Ficha do Proponente
Proponente
- JULIANA VIEIRA COSTA (PUCRS)
Minicurrículo
- Juliana Costa é doutora em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul/PUCRS, e mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Possui pesquisa em cinema e educação, culturas audiovisuais, cineclubismo e cinema e gênero. Integra o grupo de pesquisa Kinepoliticom, do PPGCOM / PUCRS. É coordenadora do Programa de Alfabetização Audiovisual, projeto educativo da Cinemateca Capitólio, programadora e crítica de cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- “Que filmes ver, por que ver, e como ver?”: programação cineclubista como dispositivo opositor
Seminário
- Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil
Resumo
- Partindo do exemplo do cineclube Mate com Angu, esta comunicação vai se debruçar sobre as práticas e ideias dos seus fundadores sobre programação. Considerando as perguntas: “Que filmes ver, por que ver, e como ver?” vamos refletir sobre o gesto da programação coletiva cineclubista e seus desdobramentos como um dispositivo (AGAMBEN, 2009) opositor ao circuito comercial de exibição fílmica e a fruição doméstica, individualizada e algoritimizada do mercado de streamings.
Resumo expandido
- O dispositivo cineclubista nasce em um processo de artificação do cinema, ou seja, processo pelo qual os atores sociais passam a considerar um objeto ou uma atividade como arte onde antes não o faziam, lutando contra um imaginário coletivo fortemente ancorado na indústria. Desta forma, desde o seu advento, o cineclubismo se estabelece como um contra-dispositivo em relação ao dispositivo de mediação industrial, que articula uma comunidade em torno de uma programação de filmes.
Devido ao aparato tecnológico e o acesso às cópias, os cineclubes até as décadas finais do século XX eram marcados por certa institucionalidade, possuindo, de modo geral organização e programação concentrada. Devido à democratização do acesso às mídias digitais e da mobilidade do aparato de exibição, em muitos casos, a organização cineclubista, bem como a programação, se descentralizou e se pulverizou em cineclubes menos institucionalizados, em que todos os integrantes podem ser alçados à condição de programadores (GONRING, 2015, p. 2015). Esta mudança vai intensificar a característica coletiva da atividade, instigando saberes coletivos sobre programação.
Em O Cerol Fininho da Baixada, Heraldo HB discorre sobre as “tecnologias do encontro” (HB, 2013) operadas pela atividade cineclubista na contemporaneidade. Estas tecnologias engendradas pela prática coletiva criam dissensos e negociações em torno das escolhas de programação redistribuem os lugares de sensibilidade e de saberes entre os sujeitos (RANCIÈRE, 2012), emancipando-os em relação às suas decisões estéticas, políticas e discursivas dentro de um circuito cinematográfico ampliado. Desta forma, responder coletivamente as perguntas: Que filmes ver, por que ver, e como ver?” se revela um gesto político através da programação coletiva cineclubista, constituindo o cineclube como um dispositivo (AGAMBEN, 2009) opositor ao circuito comercial de exibição fílmica e a fruição doméstica, individualizada e algoritimizada do mercado de streamings.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo. O que é o contemporâneo e outros ensaios. Chapecó: Editora Argos, 2009.
GONRING, Gabriel Menotti. Cineclubes Piratas: aparatos tradicionais com tecnologia imprópria. Revista FAMECOS, 22(3), 96-109, 2015. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/20590. Acesso em: 15 mar. 2022.
HB, Heraldo. O Cerol Fininho da Baixada: Histórias do cineclube Mate com Angu. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2013.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012.