, em Fortaleza. Fez parte da equipe pedagógica do Curso em Comunicação Social para Assentadas e Assentados da Reforma Agrária – Jornalismo da Terra (UFC/Pronera). Pesquisa cinemas e práticas moradoras.
Ficha do Trabalho
Título
- Pedagogias do necessário: audiovisual e educação no Grande Bom Jardim
Seminário
- Cinemas, Comunidades, Territórios: interpelações aos gestos analíticos
Resumo
- Esta comunicação costura relatos e indagações sobre os laços entre audiovisual, educação e território. Operamos a partir da atuação no eixo de formação básica em Audiovisual da Escola de Cultura e Artes do Centro Cultural Bom Jardim, englobando: ações em sala de aula, filmes gerados, vivências no território e projeto político-pedagógico da Escola. Nosso fio condutor será uma cena: quando um dos estudantes sublinhou o sentido de “necessário” na compreensão sobre a palavra “básico”.
Resumo expandido
- Foi no dia de apresentação dos Cursos Básicos de Audiovisual da Escola de Cultura e Artes do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ). A turma da manhã (com idades entre 11 e 14 anos) foi perguntada sobre os sentidos possíveis da palavra “básico”. Um dos estudantes, Lucas Kaleb, respondeu prontamente: “é o necessário!”.
Essa cena repercutiu em diversas ocasiões de nossos planejamentos, aulas e semanas pedagógicas. Farei esta comunicação, com o intuito de ecoar a perspectiva do audiovisual como “necessário”, em meio às práticas sociais e artísticas do Centro Cultural Bom Jardim. Tendo sido educador da turma de Kaleb e de outras na Escola de Cultura e Artes do CCBJ, estive implicado nos movimentos pedagógicos do território, em meio a um coletivo amplo – destaco as parcerias com Rúbia Mércia (coordenação pedagógica do Programa de Audiovisual), Nayana Santos (assistência pedagógica do Programa) e Joaquim Araújo (coordenador pedagógico da Escola).
A atuação de toda a comunidade escolar é alimentada pela perspectiva das Encruzas, contida no projeto político-pedagógico da Escola (2022), feito em estreito diálogo com profissionais em atuação no espaço, estudantes e comunidades do Grande Bom Jardim. As encruzas orientam práticas pedagógicas em sala de aula, ações transversais entre os diversos Programas da Escola (Acessibilidade, Audiovisual, Cultura Digital, Dança, Música, Teatro) e planejamentos dos ciclos formativos de cada Programa. Tendo ancoragem em diversos pensamentos, com destaque para Leda Martins (2021) e Luiz Rufino (2019), as encruzas, mais do estipularem metodologias, engajam abordagens. Trata-se, sobretudo, como diz um trecho do Projeto Político-Pedagógico, de construir uma formação “em” uma Escola, mais do que “de” uma Escola (2022, p.23), considerando as abordagens nas suas dimensões sempre relacionais e de passagem, fomentadas pela ginga que a Escola pode propiciar para as vivências nela ocorridas.
Essa conjuntura mais ampla fornece uma situação de como eram desenvolvidas as práticas pedagógicas de cada curso organizado no Programa de Audiovisual. Na apresentação, pretendo lidar com uma trama de relações envolvidas nessas atividades. Elas passam por alguns aspectos: as abordagens e vivências em sala de aula; as manifestações dos processos em filmes realizados; as transversalidades entre cinema e território do Grande Bom Jardim; as conexões entre a experiência de sala de aula e a perspectiva das encruzas, que animam e engajam a educação territorializada no CCBJ. Vou tomar como eixo principal as ações formativas dos Cursos Básicos de Longa Duração, mas também considerando-as nas suas íntimas relações com outros três ciclos formativos que constituem as ações da Escola de Cultura e Artes: o ciclo técnico/de extensão, o ciclo dos ateliês e o ciclo dos laboratórios de pesquisa.
Elaborar sobre os cursos básicos nessa trama é também insistir na noção de uma espécie de curso necessário de audiovisual. Trata-se, de um lado, de compreender em que medida o ciclo básico não se produz, simplesmente, como etapa inicial para estudos mais avançados, uma das primeiras consequências que podemos tirar da proposta de Lucas Kaleb em sala de aula. Trata-se ainda de construir com a noção de “necessário” outras figuras pedagógicas e sociais para o audiovisual, articulando-o a processos de vida, de justiça e de elaboração do território.
Vamos, por fim, nos aproximar de provocação já feita por Nêgo Bispo. No seu gesto de semear palavras e de situar-se numa guerra das denominações, ele se afasta de palavras como “importância” e “utilidade”, para propor o valor das relações de necessidade na elaboração de vida entre os sujeitos. “O termo que tem valor para nós é necessário” (SANTOS, 2023, p.24). Tomar as formações em audiovisual – e mais amplamente, em arte e cultura – como necessárias será um horizonte desta apresentação – que, em última instância, liga os processos de educação a práticas de justiça social e epistêmica.
Bibliografia
- ARAÚJO, Joaquim; DI MONTEIRO, Altemar; et al. Projeto Político Pedagógico da Escola de Cultura e Artes do Centro Cultural Bom Jardim. CCBJ: Fortaleza, 2022
hooks, bell. Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança. São Paulo: Elefante, 2021
MARTINS, Leda Maria. Afrografias da Memória. O Reinado do Rosário no Jatobá. Belo Horizonte: Mazza Edições; São Paulo: Editora Perspectiva, 2021
PETIT, Sandra Haydée. Pretagogia: pertencimento, corpo-dança afro ancestral e tradição oral: contribuições do legado africano para a implementação da Lei no 10.639/03. Fortaleza: EdUECE, 2015
RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. Rio de Janeiro: Mórula Editorial, 2019
SANTOS, A. A Terra Dá, a Terra quer. São Paulo: Ubu Editora/Piseagrama, 2023
XAKRIABÁ, Célia. O barro, o genipapo e o giz no fazer epistemológico de autoria Xakriabá: reativação da memória por uma educação territorializada. 2018. 218 f., il. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável). Universidade de Brasília, 2018