Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Fontanella Ferraz (UAM)

Minicurrículo

    Doutorando e Mestre em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi (SP), com pesquisa sobre as narrativas de horror de Mike Flanagan. Graduado em Produção Audiovisual pela Universidade Metodista de São Paulo (2022). Atua na linha de pesquisa Análises de Produtos Audiovisuais, com interesse nas relações entre literatura, adaptações e o audiovisual de horror contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    Entre o Clássico e o Flanaverso: diálogos intertextuais no horror audiovisual

Resumo

    A partir da pesquisa de mestrado sobre as marcas autorais de Mike Flanagan em A Maldição da Residência Hill, o projeto de doutorado propõe um estudo comparativo entre obras literárias de horror, suas adaptações clássicas e releituras contemporâneas dirigidas por Flanagan. Busca-se compreender como essas adaptações atualizam temas e estéticas do horror, articulando tradição e reinvenção sob a perspectiva do autor-diretor no cenário audiovisual atual.

Resumo expandido

    Este trabalho tem como objetivo apresentar os desdobramentos da pesquisa desenvolvida no Mestrado em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, que investigou as marcas autorais do cineasta Mike Flanagan na série A Maldição da Residência Hill (Netflix, 2018), e discutir os primeiros movimentos da continuação dessa investigação no doutorado, atualmente em desenvolvimento. A dissertação de mestrado, intitulada Estilo e Narrativa em A Maldição da Residência Hill, de Mike Flanagan, analisou a série como uma adaptação livre do romance A Assombração da Casa da Colina (Shirley Jackson, 1959), com foco nas escolhas narrativas, estilísticas e temáticas que revelam a presença de um projeto autoral dentro de um produto seriado mainstream. Em diálogo com teóricos do cinema e da televisão, como Jason Mittell (2012), David Bordwell (2013) e Jeremy Butler (2010), bem como com os estudos do horror, o trabalho propôs compreender como a adaptação se distancia da narrativa original para afirmar um estilo próprio – marcado pela centralidade do drama familiar, pela construção psicológica do medo e pela concepção do horror como instrumento para lidar com traumas, perdas e lutos.
    Dentre as marcas autorais identificadas, destacam-se a reconfiguração de traumas individuais e coletivos a partir do espaço assombrado (a casa como corpo e como memória), o uso de estruturas narrativas fragmentadas – com saltos temporais e múltiplas perspectivas –, o peso da finitude e a recorrente presença de fantasmas que funcionam como metáforas do inconsciente. Esses elementos, articulados de forma consistente com outras obras de Mike Flanagan (tanto anteriores quanto posteriores a esta), compõem o que a Netflix denominou Flanaverso, servindo de ponto de partida para repensar o autor-diretor como figura central na coesão estilística e temática do audiovisual de horror contemporâneo.
    Com base nesses achados, a continuidade da pesquisa, agora no doutorado, propõe aprofundar o olhar sobre o Flanaverso por meio de uma análise comparativa que dialoga entre a literatura, as adaptações clássicas e as releituras contemporâneas. Exemplificando, serão analisadas obras como A Maldição da Residência Hill, A Maldição da Mansão Bly, Doutor Sono, A Queda da Casa de Usher e Missa da Meia-Noite (esta, uma obra original de Flanagan, para efeito comparativo com as demais), permitindo compreender de que modo essas reinterpretações atualizam as narrativas e o próprio horror para novos públicos, com diferentes ênfases narrativas, estéticas e estilísticas. Ademais, a relevância dessa abordagem é evidenciada pela agenda futura de Flanagan, que inclui produções alinhadas a essa categoria – como um novo filme de O Exorcista e uma série baseada em Carrie. Ambas as produções são baseadas em obras literárias consagradas e cujas adaptações audiovisuais já se firmaram no imaginário popular, reforçando a tendência de reinterpretação e reinvenção do horror pelo autor-diretor.
    Ao investigar as estratégias de adaptação empregadas por Flanagan, o estudo examina como o horror contemporâneo opera como um dispositivo para a elaboração de medos coletivos e subjetivos – ancorado na experiência do luto, da perda e dos afetos comunitários – ao mesmo tempo em que dialoga com referências estabelecidas na adaptação de livros e filmes clássicos. As hipóteses preliminares sugerem que, na reinterpretação das narrativas clássicas, Flanagan não apenas reafirma elementos tradicionais do gênero, mas também incorpora dispositivos visuais e narrativos oriundos das adaptações clássicas, criando uma nova leitura dos medos atuais. Essa abordagem possibilita a mescla entre a releitura de obras consagradas na literatura de horror e produções audiovisuais já marcantes na história do cinema, oferecendo assim contribuições teóricas que ampliem o entendimento das novas adaptações e da reinvenção do horror no contexto contemporâneo.

Bibliografia

    BORDWELL, D e THOMPSON, K. A arte do cinema: Uma introdução. Campinas/São Paulo: Editora Unicamp/Edusp, 2013.

    BORDWELL, D. Sobre a história do estilo cinematográfico. Campinas: Editora
    Unicamp, 2013.

    BUTLER, Jeremy G. Television style. Routledge, 2010.

    ESQUENAZI, Jean-Pierre. As séries televisivas. Lisboa: Texto & Grafia, 2011

    MITTELL, Jason. Complexidade narrativa na televisão americana contemporânea. MATRIZes, [S. l.], v. 5, n. 2, p. 29-52, 2012. DOI: 10.11606/issn.1982-8160.v5i2p29-52.

    ROCHA, Simone Maria; FERRARAZ, Rogério. (orgs.) Análise da ficção televisiva:
    metodologias e práticas. Florianópolis, SC: Insular, 2019.

    SERELLE, M. A adaptação como ficção expandida na série contemporânea. MATRIZes, [S. l.], v. 17, n. 1, p. 21-36, 2023. DOI: 10.11606/issn.1982-8160.v17i1p21-6336.

    SILVA, M. V. B. Cultura das séries: forma, contexto e consumo de ficção seriada na contemporaneidade. Galáxia (São Paulo, Online), n. 27, p. 241-252, jun. 2014.