Trabalhos aprovados 2025

Ficha do Proponente

Proponente

    Gabriela Rizo Ferreira (Catu Rizo) (UFF)

Minicurrículo

    Gabriela Rizo (Catu Rizo) é cineasta e educadora. Foi professora colaboradora de Cinema e Audiovisual na Faculdade de Artes do Paraná, FAP-UNESPAR (2022 – 2025). Bacharel em Cinema e Audiovisual e Mestra pelo programa de Cultura e Territorialidades, ambos pela UFF. Diretora dos filmes “Com o terceiro olho na terra da profanação” (2017) e “A terra das muitas águas” (2020); “Memória das águas” (2025) e “Guapi-Macacu, o filme (2025). Faz parte do movimento Baixada Filma.

Ficha do Trabalho

Título

    Processos de criação no cinema baixadense: a experiência do “Guapi-macacu, o filme”

Resumo

    Nesta proposta de comunicação pretende-se realizar uma partilha sobre o processo de criação do longa documental “Guapi-macacu, o filme” realizado pela autora ao longo de quatro anos (2021 – 2025) na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. Compreendendo a singularidade dos modos de produção do cinema baixadense e seu potencial de reinvenção de imaginários, nos interessa partilhar quais são as metodologias que se inventam ao fazer um cinema imbricado no território.

Resumo expandido

    Esta proposição de comunicação pretende realizar uma partilha sobre o processo de criação do longa documental “Guapi-macacu, o filme” realizado pela autora ao longo de quatro anos (2021 – 2025) na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. A obra busca criar uma experiência poética das águas fluminenses, seguindo o fluxo do rio Guapi-Macacu. Para tal, a narrativa embarca em um processo de escuta, encontrando pessoas que habitam e se relacionam com os corpos hídricos da região. Escutar o outro é um gesto fundamental do fazer documental e ainda sim um risco, um tatear, algo que se dá na inteireza dos encontros no presente da filmagem.

    A obra se moveu pela seguinte pergunta: como escutar as histórias dos rios fluminenses, tão esquecidos e apagados do nosso imaginário coletivo? Assim, o filme aposta na possibilidade do cinema de dar a ver e ouvir o tempo de forma espiralar e somos conduzidos em uma jornada que parte da foz do rio – na Baía de Guanabara, para a nascente; num fluxo contracorrente. Ao adentrar no antigo Recôncavo da Guanabara, a narrativa vai revelando uma presença ausente de um passado de importância histórica e social para a compreensão do que hoje entendemos por Baixada Fluminense. Os rios são parte integrante da cultura fluminense; um morador antigo que atravessou um apagamento de sua história e uma invisibilidade das comunidades que o cercam.

    Nesta comunicação interessa investigar as seguintes questões: quais são as metodologias que se inventam ao fazer um cinema imbricado no território? Quais são os modos de realização de um filme que se faz como conceituou Jean-Louis Comolli “sob o risco do real”? Como se faz um filme junto e um filme com, quando personagens não humanos protagonizam a narrativa?

    O cinema aqui é entendido como um trabalho de criação que opera na imaginação e nos sonhos que nos fora negado, possibilitando um acesso a memória ancestral do território Baixada de forte contribuição africana e indígena. Ao deslocamos nosso centro de interesse, imaginação e afeto para a direção contrária do centro do capital e da capital, outra forma estética e ética se apresenta, enquanto parte fundamental do trabalho audiovisual. Assim, fazer cinema baixadense não envolve somente criar narrativas no território, mas elaborar outros modos de produção e de relação entre a prática artística cinematográfica e a vida. “Guapi-macacu, o filme” surge em vizinhança com outras obras que compõem o cinema baixadense e produz comunidades sonhadoras, em que desejos e sonhos alimentam a criação de imagens e sons territorializados no chão que se pisa. O futuro é ancestral como nos diz Ailton Krenak e a práxis cinematográfica quando ancorada na fronteira temporal espiralar que resiste a narrativa linear hegemônica neoliberal do progresso, nos possibilita criar uma memória comunitária viva no agora do mundo.

Bibliografia

    COMOLLI, Jean-Louis. Ver e poder: a inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte : Editora UFMG, 2008.
    GUIMARÃES, César. A estética que vem. In: PICADO, Benjamim (org.). Escritos sobre comunicação e experiência estética: segmentos, regimes, modalidades. Belo Horizonte: PPGCOM/UFMG, 2019, p. 56-76.
    GUZMÁN, Patricio. Filmar o que não se vê: um modo de fazer documentários. São Paulo: Editora Sesc São Paulo, 2017.
    HOOKS, bell. Ensinando comunidade: uma pedagogia da esperança. São Paulo: Elefante, 2021.
    KRENAK, Ailton. O Futuro é ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
    LE GUIN, Ursula Kroeber. A teoria da bolsa da ficção. São Paulo: N-1 Edições,2021.
    MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2021.
    MAXAKALI, Isael. Sem terra não tem cinema. Belo Horizonte, MG: NPGAU, 2024.
    RANCIÈRE, Jacques. Aisthesis: cenas do regime estético da arte. São Paulo: Editora 34, 2021.