Ficha do Proponente
Proponente
- Fernanda Rocha Miranda (PUC RJ)
Minicurrículo
- jornalista, roteirista e documentarista com 20 anos de experiência. Pesquisadora, professora e realizadora audiovisual. Doutoranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PUC-Rio), mestre em Comunicação e Estética (UFRJ) e pós-graduada em Filosofia da Arte (PUC-Rio). Atua como docente desde 2012 e desenvolve pesquisas nas áreas de cinema, literatura e educação. Publicou os livros infantiis “O tempo de Dindi e “Dora quer ver o mar”, ministra aulas de roteiro na AIC.
Ficha do Trabalho
Título
- A origem das narrativas: O Surto do Recife e a estética do Super-8 na obra de Geneton Moraes Neto
Resumo
- Este projeto propõe investigar a contracultura no Brasil, centrando-se na produção cinematográfica em Super-8 do jornalista e cineasta Geneton Moraes Neto. A análise de seus filmes experimentais, realizados nas décadas de 1970 e 1980, busca compreender como essas obras refletem as tensões entre o “eu” biográfico e o contexto político-social da época.
Resumo expandido
- A origem das narrativas: O Surto do Recife e a estética do Super-8 na obra de Geneton Moraes Neto
“Não se faz Jornalismo com tédio. Faz-se com devoção. Jornalista existe para levantar – não para derrubar – assuntos.” — Geneton Moraes Neto
Este trabalho investiga a produção cinematográfica em Super-8 do jornalista e cineasta Geneton Moraes Neto como uma via singular de expressão da contracultura no Brasil, especialmente nas décadas de 1970 e 1980. A partir da análise de seus filmes experimentais, realizados no contexto do movimento Surto do Recife, propõe-se compreender como essas obras articulam a dimensão biográfica do autor com as tensões sociais e políticas de um país sob ditadura militar. A proposta parte da hipótese de que o cinema experimental de Geneton, ao conjugar subjetividade, estética marginal e engajamento político, oferece uma leitura própria da contracultura brasileira, distinta das narrativas mais conhecidas produzidas nos grandes centros urbanos.
Jornalista e cineasta, Geneton Moraes Neto atuou como repórter e realizador inquieto, transitando entre o jornalismo e o cinema experimental. Sua produção em Super-8, marcada por traços autobiográficos e ousadia estética, revela um olhar singular sobre o Brasil sob ditadura, e insere sua obra no cerne das discussões sobre contracultura, memória e resistência audiovisual.
O estudo articula os campos do cinema experimental, da biografia e dos estudos da contracultura, tendo como eixo principal a relação entre arte, memória e identidade. Ao resgatar a trajetória de Geneton Moraes Neto no âmbito do Surto do Recife — movimento de jovens realizadores que, fora do eixo Rio-São Paulo, exploravam as possibilidades do Super-8 como forma de expressão artística e política —, a pesquisa valoriza uma produção periférica e ainda pouco investigada no campo acadêmico. Ao mesmo tempo, insere essa produção no debate mais amplo sobre o papel do audiovisual como resistência cultural durante o regime militar.
A investigação propõe ainda uma análise crítica do uso de materiais de arquivo — como diários, registros pessoais e filmes inéditos — que compõem uma narrativa biográfica não-linear, marcada pela subjetividade e pelo afeto. O Super-8, nesse contexto, não é apenas um suporte técnico, mas um instrumento de invenção estética e política, que permitiu o registro de vivências, inquietações e experimentações formais de uma juventude silenciada. Geneton transforma a câmera em extensão do corpo e da memória, construindo um testemunho íntimo que ecoa os impasses coletivos de sua geração.
Ao refletir sobre as formas de narrar a si mesmo e ao seu tempo, o projeto propõe uma reinterpretação da história cultural brasileira por meio de imagens e vozes marginais, que escapam às grandes sínteses históricas. Mais do que um resgate histórico, trata-se de reconfigurar o papel do cineasta como testemunha e agente de sua época, capaz de elaborar, através da linguagem cinematográfica, uma biografia alternativa de um tempo marcado pela repressão.
Dessa forma, o trabalho contribui para a ampliação do repertório crítico sobre o cinema brasileiro e sobre as formas possíveis de resistência estética. Através da lente do Super-8, o projeto lança luz sobre um território simbólico onde a contracultura se fez imagem e gesto de liberdade, e onde Geneton Moraes Neto se inscreve como figura fundamental na construção de uma memória audiovisual insurgente e profundamente comprometida com a invenção.
Bibliografia
- AZOULAY, Ariella Aïsha. Archives: the commons, not the past. In: AZOULAY, Ariella Aïsha. Potential History. London: Verso Books, 2019.
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DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Tradução: Cláudia de Moraes Rego. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.
DERRIDA, Jacques. Rastro e arquivo, imagem e arte. In: MASÓ, Joana; VILA, Javier Bassas; MICHAUD, Ginnete (org.). Pensar em não ver: escritos sobre as artes do visível (1979-2004). Tradução: Marcelo Jacques de Moraes. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012, p. 91–144.